Educação, aumento de produtividade e desenvolvimento econômico

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O Brasil passa por um período de forte degradação econômica, depois de uma queda de mais de 8% no produto interno bruto (PIB), a economia não conseguiu se recuperar e voltar a crescer de forma consistente, o resultado imediato desta situação é um incremento do desemprego, uma redução da renda e do consumo e perspectivas ainda muito frágeis de uma possível volta do crescimento econômico e melhores resultados no futuro.

São inúmeros os fatores que impedem uma volta mais rápida do crescimento econômico, para alguns economistas o pacto criador da Constituição de 1988 não se sustenta mais, fazendo-se necessário ajustes estruturais do modelo, sob pena da economia não resistir e entrar em um verdadeiro colapso, para estes economistas, o Estado brasileiro deve ser reduzido rapidamente e o setor privado deve ser estimulado a concorrer e trazer melhoras para a economia. De outro lado, encontramos economistas que defendem pensamentos diferentes, segundo estes, a economia parou de crescer e se mostrou ineficiente porque os juros pagos pelo governo são escorchantes e reduzem a capacidade de investimento do país, condenando-nos a um baixo crescimento econômico, além disso, nosso sistema tributário é muito regressivo, penaliza os mais pobres e a classe média, como estes setores estão envoltos diretamente nesta desaceleração econômica, estes se veem obrigados a reduzir seus consumos, deixando a economia sem tração para impulsionar o crescimento econômico.

Embora tenhamos muitas teorias para explicar as dificuldades e as limitações do crescimento econômico, a ausência dele está gerando uma taxa de desemprego em níveis elevados e assustadores, deixando mais de 28 milhões de pessoas sem emprego ou subempregados e com grandes dificuldades de cumprir com seus compromissos financeiros, nesta ambiente percebemos um incremento na marginalidade, na pobreza e um aumento considerável na população de moradores de rua, pessoas em situação degradante, sem perspectivas profissionais e com famílias beirando a insolvência e a indignidade.

O crescimento econômico aumenta as perspectivas da população de encontrar novas formas de emprego e de ocupação, abre novas possibilidades de profissionais e contribui para um maior dinamismo social, impulsionando regiões e incluindo pessoas e coletividades que estavam em condições precárias e, em muitos casos, se aproximando da marginalidade.

Para que tenhamos uma melhor condição econômica e encontremos o tão sonhado desenvolvimento econômico, o país precisa investir na qualificação de sua população, melhorar o perfil de seus trabalhadores e garantir condições dignas de sobrevivência, elevando a produtividade do trabalho que, como disse Delfim Neto, o “…desenvolvimento econômico se traduz pelo aumento da produtividade do trabalho”.

Para que consigamos elevar a produtividade do trabalho, faz-se necessário políticas fortes de investimentos maciços em educação, investimentos estes como foram feitos em países como Japão, Coréia do Sul e Israel, países descritos como exemplos de sucessos em dispêndios educacionais, embora saibamos que as condições destes países diferem diametralmente das condições brasileiras, todos estes contaram com grande auxílio financeiro, tecnológico e político dos governos norte-americanos que, por motivos variados investiram e protegeram, e ainda protegem, de forma acintosa estas economias.

Elevar a produtividade do trabalho requer políticas integradas de muitos setores, investimentos em qualificação, melhoras na infraestrutura e dispêndios maciços em pesquisa, ciência e tecnologia, garantindo uma melhor capacitação dos trabalhadores e, com isso, uma maior produtividade do trabalho. Para que tenhamos ideia de nosso atraso, em 1985, o economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, na época professor em Chicago, fez uma pesquisa para levantar a produtividade dos trabalhadores de vários países, dentre eles destacamos três: Brasil, China e Estados Unidos. Nesta pesquisa, se descobriu que a produtividade do trabalhador norte-americano era cinco vezes maior que a produtividade de um trabalhador brasileiro e vinte e cinco vezes maior de que a de um chinês. Em 2015 esta pesquisa foi refeita e os dados mostram poucos avanços da produtividade dos trabalhadores brasileiros, através dela se descobriu que a produtividade do trabalhador norte-americano é quatro vezes maior do que a do brasileiro e a do trabalhador chinês é cinco vezes menor do que a do norte-americano.

A grande novidade desta pesquisa foi o avanço da produtividade do trabalhador chinês e a quase estagnação do trabalhador brasileiro, tudo isto fica bastante claro quando olhamos para os resultados das economias brasileira e chinesa, enquanto o Brasil entrou num período de forte estagnação, a China tomou um caminho diferente, passando de posições intermediárias para se tornar a segunda maior economia do mundo, com grandes perspectivas de se tornar a maior economia do mundo nos próximos dez anos.

O avanço da produtividade da economia brasileira deve ser visto como uma forma de incrementar o desenvolvimento econômico, melhorando as condições sociais e garantindo um fortalecimento da economia, capacitando-a para integrar cadeias produtivas em vários setores, garantindo a produção e a exportação de produtos de valor agregado maior, que se revertem em ganhos financeiros e monetários para toda a população.

Na economia brasileira, temos uma configuração setorial (produtividade entre setores) ruim, no sentido de uma perda de espaço da manufatura e um aumento do espaço do setor de serviços tradicionais. Mas temos ainda, grandes problemas na produtividade dentro dos setores, intra-setorial, no setor da agricultura familiar/subsistência temos 15% da população e na agricultura moderna temos 2% da população, enquanto nos países desenvolvidos ou ricos, esta população está na casa do 2% ou 3% total, com isso, percebemos que nossa produtividade na agricultura é muito baixa quando a comparamos com os países ricos.

Nossa baixa produtividade não se limita ao setor agrícola, nossa indústria também apresenta números degradantes quando a comparamos com os países ricos, o grosso dos produtos que produzimos são de baixa tecnologia enquanto os países ricos apresentam produtos de média e de alta tecnologia.

Outro setor que gera resultados decepcionantes em termos de produtividade do trabalho é o de serviços tradicionais, sendo uma grande quantidade de serviços ultra simples efetuados em favelas e regiões pobres no Brasil afora, cuja mão de obra é pouco qualificada e as atividades geram baixíssimo valor agregado para todo sistema econômico e produtivo. Todos estes dados nos auxiliam na compreensão do porque os salários dos trabalhadores são baixos na economia brasileira, a produtividade do nosso trabalhador ainda apresenta números bastante limitados, com isso, nossos salários são reduzidos quando o comparamos com o de outros países.

Nos setores de commodities apresentamos resultados empolgantes, neste setor somos bons (ocupamos 1% do emprego total) e no setor de serviços modernos também apresentamos bons resultados, mas este último setor ainda é bem pequeno do ponto de vista da geração de emprego, são setores que ainda empregam uma baixa quantidade de mão de obra e trabalhadores altamente qualificados e capacitados.

Para que consigamos competir na Quarta Revolução Industrial, a melhora da qualificação da mão de obra e um investimento em capital humano devem ser vistas como uma política para o futuro, uma forma de aumentar a capacitação do sistema produtivo e garantir a entrada em setores com valor agregado maior. Alguns países conseguiram dar este salto educacional imenso, enquanto muitos gestores perdem seu tempo viajando para países que conseguiram acelerar seu desenvolvimento, deveríamos valorizar experiências locais inovadores e de grande sucesso, como a da cidade de Sobral. Ceará, cujos dados crescem e colocam a cidade nos radares de todos que se interessam pelos avanços dos setores educacionais.

Dentre as políticas que foram implementadas em Sobral, não encontramos nenhuma grande inovação tecnológica, nada de um tablet ou computador por aluno, nada de infraestrutura sofisticada e nenhuma sala de aula sem professor. Na experiência da cidade, destacamos um currículo claro, com fortes investimentos em formação continuada de professores, materiais didáticos de apoio, avaliações unificadas que subsidiam os professores e os coordenadores sobre o aprendizado de cada aluno e, fundamentalmente, uma boa gestão escolar, sem ela os avanços não seriam tão precisos e intensos.

Desta experiência da cidade de Sobral, destacamos a importância de um bom gestor para o desenvolvimento do setor educacional, gestores capacitados e dotados de visão técnica, capacidade de liderança e dedicação exclusiva, com salário atraentes e boas perspectivas de crescimento profissional, devem nortear as escolhas dos atuais e futuros gestores públicos, deixando de lado as contratações de apaniguados políticos e eleitorais, na maioria das vezes medíocres e incapacitados para gerir projeto tão grandioso, que se utiliza do cargo para ascender a posições maiores na cidade ou na região, deixando a educação para segundo plano.

Aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro deve ser um projeto integrado, onde vários setores devem contribuir ativamente para capacitar a população, universidades, empresas, governos e organizações da sociedade civil, garantindo condições dignas e decentes para que a verdadeira meritocracia ganhe espaço na sociedade. Exemplos grandiosos como as transformações educacionais ocorridas na China nos últimos trinta anos nos mostram que a educação deve ser vista como um projeto nacional, uma prioridade crescente, transformando a educação não em um projeto de governo, mas de um projeto de Estado.

De todos os exemplos exitosos de países que conseguiram um grande desenvolvimento econômico e melhorias no bem-estar social da população, encontramos um incremento nos investimentos educacionais, todos tiveram em comum a capacidade de elevar a educação ao topo de suas prioridades e atualmente colhem grandes avanços na sociedade.

Outro ponto importante e fundamental para uma melhoria na educação nacional, é compreendermos a relevância e a centralidade do professor e do pesquisador para o desenvolvimento econômico e social, sem eles não adianta outros esforços, continuaremos nos apegando a pensamentos mesquinhos e imediatos e continuaremos a ser lembrados como Brasil: o país do futuro, uma obra de muito sucesso escrita pelo judeu austríaco Stefan Zweig.

Neste projeto de integração, os variados grupos devem assumir suas responsabilidades, as universidades devem se aproximar mais da sociedade e das empresas, pesquisando, publicando e construindo conhecimentos compartilhados com a coletividade. As empresas devem mirar em investimentos de longo prazo, auxiliando os agentes governamentais na gestão das políticas públicas e deixando de lado a limitada dicotomia entre Estado versus Mercado. No mundo contemporâneo, onde a concorrência e a competição ganharam relevância econômica, social e política, os países desenvolvidos conseguiram compreender que a junção das forças é fundamental para garantir novas oportunidades de progresso e de crescimento econômico, devemos aprender com estes países e construir, de forma democrática e inclusiva, um projeto nacional que objetive uma sociedade melhor e uma economia mais competitiva para que num futuro próximo alcancemos o tão almejado desenvolvimento econômico.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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