Demandas contemporâneas

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Vivemos numa sociedade marcada por constantes turbulências em todas as áreas e setores, novos negócios são criados todos os dias, e muitos são destruídos rapidamente, novas demandas surgem cotidianamente, percebendo novos comportamentos dos consumidores, gerando desafios constantes para empresas e para os empreendimentos, obrigando as corporações a aumentarem as exigências para seus trabalhadores, novas habilidades e novas formas de compreensão dos desafios da sociedade contemporânea.

Neste cenário, o Fórum Econômico Mundial publicou, recentemente, uma pesquisa para compreender as habilidades dos trabalhadores do futuro, as suas exigências, qualificações e suas capacitações, numa sociedade em constantes transformações, com o crescimento dos negócios digitais, as preocupações da sustentabilidade, as urgentes discussões climáticas e as necessidades de reduzir os grandes desequilíbrios sociais que perpassam a sociedade global, gerando confrontos crescentes, terrorismo em todas as regiões, medos e ressentimentos que criam constrangimentos para todos os grupos sociais.

Nesta pesquisa do Fórum Econômico Mundial foram destacadas habilidades comportamentais em detrimento das habilidades técnicas como as grandes exigências do mundo do negócio, onde a pesquisa destacou a capacidade de resolução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, liderança e gestão de pessoas, trabalho em equipe, além de inteligência emocional, flexibilidade cognitiva, negociação, tomada de decisão e orientação à serviços. Numa nova sociedade como a que estamos vislumbrando, percebemos que o mundo do trabalho prescinde de novos trabalhadores, novas habilidades e capacitações, um mundo marcado por disrupturas, transformações constantes, volatilidades cotidianas, pelas instabilidades crescentes e pelo crescimento de incertezas, como foi destacado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman na obra de referência “Modernidade Líquida”.

Nesta sociedade contemporânea, marcada pela busca constante pelos lucros e ganhos monetários e financeiros, as demandas sobre os profissionais crescem de forma acelerada, exigindo constantes capacitações, cursos de atualização, investimentos em novas especializações, pós-graduações e muito mais, ao mesmo tempo, as valorizações salariais crescem lentamente, os ganhos monetários, da maior parte, estão estagnados, gerando medos constantes em cortes e listas de dispensas, motivando um ambiente de insanidade, de constantes preocupações e incertezas. Sejam bem vindos num mundo marcado pela luta de todos contra todos, um verdadeiro retrocesso civilizacional.

Nesta nova sociedade, profissões estão sendo substituídas cotidianamente, investimentos estão sendo remanejados, empregos estão sendo destruídos, as experiências são deixadas de lado e substituídos por profissionais pouco capacitados e sem experiências, onde empresas estão observando apenas os valores monetários, deixando de lado a reputação e os ganhos imediatos, como se não existisse futuro. Neste cenário, percebemos o crescimento do empreendedorismo forçado, pessoas buscam se recapacitar para sobreviver, os mais experientes são deixados de lado na busca pela sobrevivência, um contrassenso numa sociedade que estimula uma vida longa para os indivíduos e, ao mesmo tempo, rechaça os mais experientes, degrada seus ganhos financeiros e não cria oportunidades para uma velhice com mais dignidade e sabedoria.

Neste momento marcado por grandes disrupturas econômicas e transformações tecnológicas, a educação vem ganhando, cada vez mais importância e centralidade para governos e famílias, levando-os a buscarem modelos educacionais eficientes, construindo novos formatos escolares para a apreensão do conhecimento e para a consolidação de valores comportamentais significativos para a satisfação das necessidades individuais e coletivas, estimulando o crescimento econômico, o desenvolvimento social e o bem-estar das sociedades.

A pesquisa desenvolvida pelo Fórum Econômico nos traz elementos valiosos para a construção de uma nova empregabilidade para os indivíduos, mas precisamos, antes de mais nada, refletirmos sobre os valores da sociedade contemporânea, que prega valores inatingíveis, espalha individualismo e imediatismo, e defende a meritocracia e o empreendedorismo como forma de melhoria social.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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