A era de insegurança

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Vivemos momentos de grandes transformações na sociedade internacional, neste momento de alterações crescentes que eram vistos como sólidos e consistentes estão sendo modificados, sentimentos estão se esvaindo, modelos de negócios foram devastados, setores econômicos estão em franca decadência, relacionamentos sólidos perdem espaço e amores estão sendo cada vez mais vistos como líquidos, como diz o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, gerando incertezas, instabilidades e depressões constantes.

Neste ambiente, percebemos que vivemos numa sociedade marcada por grandes inseguranças, as transformações do mundo do trabalho estão gerando medos crescentes, desesperanças e conflitos internos, culminando em depressões, ansiedades e fortes instabilidades emocionais.

Estamos vislumbrando uma sociedade marcada por poucas certezas e grandes incertezas, dominadas por sensações de medo e de desesperança, que crescem em todas as regiões do mundo, anteriormente as inseguranças eram normais nos países pobres e miseráveis, na contemporaneidade, essa sensação se espalhou também para todas as nações desenvolvidas. Neste cenário centrado em desajustes elevados, carecemos de proteção e de segurança, com isso, os medos contemporâneos nos levam a abraçar ideias salvadoras, filosofias religiosas pouco confiáveis, abraçando informações falsas, equivocadas e espalhando fake news, desta forma, nossos medos se tornam cada vez mais patológicos, mais degradantes e com potencial de criar conflitos maiores, com polarizações políticas e graves constrangimentos para a vivência e a convivência em sociedade.

As grandes transformações na economia internacional, que culminaram na globalização da economia, responsável pelo aumento da competição e pelo incremento da concorrência, estas rápidas alterações estão fragilizando os valores humanistas, degradando a ética, reduzindo a solidariedade, o respeito, a cooperação entre os cidadãos e a responsabilidade social e ambiental. Dessa forma, o incremento da insegurança está dominando a sociedade contemporânea, transformando os indivíduos em pessoas cada vez mais individualistas, que se preocupam única e exclusivamente por defender seus interesses imediatos, olhando seus ganhos monetários e financeiros e, desta forma, contribuindo ativamente para a degradação dos laços sociais, criando uma verdadeira guerra de todos contra todos.

Vivemos amedrontados com os conflitos militares que espalharam na sociedade internacional, tememos os fenômenos naturais, as catástrofes geradas pela pandemia, os receios do desemprego, do terrorismo e das exclusões do cotidiano. Como consequência, intensificamos nossa qualificação profissional, buscando atualizações e capacitações cotidianas, nos fechando em casas e residências fortemente equipadas, com sistemas de segurança, câmeras sofisticadas e filmagens em todos os locais, mesmo assim, a sensação de insegurança é crescente e nos levam a grandes constrangimentos.

Nessa sociedade marcada pela insegurança, os laços sociais se reduzem, os vínculos humanos estão em constantes fragilizações, os relacionamentos amorosos estão em franca degradação, os amores são líquidos e não criam vínculos mais consistentes, os indivíduos querem apenas relacionamentos rápidos e prazeres imediatos, com isso, percebemos na sociedade contemporânea uma fuga crescente de relacionamentos mais sólidos e consistentes, para alguns especialistas ao criarmos vínculos com outras pessoas, corremos o risco de se decepcionar, podendo gerar constrangimentos íntimos, ansiedades e depressões.

As razões destas degradações da sociedade são variadas e seus impactos são elevados e geram fortes constrangimentos para todos os indivíduos, as alterações geradas pela tecnologia da informação estão motivando muitas destas transformações, que estão reconfigurando o mercado de trabalho e trazendo graves mudanças no mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, as redes sociais ou antissociais criam a sensação de que estamos cercados de amigos e seguidores, ledo engano, somos cada vez mais monitorados, sem privacidade, atolados em dívidas, trabalhando cada vez mais, estamos na era da insegurança e da degradação da saúde física, mental e espiritual.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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