Carta Mensal – outubro 2022

Compartilhe

O mês de outubro foi marcado por grandes expectativas para a sociedade brasileira, depois de um governo marcado por grandes instabilidades e incertezas, internas e externas, em quase todas as áreas, tivemos uma das eleições mais competitivas da história nacional, centradas por violências, mentiras, agressividades, ódios e ressentimentos que colocaram em xeque a ideia do homem cordial.

Nesta eleição duas grandes forças políticas se confrontaram, um ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva e o atual presidente, Jair Bolsonaro. Expoentes da política nacional, representando dois eixos da política nacional, responsáveis por sentimentos controversos, variando de amores e ódios generalizados, que levaram a sociedade a sentir a violência escondida durante muitos anos, agressividades e ressentimentos que vieram à tona.

Neste embate, percebemos visões econômicas diferentes, uns mais liberais, defendendo privatizações, ajustes fiscais, diminuição do papel da economia, menos regulação, mais concorrências, reformas ditas estruturais, maior atração dos recursos externos para alavancar a economia, redução do contingente dos funcionários públicos e um claro enfoque dos mercados como agentes responsáveis pelo funcionamento da sociedade. Estas ideias ditas liberais são defendidas pelo atual presidente Jair Bolsonaro, que embora defendendo o pensamento do liberalismo, suas atitudes nem sempre foram tão liberais, misturando aberturas econômicas e intensas políticas intervencionistas, que geraram incertezas e instabilidades, mas foram abraçadas pelo capital financeiro e pelos agroexportadores, setores econômicos que foram os grandes ganhadores com estas políticas.

No outro lado, encontramos o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, com uma agenda mais intervencionista, centrados nos investidores públicos como motor do crescimento econômico, incentivando políticas públicas e sociais para reduzirem as desigualdades crescentes da sociedade brasileira. Nestas políticas, os investimentos públicos devem impulsionar a geração de empregos, incremento de rendas, melhoras dos salários, fortalecimentos das universidades públicas federais e centros de pesquisas, além de utilizar os setores financeiros vinculados ao governo federal, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Nordeste e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para colocar recursos nos setores reais da economia, além de investimentos em políticas sociais, cultura, meio ambiente, segurança pública, combate ao racismo estrutural, dentre outros.

Neste embate de duas visões diferentes de sociedade, devemos destacar, que nestes últimos anos, encontramos o retorno de discussões enterradas, ultrapassadas e retrógradas, neste cenário percebemos renascimento de sentimentos de enfraquecimento da democracia e a defesa escancarada de intervenção militar, criando instabilidades internas e preocupações com a comunidade internacional.

A eleição presidencial ganhou relevância porque muitos enxergaram no atual presidente políticas intimidatórias, falas golpistas, críticas ao processo eleitoral, aparelhamento e alinhamento de instituições de Estado, como a Procuradoria Geral da República (PGR), a Polícia Rodoviário Federal (PRF), partes da Polícia Federal (PF), dentre outras, gerando preocupações dos setores organizados da sociedade, com manifestos, cartas de protestos e a defesa da democracia.

O resultado final da eleição, elegendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato, gerou constrangimentos dos perdedores e alegrias e novas esperanças dos vencedores, mergulhando a sociedade em movimentos de contestação, interrupção de rodovias, agitações nos quarteis reclamando intervenção militar, gerando instabilidades e prejuízos econômicos e desequilíbrios políticos, além de criar novas incertezas num futuro próximo.

A eleição de outubro mostrou novos horizontes para a sociedade brasileira, melhorando a imagem do país na comunidade internacional, tão degradada neste governo, abrir novas perspectivas para o Brasil, reverter as políticas entreguista que nortearam o pensamento liberal terceiro mundista e contribuir, ativamente, para a reversão dos passivos sociais e ambientais acumulados nestes últimos anos, além de melhorar os espaços políticos, incorporando um contingente gigantesco de pseudo-cidadãos que perambulam pela sociedade brasileira, vivendo na sombra da civilização e que perderam a esperança de dias melhores, engrossando levas gigantescas de pessoas que vivem nas ruas, convivendo com a miséria e com a indignidade.

Os desafios são elevados, analisando os governos anteriores do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva, vivenciados no período 2003-2010, os indicadores foram positivos, com erros e acertos, mas atualmente, a herança foi verdadeiramente maldita, as condições econômicas são sofríveis, a imagem externa é preocupante e o motor da economia perdeu dinamismo, força e horizontes.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

Leia mais

Mais Posts

×

Olá!

Entre no grupo de WhatsApp!

× WhatsApp!