Dependências

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Vivemos momentos inquietantes, marcados por instabilidades, volatilidades e incertezas crescentes e, ao mesmo tempo, estamos descobrindo as fragilidades estruturais e conjunturais, além de vislumbrarmos as dependências e as subalternidades que dominam a sociedade brasileira, num mundo marcado por grandes mutações, poderes hegemônicos e conflitos geopolíticos, neste cenário, precisamos reforçar nossa autonomia nacional.

Neste momento, percebemos uma situação inédita na sociedade global, o aumento dos conflitos militares, invasões territoriais, agressões externas, ingerências e políticas retaliatórias com interesses “ocultos”, que ameaçam a soberania e a autonomia das nações, além de tarifaços, mentiras e inverdades que degradam as organizações econômicas dos países, desestruturam as cadeias produtivas, gerando instabilidades e destruindo setores econômicos inteiros, com fortes impactos sobre o emprego e a renda nacional, degradando as condições de vida dos trabalhadores, exigindo uma atuação mais efetiva dos governos com políticas fiscais para evitar uma devastação social.

Neste ambiente, percebemos nosso subdesenvolvimento estrutural, cultuamos valores externos, defendemos interesses estrangeiros, valorizando nações que nos exploram, agredimos símbolos nacionais e criamos um universo paralelo, rechaçando o nacional, degradamos as instituições nacionais e acreditamos que somos verdadeiros patriotas.

Neste momento percebemos nossa dependência tecnológica e sentimos, na pele, nossas fragilidades econômica, produtiva e financeira. No mundo digital, que caracteriza a sociedade contemporânea, os agentes econômicos e produtivos buscam novas formas de agradar e satisfazer as necessidades dos consumidores, para isso, compram tecnologias externas, pagam royalties gigantescos, importam produtos e técnicas estrangeiras e rechaçam a tecnologia nacional, entregam empresas nacionais estratégicas, além de deixar a míngua as universidades, os centros de pesquisa, reduzindo os investimentos na educação e, com isso, aprofundam a forte dependência tecnológica que acumulamos a séculos. Neste momento, percebemos que cultivamos um verdadeiro viralatismo, termo cunhado por Nelson Rodrigues, que perpetua nossa dependência econômica e, principalmente, a nossa dependência intelecto cultural.

Vivemos num momento em que as nações estão buscando valorizar suas potencialidades, defender seus interesses nacionais e sua soberania política, fortalecer seus setores produtivos, estimular uma reconstrução industrial e diminuir nossas dependências externas, para evitarmos que, em momentos de incertezas e instabilidades externas, como as que vivemos atualmente, não degradem nossas estruturas econômicas e limitem nossa capacidade de organizar seus setores produtivos.

Atualmente vivemos momentos valiosos para a sociedade nacional, as crises tarifárias e as ameaças estrangeiras nos mostram nossa fragilidade externa e nossa polarização interna. Nos anos 90 apostamos que a melhor forma para alcançarmos nosso desenvolvimento era internacionalizar nossa estrutura produtiva, abrimos nossa economia, atraímos grandes conglomerados econômicos, compramos produtos estrangeiros, adquirimos mercadorias melhores e mais eficientes e, não percebemos que fragilizamos nossa estrutura produtiva. Passamos a comprar produtos industrializados de todas as regiões do mundo, atraímos novos parceiros comerciais, diversificamos nossas importações, desindustrializamos nossa economia e aumentamos nossas dependências externas.

As grandes mudanças engendradas desde o final do século passado foram interessantes e transformaram nossas estruturas econômica e produtiva. Estabilizamos nossa moeda, estabilizamos nossa economia privatizamos empresas estatais, diminuímos o papel do Estado, aumentamos nossa dependência tecnológica e nossa subordinação financeira e consolidamos nossa primarização econômica e nos tornamos mais dependentes da setor agroexportador, neste cenário global de novos desafios, percebemos os equívocos cometidos ao desindustrializar nossa economia e, neste momento, se não aumentarmos nossa complexidade econômica vamos perpetuar nosso atraso histórico.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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