Concorrência, competitividade e Liberalização Econômica 

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Vivemos em uma sociedade marcada por grande competição entre os agentes econômicos, os grandes oligopólios globais dominam a grande maioria dos setores da economia contemporânea, definindo valores, modelos produtivos, produção e aumentando os investimentos em inovação e em novos produtos, além do poder econômico encontramos ainda uma grande força política que ao extremo pode gerar graves constrangimentos aos sistemas democráticos dos países e uma fragilização dos governos e dos Estados Nacionais.

Percebemos nesta nova economia grandes grupos econômicos controlando inúmeros setores, desde as grandes traders que dominam o agronegócio internacional até as grandes empresas de tecnologia, que são responsáveis pelas maiores e mais intensas inovações, colocando no mercado global produtos variados e controlando intensamente variados setores, impedindo a entrada de novos personagens nestes mercados e controlando os poucos que tentam competir e sobreviver. Um exemplo claro deste oligopólio global encontramos nos setores de tecnologia, onde destacamos poucas empresas com grande poder econômico e potencial para competir e dominar esta estrutura produtiva, onde destacamos: Amazon, Microsoft, Google, Facebook, Apple, Tencent, Alibaba, Huawei, Lenovo, Samsung, LG, entre outros poucos conglomerados econômicos.

Estas empresas dominam fortemente seus mercados e conseguem escalas altíssimas, com isso, angariam novos consumidores para seus produtos e garantem retornos crescentes, acumulando lucros extraordinários, dentre as empresas destacamos conglomerados que valem nas Bolsas internacionais mais de US$ 1 trilhão, valores estes muito maiores do que o produto interno bruto de muitas economias mundiais, o poder destas instituições é realmente avassalador.

Neste mundo dominado por altas tecnologias, inovação, pesquisa e ciência, estas empresas acumulam grande potencial de crescimento e se distinguem dos conglomerados de outros modelos econômicos pelo grande potencial financeiro e alcance global e, principalmente, pela quantidade de funcionários que estas empresas de tecnologia empregam na atualidade. Se compararmos com as montadoras, empresas de um outro momento tecnológico, os números são assustadores, enquanto uma montadora de grande porte tem mais de 100 mil funcionários, uma empresa de tecnologia emprega em torno de 5% destes números, só aí compreendemos os modelos de emprego e trabalho na chamada Quarta Revolução Industrial, conhecido como a Indústria 4.0.

Quando analisamos estes dados referentes ao emprego, percebemos as mudanças geradas na sociedade contemporânea, que obrigam os trabalhadores a novos estudos, capacitações e qualificações constantes, sem estes conhecimentos estarão renegados a um futuro de degradação e ócio, onde os desequilíbrios sociais tendem a crescer de forma acelerada. Neste momento, muitos indivíduos, intelectuais e políticos e até empresários, começam a se perguntar o que deve acontecer com o mercado de trabalho nos próximos anos? Quais as habilidades demandadas pela economia nas próximas décadas? São perguntam que intrigam os seres humanos e tendem a gerar constrangimentos em todos os setores da sociedade global, as respostas para estas perguntas ainda são desconhecidas e muito marcada por ideologias, deixando de lado uma visão mais científica e estruturada.

O economista norte-americano Lawrence Summers, em entrevista recente na Folha de São Paulo, destacou que a economia internacional está caminhando rapidamente para uma estagnação global, ou seja, para um momento em que o crescimento do sistema tende a diminuir de forma acelerada, criando constrangimentos para todos os setores, reduzindo as perspectivas de crescimento global e reduzindo a geração de emprego e aumentando a exclusão social e as desigualdades. Nestas previsões, o eminente economista destaca que os grandes perdedores desta estagnação são os países em desenvolvimento, que tendem a diminuir o comércio com os países desenvolvidos e reduzir os fluxos de recursos necessários para sua sobrevivência.

Neste ambiente de novas tecnologias, estamos percebendo algumas alterações importantes no universo econômico global, de um lado as novas tecnologias estão impactando sobre o preço das mercadorias, bens e serviços, gerando uma verdadeira redução nos custos e queda nos preços médios, gerando um incremento na renda dos consumidores. A tecnologia crescente está impactando diretamente sobre a inflação, que está caindo em quase todas as regiões do mundo, novas tecnologias, maior produtividade, maior eficiência e preços em queda. De outro lado, muitos destes recursos estão sendo direcionados para o aumento da poupança, muitas famílias estão amedrontadas com a situação econômica, com as novas condições do mercado de trabalho e com a instabilidade e a incerteza global, diante destas incertezas reduzem as compras e deslocam estes recursos para outros investimentos, aplicações financeiras, títulos de governos e de empresas, levando os bancos a manterem grande quantidade de seus recursos com remunerações negativas, temos atualmente mais de US$ 15 trilhões aplicados com retorno negativos, uma situação nova, preocupante e assustadora para o sistema financeiro internacional.

Neste ambiente de grande competição entre os agentes econômicos, a tecnologia está gerando novos desafios para as famílias, de um lado percebemos uma redefinição dos modelos de negócios, novas formas de fazer produtos e mercadorias, o surgimento de novos materiais com redução dos custos e incremento de produtividade, obrigando os atores econômicos a se reinventar, adotarem novas técnicas e modelos produtivos, sob pena de serem destroçados do mercado e serem comprados pelos concorrentes, criando com isto um mercado mais concentrado e mais oligopolizado.

Poucas pessoas imaginariam que, num determinado momento, as plataformas de Streaming iriam revolucionar as emissoras de rádio e de televisão e as obrigariam a alterar seus modelos de negócios. O surgimento da Netflix gerou uma verdadeira revolução nos mercados, trazendo ganhos consideráveis para os consumidores, reduzindo custos e aumentando a eficiência, mas acabou gerando uma redução nos empregos tanto diretos quanto indiretos. Os novos modelos de negócios estão exigindo alta capacitação dos gestores, obrigando os trabalhadores a novos cursos e qualificações, esta capacitação não se encontra apenas nas escolas, nas universidades e nas faculdades instaladas, mas na própria internet e em aplicativos com palestras e tutoriais falando sobre o tema e capacitando os indivíduos para estes novos conhecimentos. Estes novos modelos de negócios estão exigindo que as escolas e universidades passem a se reinventar, criando novos cursos, workshop, MBAs, especializações, sem estas novas ofertas estas instituições tendem a desaparecer ou ser absorvidas pelos concorrentes mais eficientes.

Os modelos de negócios criados por estas empresas de tecnologia se caracterizam por grande agilidade e rapidez, são marcados por alta flexibilidade e agilidade, estas habilidades são exigidas dos trabalhadores contemporâneos, com isso, os trabalhadores mais antigos apresentam grandes dificuldades de adaptação para estes mercados e para estas exigências, muitas vezes perdem espaço para outros trabalhadores, indivíduos mais jovens e, muitas vezes, mais aptos para estas transformações. Muitas pessoas com idades mais maduras são preteridas nos mercados por trabalhadores mais jovens, este movimento deve ser visto com bastante atenção pelos governos e pela sociedade, como a tecnologia está impactando fortemente na área da saúde e aumentando a longevidade dos cidadãos, temos que nos conscientizar de que precisamos criar empregos para os mais velhos e experientes que, na contemporaneidade, estão vivendo mais e desejam maior qualidade de vida.

Esta nova tecnologia deve ser muito bem compreendida, não podemos deixar estas transformações de lado, são novos materiais que impactam diretamente na produtividade, com redução nos custos e aumento da produtividade, mas é importante destacar ainda, que novas tecnologias acabam gerando novas exigências para a sociedade, com mudanças intensas todos somos levados a novas atualizações, abrindo novos horizontes e oportunidades. Destroem uma sociedade e se constroem outras, como características comuns destas revoluções temos novos modelos de negócios e modelos de emprego, onde os que não se adaptam são relegados ao esquecimento, muitas vezes esquecidos e deixados de lado pela sociedade, neste caso são acolhidos por instituições religiosas ou entram nas fileiras da assistência social do Estado Nacional.

Neste ambiente de liberalização econômica proposto pelo Ministro da Economia Paulo Guedes, temos que tomar muito cuidado com os impactos desta liberalização, muitas empresas nacionais apresentam grandes dificuldades de sobrevivência em um ambiente mais concorrencial devido a forte dependência do Estado Nacional, dependência esta construída depois de anos de políticas protecionistas e intervencionistas, onde o Estado Brasileiro chamou para si a responsabilidade pelo crescimento industrial, criando as bases para a construção de um parque produtivo nacional, sem estes recursos não teríamos uma industrialização já que os recursos demandados para o investimento eram proibitivos para os grupos econômicos nacionais.

Depois de anos de proteção, começamos a desestatização com o presidente Fernando Collor de Mello, mas a dependência era tamanha dos recursos estatais, que o governo participou ativamente das políticas de privatização, canalizando recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou com os fundos de pensão dos grandes grupos estatais, principalmente Previ e Petrus. A retirada destas instituições possivelmente levaria a economia a um processo forte de desnacionalização, onde os países desenvolvidos seriam, possivelmente, os grandes compradores destas instituições, estas políticas devem ser repensadas e muitas vezes alteradas pelo governo federal, sob pena de ver nosso capitalismo ser todo dominado por empresas estrangeiras.

O grande problema do capitalismo brasileiro é que se construiu empresas privadas altamente dependentes do Estado Nacional, estes conglomerados muitas vezes não conseguiam incrementos de produtividade para competir em ambientes mais concorrenciais, com isso, inviabilizavam toda e qualquer discussão sobre abertura econômica. Em alguns momentos, quando os governos tentavam abrir a estrutura econômico, foram muito criticados pelos setores industrial e pela mídia, que viam nesta abertura graves impactos sociais, com aumento no desemprego e uma piora dos indicadores econômicos, levando os governos a reverterem as medidas liberalizantes, sob pena de perder forças políticas e governabilidade, como aconteceu no período Fernando Collor de Mello.

Num momento de economia em lentíssima recuperação econômica, onde encontramos mais de vinte oito milhões de brasileiros desempregados, subempregados ou na informalidade, precisamos urgentemente de um projeto de país para os próximos anos, a liberalização é uma medida que traz benefícios para os grupos dominantes e se esquecem fortemente dos grupos mais fragilizados, sem um projeto consistente e inclusiva vamos continuar ensaiando uma melhora econômica inexistente, vamos continuar comemorando espasmos de recuperação ilusória e vamos continuar enchendo os bolsos dos poucos privilegiados e destruindo a vida de milhões de brasileiros anônimos, sem voz, sem emprego, sem proteção e sem dignidade, até quando vamos repetir estes erros numa sociedade que a pouco era vista como o país do futuro.