Constantemente refletimos, nesta coluna, sobre as grandes transformações econômicas e seus impactos para a sociedade internacional. Neste cenário, marcado por alterações nos modelos de negócios e fortes transformações no mundo do trabalho, onde a tecnologia está moldando as bases da comunidade, destruindo empresas até então bem-sucedidas, fragilizando trabalhadores e criando instabilidades na empregabilidade dos indivíduos, gerando novos desafios, medos e incertezas, que podem abrir espaço para novas oportunidades, criando ganhadores e perdedores com fortes impactos sociais e políticos na sociedade.
Recentemente, as mídias especializadas, estão mostrando o aumento das demissões das grandes empresas de tecnologia, que se transformaram em fortes empregadores de trabalhadores altamente capacitados e, na contemporaneidade, estão demitindo números consideráveis de trabalhadores, com impactos sobre todas as regiões do mundo, pois são grandes conglomerados e empregam pessoas do mundo todo, tais como Amazon, Google, Twitter, Meta, Microsoft, dentre outras.
Nos últimos anos, as empresas de tecnologia ganharam relevância na sociedade internacional, angariando valores de mercado, consolidando seus modelos de negócios e se transformaram nas queridinhas do mundo corporativo. Suas ações eram desejadas pelos investidores, seus valores de mercado foram multiplicados várias vezes, passando a se transformarem nos maiores conglomerados da economia internacional, deixando para trás grandes empresas automobilísticas, siderúrgicas, varejistas e petroleiras, algumas delas conseguiram ultrapassar US$ 1 trilhão em valores de mercado, algo impensável anteriormente.
Depois de fortes contratações no período da pandemia, as empresas perceberam que, com a normalidade da estrutura econômica e a redução das paralisações das economias em decorrência do covid-19, seus ganhos financeiros foram reduzidos fortemente e levando-as a uma reestruturação em seus negócios, diminuindo sua força de trabalho, iniciando dispensas em todos os setores e diminuindo os cargos estratégicos, visando reestruturar seus modelos de negócios e buscando incrementar seus lucros e ganhos adicionais, melhorando sua performance financeira e operacional, incrementando os valores de suas ações e a rentabilidade de seus negócios.
Destacamos ainda, o incremento dos preços dos produtos internacionais, impacto direto da pandemia, da quebra das cadeias globais de produção e da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, inflacionando preços de energia, dos combustíveis, dos fertilizantes e dos alimentos. Com o aumento da inflação, redução da renda das famílias e, imediatamente, levando os governos, via Bancos Centrais, a incremento das taxas de juros, com redução da liquidez internacional e a elevação dos custos financeiros, com a redução dos movimentos de riscos, levando os agentes econômicos e financeiros a reduzirem recursos alocados em investimentos de risco e a buscarem os investimentos de menor risco, como a renda fixa.
As empresas de tecnologias, grandes conglomerados econômicos e produtivos, perceberam os movimentos de reestruturação, buscando equacionar seus equilíbrios financeiros e aumentar seus rendimentos sem mexer nos grandes ganhos para seus acionistas e os investidores, com isso, aumenta o contingente de desempregados numa sociedade centrada por instabilidades e volatilidades crescentes, com degradações econômicas, desequilíbrios familiares, com incremento das ansiedades e formas generalizadas de patologias sociais que culminam em violências crescentes, ressentimentos, medos e inseguranças que levam a sociedade as desorganizações crescentes.
As demissões em massa da sociedade contemporânea tendem a continuar em alta e os lucros dos acionistas e dos investidores tendem sempre a ascensão. Neste ambiente, a exploração dos fragilizados tende a crescer e os rendimentos dos trabalhadores tendem a se reduzir rapidamente, com isso, os consultórios de psicólogos e terapeutas tendem a crescer de forma acelerada, caracterizando uma sociedade desigual, degradada e violenta. E ainda encontramos gurus acreditando e apregoando que a solução desta equação está no empreendedorismo….
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 01/02/2023.