35 anos: o sistema que queremos e que precisamos ter, por Guimarães, Costa & Fernandes

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O SUS que almejamos e necessitamos passa inevitavelmente pela ampliação da Medicina de Família e Comunidade

Por Fabiano Guimarães, Brenda Costa e Arthur Fernandes

O Estado de São Paulo, 19/09/2025.

Em 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, celebra 35 anos de existência. Fundamentado a partir do artigo 196 da Constituição federal de 1988, o SUS é um pilar da cidadania brasileira, garantindo acesso integral à saúde, da prevenção e da atenção primária ao tratamento de alta complexidade, como câncer e transplantes, para milhões de pessoas, servindo como modelo e inspiração global por sua universalidade e abrangência, que contrastam com modelos fragmentados e de alto custo em outras nações.

Nessas três décadas e meia, o SUS impulsionou avanços notáveis: a drástica redução da mortalidade infantil, a erradicação da poliomielite e um calendário vacinal robusto e atualizado são testemunhos de sua eficácia e resiliência. Mais do que inspirar sistemas de saúde globais, o SUS alcança os locais mais remotos e as populações mais vulneráveis, oferecendo cuidado essencial sem custo direto ao paciente, um contraste marcante com a realidade de muitos países, onde o acesso à saúde é determinado pela capacidade de pagamento.

Mesmo com ampla atuação em diversas frentes, o SUS ainda está em processo de avanço em muitas áreas, principalmente na Atenção Primária à Saúde (APS) e no programa Estratégia Saúde da Família (ESF). Ambos são o ponto inicial de contato da população com o sistema, por meio das mais de 44 mil Unidades Básicas de Saúde espalhadas pelo País. Enquanto você lê este artigo, profissionais das mais de 50 mil equipes da ESF estão atuando nos mais diversos territórios do Brasil.

E qual seria o SUS que queremos e precisamos dentro da perspectiva real e futura da população brasileira? O SUS que almejamos e necessitamos, à luz das crescentes demandas futuras da população, como o envelhecimento demográfico e o aumento das doenças crônicas, passa inevitavelmente pela ampliação da Medicina de Família e Comunidade (MFC). Experiências bem-sucedidas em países como Canadá, Holanda e Reino Unido demonstram que investir massivamente na atenção integral e coordenada eleva a qualidade de vida da população e otimiza os recursos do sistema, gerando eficiência e sustentabilidade.

Na APS, o indivíduo é atendido de forma holística, considerando não apenas a doença, mas o contexto social, econômico e familiar do paciente, sendo encaminhado a especialistas apenas quando estritamente necessário. A presença de médicos e médicas de família e comunidade acessíveis, atuando como o profissional de referência para cada cidadão, é uma estratégia de saúde pública comprovadamente eficaz e custo-efetiva. Essa abordagem, alinhada às melhores práticas internacionais, é capaz de transformar o panorama da saúde no Brasil ao promover a saúde, prevenir doenças e gerenciar condições crônicas de forma mais eficiente.

A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) corrobora: o investimento robusto na APS não só reduz custos operacionais, mas eleva a qualidade de vida e a eficiência global do sistema de saúde.

Ao centralizar os cuidados num único especialista que atua com a abordagem centrada na pessoa, o SUS oferta os princípios de longitudinalidade e integralidade. O acompanhamento ao longo da vida faz com que aquele médico ou médica conheça a pessoa com todos os seus determinantes sociais, inserida em seu contexto familiar e comunitário, e como tudo isso afeta a sua saúde, produzindo melhores tratamentos e prevenindo doenças, reduzindo excesso de exames e intervenções desnecessárias, promovendo assim uma economia ao sistema.

O SUS que existe já é grande, robusto e funcional, mas pode melhorar e estamos caminhando para isso. Novas políticas públicas estão sendo implementadas, assim como outras estão em discussão. Que o Sistema Único de Saúde, patrimônio do povo brasileiro, continue sua trajetória de sucesso, assegurando saúde e dignidade a todos. Vida longa ao SUS!

Fabiano Guimarães, Médico de família e comunidade, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, mestre em Saúde da Família Profsaude/UFJF, preceptor da Residência em Medicina de Família e Comunidade do HC-UFMG, é professor da Graduação em Medicina na Unifenas-BH

Brenda Costa, Médica de Família e Comunidade, diretora de Comunicação da Sbmfc, doutoranda em Saúde Pública na ENSP/Fiocruz, professora no departamento de Medicina Integral, Familiar e Comunitária, é preceptora do programa de residência em Medicina de Família e Comunidade da UERJ

Arthur Fernandes, Médico de família e comunidade, diretor do Departamento de Comunicação da Sbmfc, mestre em Cuidados Paliativos e Paliativista, preceptor da Residência em Medicina de Família e Comunidade da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), é referência técnica distrital em MFC da SES-DF

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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