Desemprego, pandemia e desagregação social

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Estamos vivenciando um momento muito específico do sistema econômico e produtivo internacional, marcado por pandemias, medos e desesperanças, que geram desestruturações e conflitos generalizados, levando os indivíduos a momentos de preocupações e desesperos, aumentando os conflitos internos e abrindo espaços para confrontos entre nações, guerras comerciais, ofensas constantes que podem culminar em conflitos armados, destruições materiais, espirituais e degradações morais, neste momento nos perguntamos, para onde caminha a humanidade?

Um dos grandes problemas da sociedade contemporânea é o desemprego que cresce de forma rápida e acelerada, levando as comunidades inteiras a degradações variadas, o desemprego se espalha em todas as nações, desde os países mais ricos e afortunados, até os países menos dotados de recursos monetários e financeiros, espalhando a desestruturação, os saques, os conflitos e as violências crescem de forma aceleradas. Neste ambiente, percebemos a destruição dos espaços sociais de convivência e de respeito entre os povos, antes agrupamentos eram caracterizados como ordeiros e hospitaleiros, estão se transformando em verdadeiros animais dotados de fúrias e de ódios em ascensão.

O sistema econômico capitalismo revolucionou a sociedade mundial ao abrir novas oportunidades de ascensão social, com isso, possibilitou uma grande parte da sociedade europeia ao garantir seu crescimento econômico e melhorias de vida, ascendendo profissionalmente e angariando recursos monetários, gerando novos espaços de investimentos e melhorias sociais, este movimento trouxe legitimidade para a comunidade, construindo laços sociais e novas oportunidades de crescimento e, posteriormente, desenvolvimento econômico.

Os trabalhadores saíram nos meios rurais e buscaram novos espaços de emprego, surgiram as novas estruturas produtivas, baseadas em fábricas e, posteriormente, estruturas industriais, que empregavam levas de trabalhadores, gerando renda e garantindo salários e benefícios sociais, este período a sociedade passava por momentos de grandes transformações, um período extraordinário de ascensão social, impulsionando a ciência, o conhecimento, os cientistas e pesquisadores ganhavam espaços na sociedade e impulsionaram as descobertas científicas, novas máquinas, equipamentos, descobertas de novas áreas e oportunidades crescentes.

Os trabalhadores urbanos cresciam e se estruturaram, garantiam direitos e benefícios variados, famílias eram constituídas, as escolas se consolidavam, a ciência mudava os ambientes de atuação social, levando um papel central para os pesquisadores, os cientistas e homens do conhecimento, que passavam a ser vistos pela coletividade com respeito e admiração, indivíduos centrais para a sociedade da época, com novos paradigmas do mundo de trabalho, da produção, da produtividade, das escalas, das metas, dos lucros, da acumulação e da sobrevivência.

Nesta época, meados do século XIX, um intelectual alemão destacou questões que geravam grandes controvérsias na sociedade europeia, segundo Karl Marx o sistema capitalista era o maior sistema gerador de riquezas da sociedade, nenhum outro modelo econômico e produtivo gerava tanta riquezas e espaços de acumulação na sociedade, mas destacou ainda, que o sistema econômico capitalista tem um defeito central, o capitalismo concentra nas mãos de poucos grupos sociais, gerando confrontos crescentes entre capital e trabalho, um conflito irreconciliável entre estes grupos sociais, seus interesses eram diferentes e antagônico e este conflito era o grande motor da sociedade, neste confronto os grandes ganhadores eram os espoliados, os trabalhadores, os proletários, os mais pobres e explorados. A mais de 150 anos, os escritos deste alemão foram responsáveis por grandes controvérsias na sociedade capitalista, alguns teóricos defendendo seus estudos e suas conclusões, outros grupos rechaçando seus pensamentos, gerando controvérsias constantes e dissensos na sociedade, conflitos e agressões variadas.

No século XXI, as controvérsias continuam atuais, os teóricos atrelados acreditam que vivemos numa sociedade marcada pelo crescimento no desemprego estrutural, que crescem de forma acelerada, gerando um verdadeiro calvário nas classes dos trabalhadores, que percebem o incremento do desemprego, onde levas gigantes de trabalhadores estão perdendo seus empregos, seus salários, suas rendas e sua dignidade, levando novos confrontos, desesperos crescentes e violências generalizadas, desestruturações sociais, egoísmos variados e competitividades crescentes entre todos os grupos sociais , acabando com a solidariedade de classe, as amizades entre os indivíduos e a integração social, estamos rumando para uma forte desagregação das comunidades.

De outro lado, percebemos grupos enormes de pessoas e pesquisadores, atrelados aos ideários das classes dominantes, defendendo o incremento da concorrência, da redução do Estado Nacional, da privatização das empresas estatais e o crescimento de entidades privadas, garantindo novos espaços do mercado, visto como o grande agente construtor do crescimento econômico, gerador de riqueza e garantindo melhorias crescentes das condições sociais e bem-estar social.

Na sociedade brasileira, percebemos esta discussão constante em todos os poros da coletividade, neste momento, percebemos o desemprego crescendo de forma acelerada, mais que o desemprego, percebemos o aumento da desesperança, as pessoas perderam as esperanças de encontrar novos postos de trabalho, os investimentos se reduzem e os investimentos estrangeiros fogem da sociedade brasileira, levando as taxas de câmbio desvalorizações históricos, aumentando o endividamento das empresas nacionais e abrindo espaços para ganhos dos setores exportadores, exportações ganham espaço mas, ao mesmo tempo, esquecemos que nossa indústria morreu, perdeu dinamismo e foi superada pela concorrência internacional, principalmente das nações asiáticas, que ganharam espaços no comércio global e deixando o Brasil como exportador de produtos primários, com isso, estamos nos restringindo apenas a um exportador de produtos primários, tais como soja, laranja, minério de ferro, petróleo, dentre outros. Seu momento de reprimarização das exportações nacionais, somos referências no comércio internacional, exportamos muitos commodities, garantindo grandes recursos de moeda estrangeira, mas os empregos gerados na economia interna são limitados, evidenciando as grandes dificuldades da geração na economia nacional.

Devemos destacar ainda, que a sociedade mundial está passando por um momento de pandemia com impactos generalizados em todas as nações, gerando desemprego em todas as regiões, levando grandes levas de trabalhadores para o subemprego, empresas para a falência, famílias com reduções orçamentários consideráveis, além de desestruturação social, medos elevados e desesperanças crescentes. No caso brasileiro, a pandemia desnuda a péssima degradação social, mostrando as desigualdades nacionais que são estruturais, de um lado, um pequeno grupo de famílias perceberam o alto crescimento de suas fortunas, seus patrimônios cresceram de forma acelerada e, em contrapartida, uma grande parte da sociedade nacional perceberam a redução de seus rendimentos, levando uma parte crescente da sociedade nacional buscar recursos do auxílio emergencial do governo federal, sem estes recursos, grande parte da coletividade estava sem recursos de sobrevivência de forma digna e decente, aumentando o fosso social na sociedade brasileira.

A miséria social brasileira está sendo desnudada por completa, mais de sessenta milhões de brasileiros receberam recursos oriundos do auxílio emergencial, embora percebamos que mais de 10% das pessoas que receberam estes recursos e foram de forma indevida, pessoas que fraudaram ou que burlaram o recebimento, mesmo assim, os números são expressivos e assustadores, vivemos num momento de grande apartheidsocial, exclusão, violência, os impactos desta indigência nacional estão em plena degradação da nossa identidade nacional.

A miséria social vem sendo construída a muitos séculos, explorações crescentes são continuadas, neste momento percebemos que as perspectivas para o Brasil são negativas e preocupantes, de um lado percebemos a saída de investimentos estrangeiros, com isso, percebemos a desvalorização da moeda nacional, com isso, percebemos o aumento dos preços internos, principalmente nos produtos fundamentais, resultado da atuação tímida e limitada do governo nacional nos estoques reguladores que foram vendidos no mercado externo. Sem estoques de regulação, que sempre foram utilizados pelo governo nacional para conter os preços internos, com isso, os preços nacionais crescem e seus impactos na renda dos trabalhadores são imediatos, neste ambiente as perdas foram acentuadas para a classe trabalhadora.

A pandemia está apresentando um novo modelo de trabalho, o trabalho remoto impulsionou muitas empresas e garantiu a continuidade de seus mercados, garantindo novos espaços de produtividade e, ao mesmo tempo, reduziu a interdependência dos trabalhadores, afastando-os dos espaços de conversação, de negociação e trocas de experiências, com isso, os novos modelos de trabalhos estão desmobilizando os trabalhadores e levando os sindicatos, uns poucos que ainda conseguiram sobreviver, perdendo mais espaços de negociação, fragilizando os instrumentos de questionamentos, afastando-os dos agentes de representatividades, fragilizando as pautas dos trabalhadores e garantindo forças mais crescentes nas negociações dos confrontos entre capital e trabalho. Neste ambiente, os sindicatos perderam a centralidade na sociedade contemporânea, as reformas trabalhistas que bradavam que trariam novos empregos e traria novas oportunidades na classe trabalhadora, com isso, percebemos que os trabalhadores mais uma vez foram enganados, explorados e desmobilizados, criando um ambiente, na contemporaneidade, onde os mais fracos são degradados pelos mais fortes.

Pesquisas recentes feitas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), nos últimos cinco anos mais de 46% dos empregos gerados na economia nacional foram de trabalhos de baixo valor agregado, trabalhadores mal remunerados, sem qualificação ou com baixa capacidade, com isso, uma reflexão sobre os dados destacados na pesquisa nos leva a uma grande preocupação pelos rumos da sociedade nacional, sem empregos qualificados, bem remunerados e sem trabalhadores capacitados, o futuro da sociedade brasileira será assustador e preocupante.

Na sociedade brasileira estamos caminhando num momento de degradação social com data marcada, sem projeto nacional e sem credibilidade internacional, o país está se aproximando do caos. O desemprego cresce todos os dias, o fim do auxílio emergencial terminará em dezembro, deixando uma parcela crescente da sociedade sem proteção, sem emprego e sem perspectivas, estamos rumando para a degradação, com subemprego crescente, desalento em ascensão, dívida pública acelerando, rumando para 100% do produto interno bruto, gerando instabilidade no mercado e gerando constrangimentos no governo e na sociedade.

Neste ambiente, percebemos a grande dificuldade do governo para encontrar um novo rumo para a sociedade brasileira, rumamos para a degradação econômica, a pandemia acelerou a desagregação social e mostrando que a elite nacional fracassou na construção de um país mais viável, mas sustentável e novos espaços de crescimento inclusivo, onde todos os grupos sociais, desde os ricos aos pobres e miseráveis, todos conjugando com os valores da civilização, com emprego e salário dignos e decentes, com novos espaços de desenvolvimento social.

O maior economista brasileiro de todos os tempos, Celso Furtado, nos faz um grande alerta, num momento de suas andanças, escreveu que durante mais de cinquenta anos que estudo da economia brasileira, nunca encontrou um problema eminentemente econômico na sociedade nacional, todos os problemas que temos são, todos são problemas eminentemente políticos, para resolver este problema nacional temos de construir respostas originais no campo da política.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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