A economia brasileira apresenta espaço para grandes discussões sobre suas perspectivas para o ano de 2014, para muitos economistas o ano será bem melhor do que o ano que terminou, enquanto outros acreditam que os problemas se aprofundarão e as possibilidades de mudanças mais significativas só devem acontecer em 2015, mesmo se o atual governo conseguir ser reeleito, o que, neste momento, apresenta grandes possibilidades.
O ano passado foi marcado por uma queda de braço entre governo e mercado, principalmente o mercado financeiro, que viam o governo como intervencionista, protecionista, heterodoxo e pouco ousado nos fóruns internacionais, condenando o país a uma situação de isolamento nos acordos e nos compromissos externos que, numa economia marcada pela crescente interdependência entre os agentes econômicos, traria pouca possibilidade de inovação e melhoria de nossa capacidade produtiva.
O governo, em contrapartida, se mostrou muito confuso em suas decisões econômicas, adotando políticas para arbitrar os ganhos dos concessionários, interferindo em setores estratégicos de forma atabalhoada, criando, com isso, uma crescente instabilidade jurídica e afugentando os investidores internacionais, fundamentais para o aumento dos investimentos externos responsáveis pela geração de novos empregos e melhoria na renda agregada da sociedade.
Os últimos anos foram marcados por baixas taxas de crescimento econômico, entre 2% e 2,5%, com inflação crescente na faixa dos 5,5%, taxas de juros elevadas e déficits nas contas externas, o que, para muitos, pode sugerir graves desequilíbrios econômicos para os economistas vinculados ao mercado financeiro, embora os indicadores não sejam tão saudáveis estamos muito longe de situações negativas e perspectivas ruins como querem nos levar a acreditar estes economistas, não estamos como estávamos no período 2003-2010, mas estamos longe de situação de crise iminentes.
A política fiscal destes últimos três anos apresentou uma piora considerável, o que ficou caracterizado como “contabilidade criativa” pelos seus críticos, que viram nesta uma manobra do governo para esconder do mercado a degradação das condições fiscais do Estado, que vêm se deteriorando nos últimos anos com subsídios concedidos sem critérios claros, empréstimos e aumento de capitais para o BNDES financiar grupos econômicos com potencial de crescimento, política esta que ficou conhecida como campeões nacionais.
Em ano de Copa do mundo da Fifa, o Brasil hoje está sendo observado em todos os cantos do mundo, as obras atrasadas geram preocupações, os gastos excessivos e pouco transparentes criam perspectivas, no mínimo, preocupantes para a sociedade, estamos num momento de grande apreensão, podemos ter um evento internacional de grande sucesso mas, podemos estar diante de um fiasco cuja repercussão se irradiará para todos os setores da sociedade e terá impactos fortes nas eleições, podendo interromper um ciclo de governo do Partido dos Trabalhadores e levar novos ventos à Brasília.
Neste ambiente de discussões e debates encontramos ideias sérias nos dois lados, percebemos na oposição uma crítica, muitas vezes vazia e pouco inteligente, enquanto do lado dos defensores governamentais uma defesa sistemática a um intervencionismo estatal cujos impactos negativos são significativos. A discussão clássica de mais ou menos Estado, mais ou menos Mercado, me parece uma discussão desnecessária e pouco construtiva, temos que discutir se o Estado é eficiente na alocação de seus recursos, se estamos diante de uma redução estrutural das desigualdades ou apenas próximos de uma política conjuntural que se apoia apenas em propostas eleitorais e eleitoreiras, cujos benefícios se limitam ao calendário político-eleitoral, tempo suficiente apenas para que o governo consiga se manter no poder.
Neste Brasil encontramos uma constante crítica do governo com relação a perseguições sistemáticas do mercado e da mídia, esta perseguição não acontece apenas neste governo, mas constantemente. O que devemos frisar com tranquilidade é que esta perseguição é legítima em uma sociedade democrática, hoje o partido da situação reclama da guerra psicológica orquestrada pelos oposicionistas, mas neste desabafo esquece que, vinte anos atrás, era seu partido e seus companheiros os responsáveis por esta mesma guerra psicológica, se concentrando num papel de quanto pior melhor para seus interesses eleitorais, lembremos sempre e tenhamos consciência de nossas críticas, pois quem sabe num momento próximo seremos nós os responsáveis pelos rumos da sociedade.