Embate de gigantes na era da tecnologia

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Nos últimos anos as empresas estão envoltas em grandes e complexos sistemas de produção, inovação e distribuição, onde os menos preparados perdem espaço e são relegados ao esquecimento dos livros de história ou aos museus da tecnologia, que abrigam mais do que empresas e históricos, abrigam a vida e o legado de muitas gerações de indivíduos e comunidades.

Recentemente, um dos mais fortes embates entre empresas de tecnologia se encontra no eixo Estados Unidos-Ásia, neste embate de gigantes, algumas empresas tradicionais perdem espaços e novos grupos, até então desconhecidos, passam a ocupar posições de destaque, conquistando mercados e o gosto dos clientes com produtos ágeis e diversificados, num mercado que se movimenta com uma rapidez inacreditável.

Nesta competição encontramos empresas como a Sony, um dos conglomerados mais admirados na sociedade mundial até o início do século atual, referência em produtos de alta complexidade, criada e conduzida ao topo pelo japonês Akio Morita, o homem por trás de um dos mais revolucionários produtos da indústria, o walkman. Depois de um crescimento extraordinário em vários produtos, dentre eles os notebooks, os televisores, máquinas fotográficas, câmeras de vídeos, tocadores de CDs, máquinas de fax, os smartphones, entre outros, a empresa se encontra em uma situação de grande inquietação, números negativos e poucas expectativas positivas, uma verdadeira revolução no universo da tecnologia, quem imaginaria, a dez anos atrás, que no começo deste século a gigante nipônica perderia força e, para sobreviver, teria que abrir mão de produtos antes considerados o carro chefe da empresa.

Os problemas encontrados pela Sony não se restringem a apenas esta empresa japonesa, outras gigantes deste país também estão envoltas em graves problemas, conglomerados como a Panasonic, a Hitachi e a Sharp, empresas que foram responsáveis pela popularização de produtos eletrônicos em muitos países, dentre eles o Brasil, passam por graves desajustes. Quem não se lembra de televisores destas empresas adornando a sala de suas casas ou de seus avós em décadas anteriores?

Diante da crise, a Sony vendeu, recentemente, uma de suas mais importantes marcas, os computadores Vaio, referência no mercado da tecnologia, criado em 1996 e que inspirou ambições de desejos de, nada mais nada menos, que Steve Jobs, o homem por trás das grandes transformações da Apple, conhecido como um admirador da empresa japonesa em seus períodos de liderança e hegemonia. Nesta ambiente de crises e incertezas, a Sony vendeu sua marca Vaio, que foi adquirida por um grande fundo de investimento, uma tendência que parece clara em vários mercados, diante da crise, marcas e empresas se desvalorizam e são vendidas para fundos que as reestruturam e, posteriormente, vendem estes ativos e acumulam ganhos substanciais.

Empresas tradicionais perdem espaço para seus concorrentes e novos conglomerados econômicos surgem, quem fez uma leitura mais eficiente das mudanças e de seus desafios sobrevivem e crescer fortemente, são empresas mais ágeis e rápidas para compreender o mundo globalizado e as novas exigências de mercados, que exige um canal rápido e eficiente com os consumidores, um investimento maciço em inovação e na compreensão dos hábitos e costumes dos indivíduos, as que não conseguiram ver esta nova realidade se encontram em graves problemas de sobrevivência, muitas tendo que abandonar mercados deficitários e produtos tradicionais, uma decisão difícil, mas necessária, não importando sua história e suas conquistas, são excluídas do mercado ou são adquiridas por seus concorrentes e “esquecidas” pela sociedade.

No mundo atual, centrado nos smartphones, nos serviços e nos softwares (como o iTunes da Apple), as empresas japonesas se concentraram em decisões ultrapassadas e em produtos requintados, esta estratégia equivocada faz com que suas empresas amargassem resultados negativos em seus balanços e reduziram seus mercados abruptamente, e suas principais concorrentes ganharam musculatura, tais como a sul coreana Samsung e a norte-americana Apple, isto sem falar na chinesa Xiaomi, uma novata com apenas três anos de vida e um alto potencial de crescimento e inovação, mais uma empresa chinesa curgindo com força e potencial para transformar os mercados e abrir espaço para novos paradigmas produtivos e estratégicos.

Na busca pela sobrevivência, as empresas japonesas estão abandonando mercados tradicionais e se concentrando em novos espaços para acumulação, a Panasonic está se transferindo para a fabricação de equipamentos residenciais de consumo eficiente de energia; a Fujitsu, a Hitachi e a Sharp estão se concentrando na agricultura de alta tecnologia e a Sony, antes uma gigante invejada no mundo todo, busca inspiração estudando as medidas implantadas pela antiga concorrente, a holandesa Philips, que para sobreviver abandonou vários mercados de fraco desempenho, dentre eles, a fabricação de televisores, são decisões complexas e assustadoras que podem salvar a empresa ou encerrar um ciclo de décadas de liderança e inovação no mercado de eletrônicos.

As fragilidades das empresas japonesas nos levam a compreender algumas das limitações da economia do país, embora possuam um grande ativo caracterizado por patentes de alto valor e mão de obra altamente capacitada, seus executivos são, na sua grande maioria, profissionais com idade superior a 60 anos, marcados pela cautela e pela cultura japonesa do emprego vitalício, uma das grandes heranças da legislação trabalhista local, especialistas afirmam que mais de 30% dos trabalhadores empregados no setor são excedentes, mas que, pelas leis do país não podem ser desligados da empresa, tudo isso afugenta investimentos e restringem os lucros da empresa, além de reduzir o espírito empreendedor de seus novos dirigentes.

As empresas eletrônicas japonesas se encontram em um momento de grande reflexão, mudanças são necessárias e urgentes, sob pena de verem seus setores produtivos serem substituídos por produtos oriundos de outros países, principalmente de seus rivais e vizinhos, China e Coréia do Sul, mais uma batalha entre o tradicional e moderno, onde decisões dolorosas estão próximas de ser implantadas e os resultados serão amargos para o país num primeiro momento, mas fundamentais para redefinir o papel do país no mercado internacional de produtos eletrônicos.

 

 

 

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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