A economia mundial vem passando por momentos de grandes transformações, a instabilidade e as incertezas crescem de forma aceleradas, a pandemia está criando novos desafios, muitos setores estão desestruturados, as cadeias de produção entraram em crise, o desemprego afetou parte significativa da população mundial, exigindo políticas efetivas de geração de emprego, salário e renda, além da reestruturação das políticas existentes para reativar os sistemas econômicos e produtivos. Vivemos num momento de repensarmos a sociedade global, desde a crise de 2008, da ascensão da China, destacamos a pandemia como potencial transformadora da coletividade mundial, exigindo novas lideranças, novas agendas e novas prioridades.
A situação da sociedade é de apreensão, a fome cresce de forma acelerada, o desemprego cresce, o subemprego e o desalento apresentam sinais de incremento, os sinais negativos da pandemia não arrefecem, gerando medos e instabilidades sociais, mostrando as desigualdades escondidas na sociedade, mostrando a falência da sociedade, falta liderança política, gestão coordenada entre os setores federativos e capacidade de gestão, deixando de difundir opiniões generalizadas e estímulo da ciência, comportamentos centrados no pensamento científico, na pesquisa e na reflexão da ciência.
Nos países desenvolvidos os governos estão injetando recursos monetários na economia, estes governos estão atuando no campo fiscal, aumentando os gastos e direcionando recursos para a geração de emprego, como forma de alavancar a economia, estimulando investimentos produtivos, ativando os recursos para a infraestrutura, adotando o receituário keynesiano.
Neste ambiente, as sociedades estão recorrendo a estímulos nos grupos mais fragilizados, canalizando recursos para alavancar os gastos das famílias e, com isso, estimulando a produção, com geração de emprego e da renda. Vivemos num momento de grande desenvolvimento tecnológico, neste ambiente de transformações aceleradas e estruturais, os trabalhadores estão percebendo a substituição de seus empregos, por máquinas e equipamentos, neste momento, faz-se necessário, a construção de um novo pacto social, evitando o crescimento da exclusão social e garantindo recursos mínimos e dignos para a sobrevivência das classes sociais, sem estes novos consensos, a ruptura deste modelo de organização social tendem a acontecer muito rapidamente e os custos sociais, econômicos e políticos impactará para toda a coletividade.
A recuperação econômica é fundamental para diminuir as tensões sociais na sociedade brasileira, neste momento, percebemos sinais, embora incipiente, de melhoria econômica. A recuperação está sendo estimulada com o aumento das commodities que passam a estimular a entrada de moedas estrangeiras, com isso, melhora as pressões cambiais e diminuem a possibilidade de incremento nos preços. Mesmo sabendo que o momento é salutar, precisamos entender que os ventos externos positivos não tendem a estimular o crescimento da economia nacional por muito tempo, precisamos adotar uma política mais assertiva e responsável na condução da economia brasileira, deixando de lado o arrocho excessivo das contas públicas e atuando mais efetivamente nos investimentos públicos, sem os gastos públicos e investimentos consistentes em educação, pesquisa e saúde, a recuperação tende a demorar e os indicadores sociais tendem a piorar e as condições tendem a gerar desequilíbrios crescentes.
O desemprego é uma das maiores indignidades da sociedade mundial, a tecnologia deve ser vista como um instrumento para melhorar o trabalho e a produtividade, além de integração social e emocional. Nos moldes que estamos percebendo, a tecnologia está sendo vista como uma forma de apartheid social e econômica, gerando pequenos bolsões de ricos e endinheirados e uma massa enorme de indigentes e miseráveis, onde o empreendedorismo e a meritocracia aumentam a distância entre as pessoas, criando pequenas castas de privilegiados e um contingente de excluídos e depauperados.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 09/06/2021.