Depois de três anos de desaceleração e crise econômica, marcadas por alto desemprego, queda considerável da renda e do salário, incremento da inflação e do endividamento público, além de um déficit crescente e de muita instabilidade política, o Brasil inicia um ciclo modesto de recuperação econômica e melhora no ambiente de negócios.
Com a recessão e os desequilíbrios econômicos, os investimentos foram reduzidos, de um lado as empresas acumularam grandes estoques e, com isso, evitavam aumentar seus investimentos produtivos; de outro, o incremento nos trabalhadores desempregados, sem salários e sem rendas, sem empregos estes trabalhadores não possuíam recursos para adquirir seus produtos e mercadorias necessárias para a sobrevivência e de seus familiares, levando uma parte substancial dos trabalhadores a viver em condições degradantes e indignas, com isso, percebemos um aumento na pobreza e na marginalidade.
A crise gerou graves impactos sociais, o incremento do desemprego levou mais de 12 milhões de pessoas para a desesperança, com impactos diretos sobre o consumo e para todo o ciclo econômico, gerando graves consequências sociais, como violência urbana e insegurança pública, com aumento na criminalidade, novos medos e desestruturação familiar, impulsionadas pelo incremento do tráfico, das milícias e no crime organizado.
A situação recessiva da economia brasileira contribuiu para a degradação das finanças dos governos federal, estaduais e municipais, com isso, muitos fornecedores ficaram sem receber seus pagamentos, os trabalhadores tiveram seus salários atrasados e as condições de vida destes pioraram rapidamente, gerando uma espiral de medos e instabilidades, esta situação de desesperança perdura até os dias atuais e as perspectivas de melhora econômica se fazem mais presentes, embora bastante tímidas e insuficientes.
O ambiente econômico se degradava rapidamente devido a crise política, a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff elevou a instabilidade econômica e piorou o comportamento dos setores produtivos, o clima era de grande preocupação e desesperança, a inflação crescia rapidamente, o endividamento público aumentava e o déficit público cresceu rapidamente, as empresas de classificação de risco rebaixaram as notas do país e a situação econômica se degradou de forma acelerada.
Muito se discutiu na época se o impeachment fora motivado por crimes de responsabilidade ou por mero interesse golpista, acredito que o processo esteve atrelado a ambas as justificativas, a contabilidade criativa aconteceu, embora não tenha ocorrido apenas no mandato desta presidente, muitos cometeram as irregularidades e não foram punidos com a mesma rigidez. O processo foi motivado pela fragilidade da presidente em controlar o jogo político e propor uma agenda mais assertiva para todos os agentes produtivos, sem força politica e carisma pessoal, o resultado foi um processo longo e desgastante para a sociedade e com graves impactos econômicos e financeiros para a economia do país.
Com a queda da presidente Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer, medidas econômicas mais liberais foram introduzidas, a inflação fora controlada, as taxas de juros se reduziram, as perspectivas econômicas melhoraram, mas mesmo assim, o tão desejado crescimento econômico não apareceu, o número de desempregados pouco se reduziu, a violência urbana cresceu de forma acelerada, apenas em 2017 foram registrados mais de 60 mil homicídios, o ambiente de insegurança crescia, levando o governo federal a intervir na segurança pública do estado do Rio de Janeiro, além da péssima situação das contas públicas, que pouco reagiram a nova política econômica.
Depois de uma eleição conturbada, o candidato Jair Bolsonaro assume a presidência e inicia uma nova estratégia política para a nomeação de ministro e subordinados, dentre os nomeados destacamos o Ministro da Economia Paulo Guedes e o Ministro da Justiça e da Segurança Pública, o ex-juiz Sérgio Moro, iniciando uma nova gestão carente de ideias e políticas mas marcado fortemente pelo apoio dos setores militares e da igreja evangélica, dois braços importantes do governo, além do filósofo Olavo de Carvalho, radicado nos Estados Unidos e descrito como o grande ideólogo do presidente.
Depois de pouco mais de 100 dias de governo, tempo insuficiente para uma reflexão mais estruturada e complexa do novo governo, percebemos alguns traços e rabiscos estranhos do novo governo, discussões constantes, comentários exagerados, postagens excessivas e uma grande dose de desastres, principalmente no campo da Educação e das Relações Exteriores, ambos comandados por pessoas pouco expressivas na sociedade e muito vinculadas aos pensamentos ideológicos da direita, descritos como liberais na economia e conservadores nos costumes.
Na educação, percebemos um desgoverno crescente, pouco mais de três meses de mandato, o Ministro Ricardo Velez Rodrigues pouco trouxe de novidades, neste curto período, muitos foram substituídos, confrontos ficaram evidentes entre grupos variados e as políticas efetivas e emergenciais ainda não se fizeram presentes, apenas uma vaga proposta de combate a corrupção aos moldes da Lava a Jato e uma guerra aberta a proposta de escola sem partido e uma tal de ideologia de gênero.
Depois de chegar aos 100 mil pontos, num momento de excitação e grandes expectativas do mercado com as propostas liberais do Ministro Paulo Guedes, a Bolsa de Valores perdeu um pouco do ânimo e os investidores passaram a desconfiar do governo, tudo isto devido as fragilidades da articulação política, marcadas por imaturidades constantes, dificuldades de intermediação política, muitas tuitadas infelizes e pouca efetividade na defesa da proposta, até mesmo o presidente Jair Bolsonaro defende as reformas econômicas de forma constrangida e sem convicções mais sólidas, deixando o mercado em polvorosa e criando expectativas negativas para o futuro próximo.
Depois de duas viagens internacionais, terminamos a semana com o presidente da Câmara dos Deputados fazendo inúmeras críticas ao governo, definindo-o como um deserto de ideias e projetos, segundo este, o presidente precisa sair das redes sociais e passar a governar o país, deixar de falar asneiras e assumir suas responsabilidades como mandatário máximo da nação, somente assim, o país poderá sonhar com uma guinada na situação econômica e um alento a quase 12 milhões de desempregados, que buscam novas oportunidades no mercado a mais de quatro anos, muitos deles sobrevivendo em condições pouco dignas e deploráveis.
Cabe ao governo iniciar as discussões políticas em torno da Reforma da Previdência, conversar, dialogar e negociar com todas as forças e grupos políticos são formas salutares de construir consensos, consensos estes importantes para o sucesso da empreitada, sem esta reforma a economia tende a perder força e os impactos serão sentidos por todos, principalmente pelos grupos mais frágeis e desprovidos de perspectivas da população.
Outro ponto que deve ser destacado, depois que a eleição terminou, cabe ao governo reestruturar o discurso, adotar uma política de inclusão e conversação constantes, afinal, não foi apenas o executivo federal quem foi eleito, mas todos os deputados e senadores, suas demandas devem ser vistas com normalidade e aceitas como parte do jogo democrático. Todas as vezes que o presidente da República, um de seus filhos ou subordinados fazem críticas excessivas a classe política, dizendo que esta quer apenas barganhar cargos e recursos públicos, o resultado é uma criminalização da política, sendo que esta deve ser vista como um instrumento fundamental para a sociedade e para a melhoria das condições sociais, criminalizar a política pode abrir espaço para atitudes negativas e autoritárias, além de retrógrada e desnecessária.
Neste ambiente de instabilidades e medos constantes, cabe aos grupos organizados da sociedade civil diminuírem estes discursos agressivos e inflamados, muitos grupos se digladiam em conflitos constantes em redes sociais, setores da classe média e aficcionados pelo governo deixam de lado seu espírito crítico e passam a defender medidas idiotas como forma de marcar posição, pensam em si e esquecem da situação deplorável do país, suas dificuldades políticas e sua divisão interna.
A reforma da previdência é deveras importante para o país, faz-se fundamental destacar que, com o envelhecimento da população e a maior longevidade dos indivíduos, além das inúmeras mudanças na estrutura do trabalho, onde os entrantes estão diminuindo e os aposentados aumentando, as preocupações com relação a sustentabilidade deste sistema são inúmeras, com isso, a reforma se justifica de forma urgente e necessária.
Para viabilizar esta proposta, cabe ainda ao governo melhorar o Benefício de Prestação Continuada (BPC), evitando um aviltamento tão elevado como foi a proposta original enviada ao Congresso em fevereiro, além disso, em uma situação de desequilíbrios fiscal e orçamentário, o governo comete o equívoco de propor reestruturação salarial para as carreiras militares, deixando claro o corporativismo que envolve a presidência do capitão Bolsonaro, sem um ataque frontal ao corporativismo, dificilmente teremos êxito no reequilíbrio das contas públicas e na superação da crise econômica.
Estamos num momento crucial para nos colocarmos como um país civilizado ou vamos descambar para a barbárie, atender a todas as demandas inviabilizaria o país e levaria a economia a uma situação de degradação, sem fazer a reforma num curto espaço de tempo a situação econômica também se degradará. Diante da inevitabilidade desta reforma, sabendo que é uma medida inexorável, cabe ao governo apertar os fraudadores, cobrar os inadimplentes e taxar aqueles que pouco pagam, somente assim se conseguirá mostrar para a sociedade que o esforço exigido para a confecção desta reforma será de todos, desde aqueles que residem nas favelas e nos sertões até os moradores dos condomínios de luxo e dos bairros de elite, todos os indivíduos, indistintamente, devem contribuir.
Embora saibamos da importância da reforma da previdência, o atual governo ainda não conseguiu propor nada na seara econômica, depois de 100 dias de mandato, conversas desnecessárias, discursos ideológicos, debates e comentários chulos e inapropriados, nos parece claro que a equipe econômica coloca toda suas fichas na Reforma da Previdência, sem ela, dificilmente teremos condições de governabilidade nos próximos anos e todos seremos afetados pela degradação das condições econômicas, embora tenhamos inúmeras restrições ao grupo político que ora controla a administração federal, mais alguns anos de degradação econômica e política trará resultados sociais jamais vistos, embora pacatos e ordeiros, como muitos definem o cidadão brasileiro, a revolta e a indignação tendem a crescer e se transformar em um grande estopim para uma nova primavera, cuja destruição será de grandes proporções.