Economia e Educação

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Vivemos momentos de grandes alterações em todos os setores da sociedade, o mundo contemporânea se transforma rapidamente, as tradições estão sendo destruídas, os modelos econômicos estão em movimento, as famílias passam por novas configurações, os relacionamentos estão em alterações constantes, os trabalhadores estão agitados e assustados, as doenças contemporâneas trazem patologias centradas nos desajustes emocionais existenciais, levando os seres humanos a reflexões sobre as condições da vida na sociedade contemporânea, gerando dores na alma, incertezas e instabilidades, incrementando as preocupações com a saúde mental dos indivíduos.

Nesta sociedade, a economia deixou de ser um espaço legítimo de satisfação das necessidades dos seres humanos, onde a ciência econômica foi construída como instrumento para garantir que as demandas e as necessidades dos seres humanos sejam satisfeitas, sabendo ainda, que os recursos existentes na natureza são limitadas, cabendo a economia a construção de um cenário onde todos os indivíduos tenham acesso aos bens, mercadorias e serviços necessários para sua reprodução social, uma vida digna e decente, mesmo sabendo que as incertezas e as instabilidades crescem em todas as sociedades.

Nos últimos anos, a economia se transformou em um espaço de acumulação extraordinária, onde os setores financeiros passaram a comandar a estrutura econômica e produtiva, impondo seus interesses imediatos, garantindo lucros escorchantes, contribuindo para a manutenção e, principalmente, para a perpetuação de uma estrutura social degradada, abduzindo todos os agentes da sociedade, comprando consciências, dominando as redes sociais e impondo uma agenda que consolide seu interesse, cultuando a meritocracia, estimulando o empreendedorismo, o individualismo e o imediatismo.

Nestas andanças profissionais, percebemos que os indivíduos acreditam que a educação é a chave do desenvolvimento econômico da sociedade, acreditamos piamente nesta equação que associa a educação com as grandes transformações da estrutura produtiva, garantindo uma melhora substancial no capital humano, com fortes investimentos em ciência, pesquisa e inovação, afinal estamos na chamada era do conhecimento.

Todas as nações que conseguiram alçar fortes melhorias econômicas, sociais e produtivas e saíram de condições intermediárias para se transformarem em nações desenvolvidas, só conseguiram essa proeza com um projeto de nação, com fortes investimentos educacionais, com forte valorização da educação nacional, elevados investimentos nos professores e profissionais da educação, com melhoras constantes na infraestrutura das escolas, garantindo as condições necessárias para alçar voos elevados e necessários, projetos pedagógicos inovadores, cobranças de resultados e sólidos contatos com setores econômicos e produtivos.

Neste cenário, precisamos recolocar a educação no centro das discussões econômicas, deixando de lado discussões secundárias de indicadores macroeconômicos que servem apenas para perpetuar os ganhos dos rentistas e dos financistas, que adoram discutir seus ganhos imediatos, seus lucros estratosféricos, resultados vistos como a sua capacidade de investir, farejar lucros e compreender os códigos do mundo das finanças, se esquecendo que seus grandes retornos se dão através de taxas de juros elevadas, fraudes empresariais e sua capacidade de controlar seus prepostos na gestão pública e perpetuando suas riquezas em detrimento de uma massa de empobrecidos e marginalizados.

A educação é imprescindível para o desenvolvimento econômico de uma nação, garantindo uma maior complexidade na estrutura econômica e produtiva, incentivando empregos de qualidade, reduzindo as desigualdades sociais e garantindo novos recursos para impulsionar os setores produtivos, com políticas públicas que ataquem as causas das desigualdades que degradam e limitam o crescimento econômico brasileiro, que reduzem as potencialidades da nação e garantindo ganhos vultuosos para poucos. Mas o que me assusta, parafraseando Darcy Ribeiro “a crise da educação no Brasil não é uma crise, mas um projeto”.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Brasileira Contemporânea, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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