Vivemos numa sociedade marcada por grandes incertezas e instabilidades, onde os grupos sociais passam por grandes movimentações estruturais, os grupos dominantes, que controlam os setores econômicos mais pujantes, ganham força e dominam as bases da sociedade, controlam a classe política, ditam as regras e controlam as agendas dos parlamentos e garantem grandes retornos financeiros. Os grupos mais fragilizados financeiramente percebem que as transformações em curso na sociedade contemporânea estão gerando empregos precarizados, com parcos ganhos monetários e financeiros, além de serviços públicos cada vez mais escassos e degradados, levando os indivíduos a condições de sobrevivência marcadas pela exclusão e pela indignidade.
No meio destes grupos sociais encontramos uma classe média cada vez mais atordoada, degradada e precarizada financeiramente, assustada com as movimentações políticas e culturais, pendurada nas dívidas bancárias e impostos escorchantes, sem perspectivas profissionais e marcadas pelos medos e pelas ansiedades crescentes. Neste cenário, essa classe que sempre se destacou pela capacidade intelectual e pela bagagem cultural, exemplo de ascensão social, se entregou para os ganhos imediatos, acolheu o fanatismo das discussões políticas, abraçou o individualismo e a meritocracia, flertou com pensamentos antidemocráticos e perdeu a essência fundamental para a construção de um futuro mais consistente para a sociedade brasileira.
Com a mercantilização da sociedade contemporânea, tudo se transformou e passou a ser visto como uma verdadeira mercadoria, produtos comercializados em todos os mercados, desde que, os indivíduos possam arcar com os custos monetários e financeiros, desta forma, percebemos que os ganhos da classe média vem perdendo rendimentos, levando-a para uma condição secundária e de indignidade, seus proventos foram degradados, seus salários vem perdendo espaço para a inflação e seu status social, anteriormente sempre positivo, perdeu relevância.
Os gastos crescentes da classe média vêm degradando suas condições financeiros e monetárias, o aumento dos gastos educacionais pesam fortemente sobre seu orçamento, os valores dispendidos para manter a saúde crescem muito mais que seus recursos cotidianos, gerando crises constantes, pressões diárias e incertezas. Além disso, os recursos destinados para manter o pagamento dos tributos degradam sua renda mensal, desequilibrando seus fluxos financeiros, levando esse grupo social a se endividarem com bancos e instituições financeiras, entrando numa espiral de juros crescentes, endividamentos contínuos e desequilíbrios emocionais, com impactos generalizados sobre a saúde, o trabalho e o ambiente familiar.
As mudanças no mundo do trabalho estão impactando sobre a classe média, a tecnologia vem reduzindo a mão de obra e exigindo maior qualificação dos trabalhadores, as políticas de austeridades adotadas pelos governos nacionais limitam os recursos públicos, reduzindo os dispêndios das políticas públicas, diminuindo a contratação de trabalhadores, exigindo novas habilidades e gerando novas formas de contratação, mais degradadas e com salários mais achatados e precarizados, desta forma, os sonhos de salários maiores vem se perdendo numa sociedade degradada e imediatista.
O sonho da ascensão social vem se perdendo nas lutas cotidianas, vivemos numa guerra constante e duradoura, as pressões sociais, emocionais e profissionais são violentas e agressivas, as ansiedades crescem de forma acelerada e o sonho de um futuro melhor se esgota todos os dias ao testemunharmos os conflitos e os desequilíbrios do mundo contemporâneo.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Sociologia do Trabalho e Exclusão Social, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário