Dados são o ‘novo petróleo’, mas precisam de atenção para não agravar crise climática, por Fábio Gallo

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O uso de data centers e a mineração massiva de criptomoedas põem muita pressão sobre a geração de energia

Fábio Gallo – O Estado de São Paulo – 14/09/2024

Nestas últimas semanas todos nós ficamos assustados, afinal o Brasil está sufocando com as queimadas. A crise climática está presente e se tornando mais aguda de maneira mais rápida do que os especialistas estavam prevendo. Em entrevista publicada esta semana no Estadão, o climatologista Carlos Nobre nos deixou ainda mais temerosos. Segundo ele, o Pantanal deve acabar e a Amazônia perder 50% da floresta até 2070. Nada mais assustador!

A situação está mostrando o quanto os governos estão despreparados para lidar com algo tão importante. Obviamente, este tema é uma preocupação mundial e a busca de solução é tarefa de todos. Tem-se discutido muito sobre as formas de combater o aumento da temperatura, atuando contra o desmatamento, as queimadas e outras tantas ações. Por outro lado, a humanidade está buscando, garimpando, armazenando e processando dados numa velocidade desenfreada.

O crescimento acelerado do uso de data centers, inteligência Artificial (IA) e mineração de criptomoedas está colocando uma pressão enorme sobre a infraestrutura de energia global. O que representa uma grande ameaça à capacidade instalada de geração de eletricidade. Essa pressão gera graves problemas em diversos níveis, como o aumento das emissões de gases de efeito estufa, sobrecarga da infraestrutura, o que afeta setores críticos como hospitais, comunicações, transporte, trazendo aumento de custos, desafios para a sustentabilidade e impactos geopolíticos.

Reportagem recente do Independent Speculator traz que é estimado que os data centers, IA e as criptomoedas usaram 460 mil gigawatts-hora de energia elétrica em 2022, e que a Agência Internacional de Energia (AIE) projeta que esses setores podem usar 1 milhão de gigawatts-hora por ano até 2026. Como referência, cita que os EUA têm hoje 94 reatores nucleares que geram cerca de 778 mil gigawatts de energia por ano. A solução proposta é o investimento em energia nuclear.

Diante de todos esses desafios, devemos buscar alternativas efetivas que incluem desde o avanço tecnológico, políticas públicas, práticas empresariais às mudanças comportamentais. É urgente a busca de soluções inovadoras para enfrentar o aumento da demanda energética. Devemos investir em eficiência energética, expansão de fontes renováveis, uso responsável de tecnologias intensivas em energia e políticas públicas que tragam o uso sustentável da eletricidade, sem comprometer o meio ambiente.

Medidas como o uso de data centers mais eficientes e de meios mais sustentáveis de consumo de energia na mineração de criptomoedas são essenciais para ajudar a humanidade a enfrentar o aumento da demanda por eletricidade e mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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