Ilusões econômicas

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Vivemos momentos de grandes discussões patrocinadas por indivíduos especialistas em tudo, as redes sociais estão inaugurando conhecimentos desconhecidos, anteriormente as discussões coletivas estavam relacionadas com a escalação da seleção brasileira, agora as coisas estão cada vez mais sofisticadas, encontramos discussões sobre as questões jurídicas, as questões políticas , questões relacionadas a doenças e tratamentos médicos e as questões econômicas, todos somos especialistas em tudo, emitindo pareceres, relatórios e somos catedráticos de todas as coisas.

Destas discussões cotidianas, encontramos discussões sobre as receitas econômicas para resolvermos problemas que convivemos desde os tempos imemoráveis, desequilíbrios estruturais que estão nas raízes de nosso nascimento como país, emitimos opiniões, cancelamos aqueles que pensam diferentes e acreditamos que somos democráticos e prezamos pela liberdade de expressão, nos esquecemos que numa sociedade marcada por desequilíbrios variados, marcados por pobrezas generalizadas, riquezas centradas em espoliações e explorações cotidianas, falar sobre democracia é algo imprudente, precisamos compreender as nossas raízes, nossos atrasos e, principalmente aquilo que queremos ser num futuro imediato, o tempo urge e as decisões estratégicas estão sendo pouca discutidas, infelizmente.

Neste cenário, vivenciamos um momento de grandes transformações no meio ambiente, o clima está em polvorosa, estamos numa transformação estrutural climática que tende afetar todas as regiões do planeta, podendo levar regiões prósperas e dotadas de grandes riquezas materiais a um cenário de devastações constantes, desertos, enchentes, terremotos e devastações ambientais, todas essas consequências estão atreladas a escolhas anteriores, políticas patrocinadas por toda a comunidade internacional visando o crescimento econômico e o desenvolvimento das nações, com impactos sobre todos os indivíduos e para a comunidade. Se esse foi o intuito dos responsáveis por essas políticas anteriores, os resultados na sociedade contemporânea são outros, vivemos uma sociedade marcada pelo individualismo, o imediatismo e a busca crescente dos prazeres materiais como se estes fossem os grandes objetivos do homem racional, definidos pelos chamados economistas ortodoxos.

Vivemos momentos de ilusões econômicas, acreditamos na meritocracia como forma de alavancar o crescimento econômico e produtivo e nos esquecemos de que vivemos numa sociedade centrada na desigualdade crescente dos indivíduos, onde uma pequena casta de privilegiados e bem-nascidos conseguem ascender no panteão no conforto, nos luxos e das influências políticas e econômicas.

Vivemos numa sociedade centrada nas ilusões econômicas, acreditando que a austeridade deve levar o equilíbrio das contas públicas e a reconstruir das finanças governamentais, reduzindo os repasses públicos para os mais humildes e deixando de lado os vultosos subsídios dos grandes donos do poder político e econômico, se esquecendo que os grandes ganhadores destas políticas são os privilegiados dos banquetes da miséria da classe trabalhadora, que se rastejam para garantir recursos mínimos e se acreditam empreendedores e inovadores…

Vivemos em momentos de grandes ilusões econômicas acreditando no discurso empreendedor dos donos do poder, esperando uma ideia revolucionária e inovadora como forma de se transformar em patrão de si mesmo, se esquecendo que esse modelo econômico foi cunhado para reproduzir privilégios, garantindo taxas de juros estratosféricas, taxação inexistente e subsídios elevados para os grandes donos do poder e para seus prepostos ganhadores desta sociedade marcada por exclusão social e subdesenvolvimento, perpetuando uma exploração estrutural.

Vivemos numa sociedade que nos acostumamos todos os dias com a degradação, com as expropriações constantes, da educação degradada, das violências cotidianas e das discussões equivocadas e nos acreditamos como seres cordiais, solidários, caridosos e empreendedores, mas na verdade, somos uma sociedade sem alma, estamos nos desumanizando cotidianamente, vivendo sem horizontes claros e quando nos olharmos no espelho, nós nos assustaremos com a nossa imagem refletida.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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