A economia vem passando por grandes transformações nos últimos anos, gerando alterações estruturais e conjunturais em todas as nações, aumentando os desafios e criando oportunidades. A pandemia gerou muito mal-estar na civilização, exigindo novas posturas, novos comportamentos e novos consensos políticos e institucionais, além de liderança, competência e diagnósticos precisos.
Dentre os novos desafios da sociedade, é fundamental que as nações passem a repensar suas estruturas econômicas e produtivas, analisando para onde os países estão caminhando e quais rumos da sociedade para os próximos anos, criando os consensos necessários num momento de instabilidade e desafios crescentes, individuais e coletivos, somados as novidades, ainda desconhecida, no mundo pós-pandemia.
Neste momento, percebemos inúmeros países repensando suas economias, reconvertendo projetos institucionais, priorizando investimentos sociais e construindo consensos centrais para estimular o desenvolvimento econômico. A sociedade brasileira passou por um grande salto produtivo no século XX, saímos de uma economia agrícola, dependente de produtos primários de baixa valor agregado para uma economia marcada por setores industriais de média complexidade e um setor do agronegócio pujante e com forte capacidade produtiva.
Desde os anos 80 a economia brasileira perdeu dinamismo e o sonho do desenvolvimento econômico ficou mais distante, com impactos negativos na sociedade, baixa produtividade e perda de mercados externos. A pandemia pode nos trazer novas perspectivas para a economia brasileira, diante disso, faz-se necessário a construção de consensos internos e crescentes investimentos em capital humano. Os países que conseguiram ultrapassar a renda média garantiram grandes investimentos em setores produtivos estratégicos, centrados num projeto nacional que atraia todos os atores econômicos em prol do incremento da produtividade da economia.
O crescimento é fundamental para a construção do desenvolvimento econômico, mas insuficiente se este crescimento não for dividido para toda a coletividade, para que isso aconteça, é fundamental a construção de um projeto político que perpasse um governo, mas deve ser visto como um projeto de Estado, cujos setores dinâmicos participem ativamente desta empreitada, contribuindo para o tão sonhado desenvolvimento econômico, que inclua a população, preserve a meio ambiente e a melhoria do bem-estar social da coletividade.
O desenvolvimento econômico é um projeto político que envolve todos os setores econômicos, sociais e políticos, investindo fortemente na formação de capital humano, fortalecendo os centros de pesquisas, priorizando gastos nas universidades, fomentando centros de inovação, estimulando um ambiente de cooperação e parceria entre os setores produtivos.
O desenvolvimento econômico pressupõe uma associação entre os setores industriais e produtivos com as universidades e os centros de pesquisa, motivando o ensino da ciência e da tecnologia, angariando trabalhadores altamente capacitados, com salários elevados e impulsionando o mercado consumidor e estimulando o aumento da demanda, dinamizando a economia, o emprego e os investimentos produtivos.
Nesta construção do desenvolvimento econômico, faz-se necessário recursos para financiar os investimentos em infraestrutura física e imaterial, políticas públicas, pesquisa científica e tecnológica e maciços recursos em formação de capital humano. Os recursos devem ser extraídos de uma ampla mudança da estrutura tributária, alterando as bases dos tributos, reduzindo a excessiva desoneração que poucos ganhos trouxeram para a sociedade, tributando as propriedades, o patrimônio, os lucros e os dividendos, e desestimulando o capital financeiro improdutivo em detrimento de consumo e da produção.
O desenvolvimento econômico exige maturidade dos setores políticos e econômicos, além de liderança, planejamento e estratégias definidas, sem projetos econômicos e políticos consistentes, estaremos nos distanciando do desenvolvimento e caminhando, a passos longos, a estagnação e a desintegração social.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 04/08/2021.