Educação e Economia para o mundo contemporâneo

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A economia mundial nos últimos anos está cada vez mais centrado nas questões utilitaristas, criando necessidades nos indivíduos diretamente ligadas ao consumo de bens, serviços e mercadorias, criando novos interesses cotidianos e desejos imediatos. Neste momento da contemporaneidade, deixamos de lado o planejamento da vida e da organização das relações sociais, somos cada vez mais direcionados e estruturados dentro das noções daquele que chamamos de mercado, agentes que dominam o mundo contemporâneo, controlando os recursos financeiros, materiais e monetários, o poder político, os gostos e comportamentos, transformando os indivíduos em marionetes de grandes econômicos e políticos, dotados de grande força de convencimento e de dominação.

Na sociedade mundial, todos os momentos ouvimos discursos bem estruturados e grande capacidade de emoção, estimulando o espírito empreendedor e a visão transformadora, agregadora e de grande potencial de liderança, um discurso imensamente bem sucedido e nos trará um sucesso no mercado, com produtos ou serviços diferenciados. Neste discurso, muitos absorvem este pensamento e conseguem angariar recursos e transformando suas vidas e de todos que convivem com estes, passando a ser exemplo vivo do potencial do empreendedorismo.

A visão dominante está centrada nos valores do utilitarismo e do imediatismo, estes valores estão transformando a educação da contemporaneidade, estamos vivendo um sistema educacional baseado nas apostilas, nos resumos e nas resenhas, como se vivêssemos em uma sociedade onde os especialistas estão estudando as orelhas dos livros, nada de conhecimentos mais elaborados e estruturados, encontramos uma visão mínima dos conhecimentos cotidianos, sem leituras consistentes e olhadas cotidianas nos materiais de autoajuda e romance água com açúcar, sem enredo e sem capacidade de reflexão.

Nesta chamada época do Conhecimento, as escolas estão se esforçando para oferecer mais cursos e mais variados, com valores monetários cada mais acessíveis para rechear os currículos dos profissionais, vários destes cursos devem ser vistos como obscuros e sem importância, vendem apenas diplomas e certificados para garantir alguns parcos salariais, sendo que, na maior parte das empresas estes cursos são desconsiderados como forma de evolução profissional. Nesta sociedade, a educação se torna cada vez mais um grande produto comercializável por empresas de diploma e certificações, sem entender nada de educação, liderados por empreendedores, gestores com visão de liderança e forte capacidade de agregação e ampla capacidade de comunicação, gerando este negócio em espaços altamente lucrativo e rendável, com ações nas Bolsas nacional e internacional, e recursos gigantescos, crescente rapidamente, comprando outras escolas e faculdades, no início nos centros das capitais e, na atualidade, crescem de forma acelerada das escolas e universidades nas cidades do interior, monopolizando e controlando os mercados do chamado conhecimento.

                A economia contemporânea está dominando todos os setores da vida, suas visões estão comandando as mentes e transformando os valores do capital em valores dominantes. A gestão, instrumento criado para organizar as atividades econômicas e sociais da sociedade, vem transformando a sociedade, seus valores estão centrados no imediatismo, no egoísmo e na ganância, estimulando os comportamentos e os sentimentos mais reacionários e negativos dos indivíduos, com isso, percebemos uma sociedade cada vez mais degradante economicamente e marcados pela desigualdade, pela exclusão e pelas violências que espalham para todos os países e nações do mundo, desde os países mais pobres até os países desenvolvidos e industrializados.

A mentalidade dominante da gestão está centrada no imediatismo, as técnicas visam sempre o incremento da rentabilidade, os ganhos materiais, os lucros estratosféricos, recursos que se concentram em uma pequena parte da sociedade, para absorver estas somas abundantes, os grupos mais abastados se utilizam nos grupos intermediários, trabalhadores que estão nas camadas médias da coletividade, pessoas treinadas e remuneradas para sentir e vivem como se fossem parte da elite, infelizmente são apenas capachos dos grupos dominantes, defendem ideias e valores que estão distante de suas vidas, recebem uma remuneração considerável e com estes recursos compram seus valores e seus pensamentos críticos, acabando com sua capacidade reflexiva, defendem uma ideia equivocada e se esquecem dos seus iguais, seus grupos sociais e suas identidades sociais, perpetuando a exploração da sociedade contemporânea.

Nestes grupos encontramos gestores, profissionais liberais, advogados, economistas, administradores, engenheiros, professores, dentre outros, são grupos mais capacitados intelectualmente, ou melhor, pessoas dotados de maiores conhecimentos na sociedade contemporânea, estudam mais que a população e, diante disso, acreditam ser diferentes, mais éticos, conscientes e se veem como pessoas de bem, cultivam um ignorância e hipocrisia inomináveis, com isso, contribuem para a perpetuação das desigualdades sociais e as exclusões e ausência das cidadanias.

As escolas, as universidades e as faculdades estão inseridas neste ambiente, a educação que para muito é um instrumento de ascensão e social e de transformação, perdeu a capacidade de renovação da sociedade, os professores perderam o brilho da reflexão, nestas andanças percebemos professores pouco capacitados, ausentes nas conversações cotidianas, as leituras inexistem, muitos deles nunca carregam um livro, não compram novos livros e correm para as bibliotecas antes dos alunos quando querem ler alguma obra, gastam muitos recursos em quinquilharias desnecessárias e deixam de lado uma aquisição, desconhecendo os autores mais renomados, se capacitando apenas em apostilas ou em resumos escolhidos num site de busca, estamos caminhando a passos largos para a catástrofe e para insignificância como civilização.

Desde os primórdios do capitalismo industrial, século XVIII, centrados na meritocracia e na ascensão social, sempre evocado pelos seus defensores, que viam a educação como o instrumento fundamental para angariar nosso crescimento social, seu incremento salarial e seus rendimentos monetários perdem espaço no mundo contemporâneo. Na sociedade, a ascensão social está sendo colocada em xeque, fragilizando o conceito de meritocracia, deixando uma parte dos grupos sociais mais fragilizados distante da ascensão social, como propagandeavam os defensores da meritocracia. Neste sociedade, percebemos que os setores dominantes da sociedade, dotados de recursos financeiros e influências políticas, perpetuam nos lugares de comando, comandando os grandes cargos da estrutura e das instituições governamentais, os cargos do judiciário, do legislativo e empresas estatais, com isso, percebemos um poder concentrado em poucas mãos, perpetuando as desigualdades e as explorações, incrementando o racismo estrutural, as pobrezas e as destruições sociais.

O discurso dominante sempre legitimou os defensores do sistema capitalista e da concorrência, onde os melhores conseguem os melhores postos na sociedade, são os ganhadores nas estruturas sociais, os esforços são recompensados pelos membros da classe média, investem seus rendimentos no estudo de seus filhos nas escolas privadas e, garantem vagas nas universidades de ponta, garantindo oportunidades num futuro vantajoso, formando uma classe média despolitizada, imediatista e fortemente reacionária, transformando-os em grupos radicais e agressivos, sem capacidade de discernir que a defesa destas gerará novos constrangimentos num futuro próximo.

De outro lado, percebemos uma massa crescentes de pessoas que percebem que os ensaios de ascensão social e a meritocracia estão cada vez mais distantes, sem saneamento básico, sem ruas asfaltadas, sem escolas, sem internet e sem professores pouco capacitados, sem perspectivas de um futuro melhor, sem oportunidades de sonhar e na perpetuação crescentes de um horizonte sombrio, sem brilho e sem dignidade.

A pandemia expõe as nossas misérias sociais mais íntimas, neste ambiente deveria ser construída uma união social em prol dos interesses coletivos, fortalecendo o significado do conceito de nação, percebemos grupos defendendo pensamentos individualistas, egoístas e imediatista, radicalizando uma ideologia degradante e ultrapassada, numa crítica constante da ciência e da defesa da radicalidade. Sem argumentos científicos e defensores de fake News, levando-nos a um ambiente de obscuridade, de mortes e de degradações. Neste ambiente, estamos caminhando para mais de 100 mil óbitos, num ambiente de medos constantes e de desesperanças que levam seus familiares a enterrar seus mortos, abrindo mão de momentos fundamentais de proximidade, sem memórias, sem lembranças e com fortes cargas de angústias crescentes.

Neste ambiente de caos generalizado, as instituição que regulam e fiscalizam as entidades educacionais estão sendo degradadas, os controles são emitidos por entidades privadas, ou melhor, controlados por grandes grupos educacionais, mais abastados e mais dotados de recursos monetários e financeiros, com isso, atuam de forma a consolidar o setor educacional como um dos mercados mais rentáveis e lucrativos, sem exigências de qualidade, sem professores qualificados e sem titulações, substituindo os professores experientes e capacitados por robôs e inteligência artificial. Neste ambiente, percebemos o aumento dos exércitos de professores desempregados ou subempregados, os poucos que conseguem manter seus empregos nas escolas e nas universidades devem ter seus rendimentos reduzidos imensamente, com cargas elevadas de trabalho, ambientes marcados pelo estresse, pelas cobranças crescentes, alunos desanimados, além de marcados pela depressão, pela ansiedade, pelos transtornos emocionais e psicológicos. Sem educação de qualidade, sem professores capacitados, sem condições de trabalho digno e decente e de remuneração condizente, nossa ferida educacional e nossa história de exploração e de exclusão social, se perpetuará para o século XXI.

No século XXI, num momento de grandes instabilidades e incertezas, a economia se torna um farol obscuro para conduzir os rumos da sociedade contemporânea, neste interesse percebemos o poder dos interesses dos donos do capital, comprando os ativos materiais, os valores das coletividades e as mentes dos formadores de opinião, embora percebemos que este poder está cada vez mais consolidado, com uma estrutura dominada por poucos grupos econômicos, que controlam os filmes, as notícias, os costumes e os comportamentos das pessoas de todas regiões do mundo. Neste momento de pandemia, os dados nos mostram que as fortunas dos grandes milionários brasileiros cresceram mais de US$ 34 bilhões neste período de isolamento e quarentena, diante disso, os dados nos mostram que nesta sociedade, os donos do dinheiro não mais precisam das outras pessoas da sociedade, seus rendimentos crescem de forma acelerada, seus ganhos são oriundos dos investimentos de títulos públicos e de aplicações nos produtos financeiros pagos pelo Tesouro Nacional, com isso, percebemos como suas agendas no pós-pandemia estava sempre centradas nas reformas tributárias, como forma de dividir os gastos para a recuperação da economia, as privatizações como forma de angariar patrimônios da sociedade em prol dos interesses destes afortunados, desta forma, percebemos que os rumos do século XXI para a sociedade brasileira são sombrias, uma sociedade onde as pessoas buscam seus interesses imediatos, seus valores individuais e seus sentimentos cada mais egoístas, uma sociedade que caminha a passos rápidos para a degradação enquanto civilização.