O processo de globalização da economia aprofundou a interdependência entre as nações, aumentando a integração das estruturas produtivas, aumentando a concorrência entre todos os agentes econômicos, levando as nações a buscarem novos instrumentos de inserção no cenário internacional. Neste novo ambiente econômico, percebemos que os grandes ganhadores desta competição foram as nações asiáticas, principalmente a Coréia do Sul e a China, países que conseguiram dar um salto tecnológico, dominando cadeias produtivas em vários setores, angariando novos investimentos estratégicos, com o crescimento dos dispêndios em educação e um projeto nacional centrado no planejamento do Estado Nacional.
Neste ambiente, essas nações passaram por grandes transformações produtivas, países exportadores de produtos de baixo valor agregado e dependentes de produtos sofisticados foram, paulatinamente, alterando os modelos produtivos, investindo fortemente em capital humano e passaram, num período de quarenta anos, a serem produtores de produtos de alto valor agregado, exportadores de mercadorias sofisticadas e intensivos em tecnologias, com isso, seu capital humano apresentou um incremento salarial, contribuindo para os avanços sociais da sociedade, levando algumas nações a conseguirem acabar com a miséria extrema, melhorando as condições de vida da população e caminhando para a construção de uma nação de renda média, uma transformação pouco vista na história da humanidade num período curto de tempo.
O comércio internacional pode ser visto como um dos instrumentos responsáveis por grandes saltos de desenvolvimento econômico das nações, para isso, esses países investiram fortemente em uma transformação produtiva, canalizando recursos financeiros para a produção, incrementando a produtividade da economia, estimulando a conquista de novos mercados internacionais e fortalecendo as estratégicas diplomáticas para angariar novos parceiros comerciais. Todas estas políticas foram implementadas para angariar novos mercados internacionais, aumentando as exportações, fortalecendo seus setores produtivos e diminuindo a dependência externa de capitais financeiros, na maioria, recursos especulativos que pouco contribuem para o crescimento econômico e geram constrangimentos para as contas externas.
Os países pobres continuam na pobreza porque apresentam grandes limitações estruturais e produtivas, perpetuando sua dependência externa, se eternizando na importação de produtos sofisticados, se concentrando na exportação de produtos primários de baixo valor agregado, com isso, percebemos a perpetuação da dependência dos fluxos financeiros internacionais, que muitas vezes nos levam a manter taxas de juros elevadas para atrair moedas estrangeiras e fechar nossos compromissos financeiros, desta forma criamos uma armadilha que limita nossa soberania nacional.
Numa economia globalizada, como a que vivemos, as nações desenvolvidas estão fortalecendo seus setores produtivos, investindo na sofisticação tecnológica para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea, criando riquezas num mundo imaterial como forma de aumentarmos o bem-estar social da população, sem isso, os desequilíbrios tendem a aumentar e intensificar os desajustes internos, levando a desintegração social e conflitos sociais que fragilizam a democracia.
O comércio internacional é um espaço de conflitos constantes, onde os preços das mercadorias são definidos pelos grandes atores econômicos globais. Os grandes conglomerados internacionais trazem em suas retaguardas seus Estados Nacionais, como estamos observando constantemente na sociedade contemporânea, que usam seus instrumentos geopolíticos, sua configuração política e seus instrumentos financeiros como forma de angariar novos espaços de acumulação, além de fragilizar seus competidores e garantir seus lucros crescentes.
Neste cenário, acreditarmos que conseguiremos o desenvolvimento econômico e conquistarmos melhoras sociais para a sociedade enquanto exportadores de produtos primários de baixo valor agregado é mais uma das falácias que continuam em curso da sociedade brasileira. Sem sofisticação tecnológica, sem investimentos maciços em educação e desenvolvimento das vantagens nacionais, continuaremos sobrevivendo numa linha tênue entre a barbárie e o desespero.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel de Economia e Administração, Especialista da Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 17/05/2023.