As transformações econômicas são gigantescas na sociedade contemporânea, as estruturas produtivas estão se alterando rapidamente, os modelos de negócios estão passando por grandes alterações, o mundo do trabalho está em forte modificação, a riqueza vem sendo transformada, anteriormente, as riquezas eram tangíveis e, na atualidade, as riquezas são intangíveis, com isso, percebemos novos campos de estudo na economia e de reflexões sociais, surgindo a economia comportamental, com novos desafios, novas perspectivas e novas oportunidades de reflexão sobre o pensamento econômico.
Neste momento de novas reflexões, percebemos que alguns pressupostos centrais da ciência econômica estão perdendo espaço e sendo questionados abertamente, gerando constrangimentos e novas formas de refletir sobre as realidades econômicas da contemporaneidade. O homem econômico, anteriormente era visto como o agente dotado de grande racionalidade, que era visto como a base da maioria das teorias econômicas clássicas e que defendiam a tese de que o comportamento dos indivíduos era constantemente racional e automático, advogando que as escolhas dos seres humanos eram sempre racionais. Neste momento, está surgindo novos instrumentos de reflexão teórica e novas formas de tomada de decisão. Com o passar do tempo, essa visão perdeu força e vem perdendo espaço nas discussões econômicas, gerando novos constrangimentos, novas discussões, novos horizontes e novas inquietações.
O princípio da racionalidade econômica é baseado no sentido de que os indivíduos se comportam de maneira sempre racional e consideram opções e decisões dentro de estruturas lógicas de pensamento, em oposição a envolver elementos emocionais, morais ou psicológicos. A maioria das teorias econômicas clássicas é baseada na suposição de que todos os indivíduos que participam de uma atividade estão se comportando racionalmente. Este pensamento contribuiu para que a ciência econômica se afastou do pensamento social e gerou um sistema baseado em cálculo matemático, com equações de grande compreensão e modelos sociais distantes na realidade prática.
Nos anos 1950, alguns autores começaram a refletir sobre a interação entre o campo da economia e do campo da psicologia, até então estas duas ciências pouco se relacionavam, a primeira sempre muito matemática, a segunda, baseada no experimental. Posteriormente, alguns teóricos passaram a flertar com essas disciplinas buscando criar modelos mais realistas de como os indivíduos tomavam decisões econômicas. Destas reflexões teóricas, destacamos autores como Richard Thaler e Daniel Kahneman, que publicaram trabalhos explorando as anomalias das teorias econômicas convencionais. A economia comportamental nasce para responder essas situações não explicadas através do método experimental, garantindo a estes autores o prêmio Nobel da Economia.
Seus pesquisadores partem de uma crítica à abordagem econômica tradicional, apoiada na concepção do “homo economicus” que é descrito como um tomador de decisão racional, ponderado, centrado no interesse pessoal e com capacidade ilimitada de processar informações. A economia tradicional considera que o mercado ou o próprio processo de evolução são capazes de solucionar erros de decisão provenientes de uma racionalidade limitada, com isso, percebemos a fé cega nos mercados como agentes de organização social.
Em contraposição a essa visão tradicional, a Economia Comportamental sugere que a realidade é diferente: As pessoas decidem com base em hábitos, experiência pessoal e regras práticas simplificadas. Aceitam soluções apenas satisfatórias, buscam rapidez no processo decisório, tem dificuldade em equilibrar interesses de curto e longo prazo e são fortemente influenciadas por fatores emocionais e pelo comportamento dos outros.
As novas ideias trazem novos horizontes para a ciência econômica, recolocando os seres humanos no centro das questões mais relevantes, mostrando que por trás dos cálculos econômicos existem indivíduos, com vontades, desejos e necessidades.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 05/10/2022.