A globalização da economia transformou a sociedade internacional nos últimos quarenta anos, criando novas estruturas produtivas, novos modelos de convivência social, novos desafios para o mundo do trabalho, novas oportunidades e grandes instabilidades, que geram ansiedades, medos e incertezas cada vez maiores. Neste ambiente de crescimento da concorrência entre os atores econômicos, motivados pela globalização, os indivíduos precisam reinventar sua sobrevivência, sob pena de serem descartados e desumanizados, gerando inquietações sociais e políticas.
A globalização estimulou o consumismo, a busca crescente pelos valores monetários e imediatistas, contribuindo para uma crescente competição entre os atores sociais, uns ganham com este ambiente, angariando maiores lucros e ascensão social e econômica e, em contrapartida, muitos grupos são relegados ao esquecimento, perdem espaços no mercado de trabalho, são descartáveis e percebemos o aumento dos desequilíbrios emocionais, os transtornos, as depressões, as ansiedades e as desagregações.
Nesta nova sociedade, percebemos o incremento da tecnologia, o conhecimento ganha espaço e as inovações crescem de forma acelerada, motivando fortunas e riquezas, ações crescem e criam novos milionários, gerando novos atores no cenário internacional. Empresas gigantes perdem espaço na nova economia, atores marginais crescem, ganham robustez e se transformam em grandes conglomerados, novos modelos de negócio suplantam modelos tradicionais que exigem reestruturações, novas tecnologias e novas formas de compreensão do mundo dos negócios. Neste momento, percebemos que a globalização em curso na sociedade internacional está criando atores, os Globalizantes e os Globalizados. Os primeiros são descritos como os atores mais consistentes, mais inovadores, investiram e investem rapidamente em novas tecnologias, desenvolvem novos modelos de negócios, criam ambientes de empreendedorismo e inovação e atuam diretamente na construção de uma nova sociedade, centradas no conhecimento, na ciência e na pesquisa. Do outro lado, percebemos que os globalizados estão perdendo espaço na sociedade, investem pouco em inovação, reduzem os investimentos na educação, em ciência e tecnologia e colhem o ostracismo, a estagnação e a perpetuação das desigualdades sociais.
Os Globalizantes constroem espaços de consenso na coletividade e, com isso, ganham espaço na sociedade e perceberam a importância da industrialização como forma de angariar espaços no comércio internacional, garantindo o crescimento na escada tecnológica, se especializando em produtos de alto valor agregado e garantindo melhoras na qualidade de vida da população. Os Globalizados, a grande maioria das nações, se perdem em conflitos desnecessários, naturalizando a autodestruição, estimulando confrontos internos e, constantemente, se colocando como vítimas de um ambiente hostil, não conseguindo planejar e construir ações no longo prazo e se comprazem com a degradação do cotidiano, convivendo com a pobreza moral e a animosidade das relações sociais.
A globalização inaugurou um novo modelo de sociedade, trazendo ganhos e perdas para todas as nações, os setores que conseguiram crescer e ganhar espaço nesta nova sociedade foram os capazes de pensar na comunidade e nos interesses de todos os grupos sociais, criando novos vínculos políticos, reconstruindo a solidariedade em contrapartida a uma sociedade centrada no imediatismo e na alienação. Os ganhadores da globalização foram aqueles que investiram nos seres humanos, elegendo o capital humano como prioritário, garantindo novas oportunidades para todos os cidadãos, diminuindo os privilégios de poucos grupos sociais que vivem alardeando a meritocracia, mas cotidianamente, se esquecem que seus privilégios garantem a perpetuação de sua pseudo meritocracia.
O ambiente globalizado exige profissionalismo dos atores econômicos, as nações precisam construir diferenciais para se inserirem neste ambiente de concorrência crescente, seguindo os exemplos dos países que conseguiram alavancar seu desenvolvimento econômico, sem medidas concretas vamos continuar chafurdando na fome, na indignidade e no recuo civilizacional.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Administrador, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 22/12/2021.