Desacelerando a economia

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A economia brasileira apresenta uma desaceleração nos últimos meses, com impactos para toda a estrutura econômica e produtiva. Depois de uma melhora nos últimos anos, com crescimento na casa dos 3%, estamos percebendo uma perda de dinamismo econômico, ainda mais, num momento de grandes incertezas externas geradas pelo governo estadunidense, com medidas abruptas, tarifas elevadas e uma política mais pragmática.

A economia brasileira apresentou indicadores macroeconômicos positivos desde 2023. Melhora no ambiente de negócio, crescimento no produto interno bruto (PIB), aumento nos superávits comerciais, investimentos produtivos em ascensão, redução do desemprego, incremento do crédito e aumento significativo da renda dos trabalhadores, tudo isso, contribuiu para a melhora significativa da economia nacional.

Vivemos numa sociedade global marcada pela crescente instabilidade econômica e uma forte polarização política, que afugenta investimentos produtivos e levam os agentes privados a buscarem ativos mais seguros, restando aos governos nacionais aumentarem os dispêndios governamentais como forma de evitar a retração da economia nacional, cujos impactos negativos são elevados e, ao mesmo tempo, prejudicam fortemente os governos de plantão.

No caso brasileiro, percebemos o agravamento das questões fiscais que limitam o incremento dos gastos públicos, limitando os investimentos internos e canalizando grandes recursos monetários para o pagamento da dívida pública que, com uma taxa de juros estratosférica de 15%, transfere somas elevadas de recursos do orçamento público para os rentistas, aumentando a concentração de renda e incrementando as variadas desigualdades da sociedade brasileira.

Percebemos que a economia brasileira vem desacelerando, isto está acontecendo porque os motores do crescimento econômico estão sendo fragilizados, o consumo das famílias vem perdendo o dinamismo em decorrência das taxas de juros elevadas e o endividamento crescente, o setor exportador que sempre contribuiu para acelerar o crescimento vem perdendo espaço em decorrência das incertezas e das instabilidades motivadas pelas políticas altamente protecionistas adotadas pelo governo norte-americano, além das dificuldades fiscais, vistas pelo mercado como um limitador dos investimentos públicos, neste cenário, estamos vivendo um momento de inquietação e fortes incertezas, onde estamos aguardando novas medidas para impulsionarem o crescimento econômico e evitar uma maior degradação econômica.

O país acumula grandes desequilíbrios estruturais, o crescimento econômico é fundamental para reduzir os péssimos indicadores econômicos e sociais, sem fortalecer nossos setores econômicos e produtivos, sem impulsionarmos os empregos e sem uma melhora da renda agregada vamos gerar graves constrangimentos sociais, com aumento de violência urbana e uma degradação das condições de vida da população mais fragilizadas.

Neste momento, marcado por instabilidades crescentes em todas as regiões do mundo, é importante construirmos um verdadeiro projeto de país, precisamos olhar para o futuro e adotarmos, com urgência, políticas efetivas que garantam espaço de crescimento e inserção mais soberana no ambiente global, deixando modelos ultrapassados de crescimento econômico que pouco trouxeram de melhorias para a sociedade brasileira. Neste momento, precisamos construir empresas nacionais consolidadas, desenvolver tecnologias inovadoras, desenvolver setores que apresentem vantagens reconhecidas internacionais, reduzindo dependências externas e diversificando nosso comércio internacional, precisamos evitar a concentração de vendas externas em apenas poucas nações, consolidar novos parceiros comerciais e fortalecer nossa estrutura produtiva, deixando de lado um viralatismo estrutural que perpassa a elite nacional, sempre ativa e muita criativa para perpetuar nossa submissão e nossa dependência externa.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e professor unive

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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