Vivemos momentos de grande apreensão na sociedade internacional. Nesse cenário, as estruturas econômicas, sociais, culturais e políticas estão passando por grandes inquietações, modelos novos e consistentes estão sendo degradados, empresas anteriormente consolidadas estão perdendo espaço no mercado, as transformações no mundo do trabalho estão reconfigurando as atividades profissionais, exigindo novas qualificações e variadas capacitações, exigindo esforços intelectuais elevados e dispêndios de recursos monetários, gerando uma nova sociedade, mais integrada, mais competitiva, mais individualista, mais imediatista e mais, cada vez mais, centrada na instabilidade, na insegurança e na financeirização das atividades cotidianas.
Nesta nova sociedade, percebemos que estamos caminhando a passos largos para mais uma década perdida, cujo crescimento produtivo é insuficiente e limitado para vislumbrarmos o tão sonhado desenvolvimento econômico. Percebemos ainda, que esse baixo crescimento da economia e somado a altas taxas de juros contribuem fortemente para engordar a renda e o poder político dos rentistas, dos financistas e donos do capital, além de degradar a renda dos trabalhadores e atuando ativamente para incrementar as desigualdades sociais que perpetuam nosso atraso institucional.
A década perdida dos anos 80 do século passado ficou conhecida como um momento marcado por baixo crescimento econômico, taxa de inflação elevada, desindustrialização da economia, crescimento do endividamento externo, incremento da concentração de renda e perspectivas sombrias para a estrutura econômica e produtiva. Neste período, definido como a década perdida, o Brasil perdeu espaço na economia internacional, perdendo mercados preciosos no comércio global, reduzindo seu dinamismo industrial e, diante disso, percebeu-se o crescimento e a consolidação de concorrentes diretos, principalmente nações asiáticas, que se projetaram no comércio mundial, adotando políticas industriais exitosas, desbancando atores importantes no cenário global e passaram a ganhar espaço nos grandes fóruns internacionais.
Nos anos 1980, a economia internacional passava por grandes transformações no modelo produtivo, a sociedade global vislumbrava uma nova revolução industrial, com o crescimento da informática e das telecomunicações, marcadas por novas tecnologias e exigindo das nações mais investimentos em capital humano, melhoras significativas na educação, além de pesquisas científicas e no fomento tecnológico. Neste momento, perdemos essa proeminência acumulada em décadas anteriores, perdemos ainda o dinamismo produtivo, perdemos cérebros imprescindíveis para alavancar o crescimento econômico e passamos a amargar um crescimento econômico medíocre, que nesse ritmo levaríamos muitos séculos para melhorarmos os nossos indicadores sociais.
Com o incremento da concorrência internacional, onde a tecnologia passou a ser o agente fundamental para o crescimento econômico, faz-se necessário que as nações em desenvolvimento cresçam de forma mais consistente, melhorando sua estrutura produtiva, investindo em capital humano, consolidando políticas públicas para melhorar os indicadores sociais, reduzindo as desigualdades das nações. Neste cenário, percebemos que o Brasil vem caminhando muito lentamente, seu crescimento econômico nos últimos quarenta anos foi muito limitado, taxas de juros elevadas, venda de patrimônios públicos entregues a preços irrisórios e um sucateamento educacional, desta forma não estamos conseguindo enfrentar frontalmente os grandes desafios da sociedade contemporânea, mesmo alterando os governantes a situação pouco avança, deixando a impressão de que estamos nos afastando dos países desenvolvidos. Será que estamos nos acostumando com as décadas perdidas? Cabe uma reflexão imediata.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Economista e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.