Modelo econômico

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Vivemos numa sociedade bem interessante, marcada pelo crescimento da tecnologia, que aproximam as pessoas e, ao mesmo tempo, nos distanciam; uma sociedade marcada pelo crescimento da riqueza material onde poucos podem usufruir de bens sofisticados e, uma grande massa, sobrevive na indignidade, na exploração e na subserviência. Estamos vivendo em um momento de grandes transformações estruturais, cujos impactos ainda não podem ser mensurados, onde os vestígios do futuro são preocupantes e muito inquietantes.

De um lado, percebemos uma alteração nos relacionamentos humanos, neste cenário de instabilidades, medos e incertezas, as pessoas evitam relacionamentos duradouros e compromissos mais sólidos, como nos ensina o grande sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, estamos no mundo sólido, dos amores sólidos e dos sentimentos líquidos, marcados pela superficialidade, onde as pessoas se refugiam em seu individualismo crescente, no imediatismo defensivo, buscando seus prazeres imediatos, vontades variadas e se distanciando das frustrações, acumulando imaturidades e vazios sentimentais.

Vivemos num mundo onde a ciência destravou grandes descobertas científicas e tecnológicas, superando doenças vistas como incuráveis e criou novos horizontes para a vida humana, mas ao mesmo tempo, nos deliciamos com a destruição material, destruímos nações inteiras para nos apoderarmos de suas riquezas naturais, deixando os povos na devastação e na degradação, aumentando as privações materiais e as pobrezas morais, um mundo marcado por grandes contradições.

Vivemos numa sociedade marcada pela hiperconcorrência, neste cenário estamos em constante competição, antes competíamos com produtores locais, muitos deles conhecidos, atualmente estamos num mercado global, competindo com produtores de outras regiões do mundo. Neste ambiente estamos cotidianamente nos preparando para a sobrevivência, requalificando, recapacitando, reconectando e mesmo assim, não temos a garantia de que conseguiremos sobreviver na competição global, acreditamos nas virtudes do livre comércio e percebemos que, em muitas nações, governos dispendem bilhões de dólares para garantir seus negócios bilionários e proteger seus sistemas econômicos e produtivos.

Vivemos num mundo marcado pela busca frenética por riquezas naturais, minérios estratégicos e energias alternativas para garantir e manter o status quo de poucos e, para isso, destroem nações inteiras, acusam terrorismo externo e invadem países, gerando destruições e colocando, no poder, apaniguados e fantoches para garantirem e perpetuarem a exploração e um novo colonialismo.

Vivemos num mundo onde os donos do poder controlam os grandes recursos monetários e financeiros globais, exigem taxas de juros estratosféricas, controlam os Bancos Centrais, compram governos subservientes e garantem enriquecimento de seus apaniguados e, num momento de crises financeiras globais, como a acontecida nos anos 2007/2008, exigem resgates bilionários para evitar perdas elevadas e transferem os passivos estratosféricos para os pobres, endividando a classe média e levando pessoas ao desemprego crescente, criando uma epidemia de depressão e suicídios, que embora crescentes, são ignoradas e deixadas de lado pela mídia tradicional.

Vivemos num momento de grandes degradações da humanidade, na meca do capitalismo global, os Estados Unidos, estamos percebendo o surgimento de mortes por desespero, todos percebemos as devastações crescentes do mundo contemporâneo e deixam de lado uma reflexão sobre o modelo econômico dominante, excludente, destruidor da dignidade humana, impulsionando a desigualdade global e, neste cenário, percebemos um receituário surreal, mais privatização, mais empreendedorismo, mais concorrência e mais devastação ambiental. O mundo civilizado acordou deste nefasto receituário, mas nós, infelizmente, estamos adotando as mesmas políticas e acreditando que somos modernos.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário.

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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