Nos últimos meses percebemos novos debates na sociedade internacional, as guerras e os conflitos militares ganharam relevância, os debates sobre a degradação do meio ambiente ressurgem, antes concentrados nos grupos de ambientalistas agora aparecem na boca dos cidadãos mais conscientes, as tarifas comerciais se transformaram num espaço de grandes contendas econômicas, o genocídio ganhou força nas mídias tradicionais, a regulação dos grandes e poderosos conglomerados de tecnologia se fazem presentes nos parlamentos, além de assuntos técnicos, como a tributação, que passou a ser discutida nas mesas dos bares e, as desigualdades sociais, assunto antigo e, esquecido por muitos e analisados apenas no mundo acadêmico, vem ganhando importância nas redes sociais e nos canais alternativos, diante disso, percebemos uma mudança na agenda global e dos debates da sociedade mundial.
As tarifas adotadas pelo governo norte-americano estão gerando grandes constrangimentos para a sociedade internacional, internamente poucos analistas e especialistas acreditam que essa medida vai contribuir positivamente para a reindustrialização da economia dos Estados Unidos, poucos conglomerados nacionais trarão de volta suas plantas produtivas, sabendo que os custos externos são muito menores, tudo isso tende a gerar frustração e abalos políticos internos, além do aumento da inflação e, posteriormente, incremento das taxas de juros internas, que aumentam o endividamento das famílias, reduzindo o poder de compra e diminuindo o dinamismo dos setores produtivos. Externamente, as tarifas elevadas comprometem inúmeros setores produtivos mundiais, fragilizando as cadeias de valor global, gerando incertezas crescentes, além de instabilidades que levam os trabalhadores a flertarem com o desemprego e a exclusão social.
Neste cenário, percebemos que os assuntos relacionados a conflitos militares e guerras fratricidas ganham relevância na sociedade global, canais de youtube se especializam em mostrar episódios das guerras cotidianas que se espalham para a sociedade internacional, mostrando massacres televisionados ao vivo, explosões, bombas e destruições que degradam a infraestrutura das nações, destroem comunidades inteiras, disseminando ressentimentos, ódios e desesperanças, além de destacar os grupos financeiros e conglomerados industriais que ganham valores astronômicos com a morte e a devastação da vida humana.
Outro assunto que vem ganhando espaço nas discussões internacionais é referente aos projetos mundiais de uma tributação mais progressiva, uma taxação dos bilionários que garantiriam trilhões de dólares que poderiam ser utilizados para reduzirem as desigualdades globais.
Neste debate que cresce no mundo contemporâneo, embora sejamos uma das nações mais desiguais do mundo, onde os grupos mais favorecidos pouco pagam em impostos, garantem isenções do pagamento de tributos sobre lucros e dividendos, impedem discussões sobre a progressividade tributária e se comportam como uma elite rentista, patrimonialista, endinheirada e que pouco se preocupa com os rumos da sociedade nacional, defendem seu status quo, lutam para manter seus privilégios, suas benesses e suas pomposas isenções fiscais e tem a pachorra de defender, nas mídias tradicionais, a redução dos repasses para os grupos mais depauperados.
Mesmo sabendo de que os debates exaltados crescem no mundo todo, percebemos que estas discussões são frágeis em seus conteúdos, cada grupo busca manter seus ganhos imediatos, buscam defender seus interesses em detrimento de seus concorrentes, se esquecem de que vivemos num mundo fortemente globalizado e integrado. Os melhores debates precisam reconhecer que vivemos num mundo multilateral, fortemente desigual e interdependente, onde os poderes não estão concentrados em uma única nação.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário.