Vivemos num momento de grandes alterações estruturais, a pandemia está transformando as relações sociais, os hábitos e os comportamentos mudam rapidamente, exigindo adaptações constantes, as empresas precisam se adaptar a estes novos ambientes, criando novos produtos, bens e mercadorias. Os consumidores sentem intimamente as alterações, o mercado de trabalho exige qualificações e capacitações cotidianas e os governos buscam maior transparência e modernização. Vivemos num momento de incertezas e de instabilidades em ascensão, com medos novos, preocupações crescentes e uma busca constante por confiança e credibilidade, como forma de reconstruir os laços do sistema social e econômico.
Nesta sociedade, a confiança é fundamental para a reconstrução dos laços econômicos, centrais para a consolidação dos espaços políticos e o fortalecimento dos valores sociais, sem confiança os investimentos não se realizam, as estruturas produtivas pouco evoluem e as questões sociais se agravam, criando crises institucionais e conflitos dos agentes sociais, reduzindo os espaços de recuperação econômica.
A sociedade vive um momento de grandes desconfianças, a pandemia gerou graves constrangimentos, milhares de mortes, crise sanitária, desajustes produtivos e uma constante crise política, colocando os setores políticos em conflitos abertos. Sem confiança os setores produtivos postergam investimentos, aumentam o desemprego, falências crescentes, aumento da miséria e da exclusão social, desnudando a desigualdade da sociedade brasileira, exigindo uma atuação rápida e eficiente do Estado Nacional.
A confiança é fundamental para consolidar a recuperação da economia e retomar os investimentos produtivos. Sem confiança os atores nacionais e internacionais tendem a reduzir as exposições na economia nacional e postergando os projetos de investimentos. Num ambiente globalizado, a confiança é o cimento social crucial para a consolidação dos acordos políticos de reconstrução nacional, este cimento social está no cerne dos movimentos de recuperação da autoestima, a atração de investimentos e a geração de novos empregos.
Percebemos o aumento da desconfiança no cenário interno, os atores econômicos desconfiam uns dos outros, os setores buscam seus interesses imediatos, os projetos nacionais são substituídos por interesses individuais e os investimentos se concentram em especulações crescentes, aumentando os ganhos dos rentistas em detrimento da sociedade em geral, degradando a maioria dos trabalhadores e contribuindo para piorar a concentração da renda e piorando as condições de vida da grande massa da coletividade.
Os programas econômicos prescindem de liderança política e projetos nacionais, mostrando para a sociedade os passos que devem ser seguidos como forma de levar a sociedade ao desenvolvimento. Sem liderança política os setores econômicos e produtivos carecem de rumos e direcionamentos, num momento de graves transformações da sociedade internacional é fundamental a construção de confiança entre os poderes institucionais, deixando de lado os conflitos que criam instabilidades, inimizades, postergam os investimentos e levam ao caos econômico.
No ambiente econômico percebemos sinais preocupantes no front fiscal, contas públicas, inflação acelerada, juros em elevação, aumentando a desconfiança dos agentes econômicos, reduzindo investimentos produtivos e postergando a retomada dos indicadores macroeconômicos, com graves prejuízos para o sistema econômico e produtivo. A confiança prescinde de fortes acordos políticos e consensos sociais, dinamizando a democracia e construindo espaços sólidos e consistentes para a recuperação. Sem confiança cultivaremos mais incertezas, instabilidades e uma frágil recuperação econômica, com forte degradação social, fome e exclusão, agravado com a pandemia.
A sociedade brasileira precisa encarar os grandes desafios do mundo contemporânea, escolhendo os caminhos corretos e abandonando subterfúgios que postergam a recuperação da economia. As grandes crises servem como espaço de reconstrução dos laços sociais e de consolidação dos setores produtivos. Sem confiança não teremos recuperação econômica, infelizmente.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 25/08/2021.