Desigualdades crescentes

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Num mundo marcado por grandes transformações estruturais, onde os modelos de negócios estão sendo alterados rapidamente, onde o mundo do trabalho se movimenta constantemente e os trabalhadores precisam se reinventar cotidianamente como forma de angariar, ou manter, um emprego decente e garantir as mínimas condições de sobrevivência.

Vivemos num país marcado por grandes desigualdades em todas as áreas e setores, marcados por uma história de explorações constantes, externa e interna, constituído como nação “independente” pelas mãos de trabalhadores escravizados, humilhados e degradados e, em contrapartida, por uma elite imediatista, individualista e entreguista, que vangloria os produtos estrangeiros, que paga fortunas para desfilar em cidades internacionais, tirando fotos para mostrar seu sucesso e se exime da sua responsabilidade diante da desigualdade crescente, apoiando a exploração de nações estrangeiras e batendo palma para aqueles que vendem a soberania nacional e acreditam serem verdadeiros patriotas e nacionalistas.

O Brasil se caracteriza por inúmeras contradições, somos vistos como uma das maiores economia do mundo, detemos setores produtivos dotados de grande tecnologia e, ao mesmo tempo, somos uma das nações mais desiguais do mundo, onde quase cinquenta milhões de pessoas não possuem saneamento básico, uma nação marcada por um educação deficiente e incapaz de preparar os cidadãos para os desafios do mundo digital e marcado por elevado desenvolvimento tecnológico, desta forma, estamos perpetuando uma desigualdade estrutural, onde os sonhos mais íntimos e pessoais se concentram na sobrevivência imediata e sem espaços sólidos para a construção de novos horizontes, desta forma, percebemos o crescimento da violência urbana, da pobreza generalizada, da corrupção crescente e o incremento de pessoas vivendo nas ruas.

Recentemente conseguimos retirar o país do mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU), um feito que deveria ser elogiado e comentado pela mídia nacional e pelos formadores de opinião, mas infelizmente, muitos ignoraram o assunto para não elogiar as políticas adotadas, desta forma deixam de informar a população e mostrar as medidas que trouxeram melhoras na condição de vida da população. Para colher os frutos positivos da retirada do mapa da fome da ONU foram necessárias uma atuação maior do governo federal, a recuperação de políticas públicas degradadas anteriormente, além do crescimento econômico que ultrapassou os 3% do produto interno bruto, além da redução do desemprego e a melhora da renda dos trabalhadores.

Vivemos num país onde, em 2024, os 10% mais ricos da população brasileira detinham 39,8% da massa de rendimentos, enquanto os 70% mais pobres ficavam com 33,4%. Dados vergonhosos para um país como o nosso, dotado de grandes riquezas e forte potencial de desenvolvimento, mas exigiria uma discussão mais séria, menos falatórios, discursos inflamados e mais medidas estruturais imediatas.

Sabemos que são muitas as iniciativas necessárias e imprescindíveis, além de urgentes, para vislumbrarmos uma melhora das desigualdades estruturais da sociedade brasileira, dentre elas, precisamos alavancar a educação nacional, fortalecer a carreira docente, aumentar os investimentos em pesquisa, ciência e tecnologia, sem estas medidas vamos perpetuar nosso atraso e nossa subserviência de nações estrangeiras. Neste cenário, percebemos que estamos caminhando no sentido contrário, nossa educação vem sendo degradada cotidianamente, os professores chamados de mestres, são ridicularizados, suas condições de trabalho são péssimas e seus salários estão sendo arrochados há décadas, desta forma, estimulamos o crescimento da ignorância, da subserviência e a desesperança.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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