Vivemos num momento marcado por grandes alterações na sociedade global, neste ambiente percebemos novos modelos econômicos que surgem cotidianamente, novas profissões surgem e modificam o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, profissões consolidadas perdem espaço, exigindo dos trabalhadores transformações no cotidiano, novos conhecimentos, novos valores e novos comportamentos. O desenvolvimento tecnológico vem transformando o dia a dia dos indivíduos, afinal, somos impulsionados por novas plataformas, novos produtos e novos aplicativos, que alteram a comunicação, o entretenimento, os relacionamentos humanos e as relações sociais.
Neste ambiente, marcado por grandes transformações tecnológicas, onde os modelos de convivência social estão sendo alterados e transformados, novos modelos de negócios surgem e destroem os modelos anteriores, gerando, o que o grande economista austríaco Joseph Schumpeter, chamou de destruição criadora, onde empreendedores e inovadores constroem novos modelos produtivos e destroem modelos antigos, inaugurando novas formas de acumulação e contribuindo para a criação de riquezas.
Neste momento, percebemos o surgimento de novas discussões econômicas e sociais, onde aparentes consensos passaram a ser questionados, gerando confrontos de ideias e pensamentos, motivando novos questionamentos e trazendo novas reflexões que organizam a opinião pública, exigindo novas posturas e novos instrumentos de resolução de problemas complexos. Na sociedade brasileira, desde os anos 1990 vivemos uma agenda econômica centrada na austeridade financeira, onde os governos devem ser austeros com os gastos públicos pois estes podem gerar processos inflacionários crônicos, diante disso, deveríamos cortar os repasses públicos, privatizar empresas estatais e abrir a economia nacional, um receituário “moderno” para superarmos nossos atrasos e nossos retrocessos históricos.
Adotamos as medidas “modernizantes” e colhemos uma economia sem setor industrial, dependentes de tecnologias do setor de serviços, comandadas pelos grandes conglomerados estadunidense e asiáticos, além de sermos dominados por um setor agroexportador, marcado por subsídios exagerados e isenções fiscais ilimitadas. Nossas empresas estatais, que eram ineficientes, foram vendidas na bacia das águas para grandes grupos internacionais e, atualmente, fazem parte do portfólio de grandes fundos financeiros globais que dominam a economia mundial, com isso, perdemos nossa autonomia interna, dependendo, cada vez mais, de tecnologias externas e exportamos produtos primários de baixo valor agregado.
Em tempo de transformações econômicas, políticas e sociais, precisamos rever nossa estrutura tributária, afinal somos um dos países mais desiguais da sociedade global, segundo dados do Banco suíço UBS, que analisa a dinâmica da riqueza em 56 nações, o Brasil fica no primeiro lugar, a frente da Rússia, África do Sul, Emirados Unidos, Suécia, Estados Unidos, Índia, Turquia e México e, ao mesmo tempo, nos coloca com o maior número de milionários da América Latina, mais uma estatística que nos envergonha perante a sociedade internacional.
Os motivos desta desigualdade são conhecidos por muitos teóricos, neste espaço gostaria de destacar apenas um dos mais evidentes, a tributação. Muitos dizem que pagamos muitos impostos, mas quem realmente paga imposto no Brasil? Os grandes contribuintes que movimentam a estrutura estatal são os mais pobres e a classe média, os donos do grande capital financeiro pagam muito pouco, patrocinam isenções variadas que garantem seus benefícios tributários, deixando de pagar quase 1trilhão por ano, nada pagam dividendos e usam seu poder político para manter suas benesses. Se estamos num momento de reflexões intensas, está na hora de revermos as desigualdades criadas pelo sistema tributário nacional…
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Doutor em Sociologia