A sociedade brasileira vive um momento de grandes instabilidades políticas e sociais, marcada pela degradação econômica, pelo incremento dos preços, redução da renda dos trabalhadores, altos índices de desemprego, números elevados de inadimplência, fome e violência crescentes, além do incremento de indivíduos vivendo ou sobrevivendo nas ruas, num momento de crescimento da desesperança, degradação do meio ambiente e perspectivas preocupantes de recuperação econômica que impedem os investimentos produtivos, a geração de empregos decentes, aumentando os conflitos políticos e as violências que se espalham na sociedade.
Neste cenário de incertezas crescentes na sociedade brasileira, percebemos o crescimento da inadimplência que limita o crescimento econômico, atingindo mais de 66 milhões de indivíduos, dados levantados pela Serasa, perfazendo mais de 30% da população e limitando a recuperação da economia. Os indicadores levantados pela agência de classificação de risco mostram que a recuperação da economia e a busca crescente pelo crescimento sustentável da economia brasileira estão cada vez mais distantes, exigindo uma política pública concatenada com os setores privados, direcionada para melhorar o ambiente de negócio, com estímulo dos investimentos produtivos, taxa de câmbio estável, redução das taxas de juros, tributação progressiva, geração de emprego e incremento da renda agregada. Sem resolver estes imbróglios que persistem no ambiente econômico o sonho do desenvolvimento econômico tende a se transformar em uma utopia impossível de ser alcançada.
Desde 2015, os indicadores econômicos se degradaram de forma acelerada, os investimentos se retraíram, o desemprego cresceu, a renda da classe trabalhadora piorou, elevando a inadimplência, os despejos aumentaram e a quantidade de pessoas vivendo nas ruas cresceram, aumentando a violência urbana, neste ambiente, percebemos uma inação crescente do Estado Nacional, piorando os indicadores econômicos e sociais, exigindo uma atuação crescente das autoridades com políticas públicas consistentes, estimulando empregos dignos e decentes, fortalecendo o mercado interno e reduzindo o contingente de desfavorecidos que chafurdam neste ambiente de degradação e que conhecem do Estado Nacional, apenas, os seus braços de repressão e se esquecem dos braços mais consistentes da educação, da saúde, da cultura e das políticas sociais que constroem mais espaço da cidadania, muito mais do que dos consumidores.
A inadimplência que vitima mais de trinta por cento da população brasileira impede a movimentação dos instrumentos econômicos e produtivos, deixando de lado um contingente de indivíduos que poderiam impulsionar novos negócios, novos empregos e movimentar a economia, aumentando a arrecadação de tributos e garantindo novos espaços de acumulação e geração de renda e riquezas. Todos os países que alcançaram o chamado desenvolvimento econômico, inicialmente, conseguiram inserir todos os grupos sociais mais vulneráveis no mercado de consumo de massa, garantindo renda digna e salários decentes para participarem deste mercado, movimentando a economia, garantindo a ascensão social, universalizando o ensino, acabando com a fome e a exclusão social, desta forma, estas nações foram definidas como países desenvolvidos.
Diante deste ambiente degradante e de desesperanças, onde os desafios são elevados e os recursos financeiros são limitados, exigindo ações mais ousadas e incisivas, os setores políticos deveriam se juntar para reconstruírem as estruturas produtivas e econômicas, garantindo que os setores mais vulneráveis da sociedade recebam maiores recursos, reduzindo os repasses para os grupos mais abastados da comunidade que, historicamente, se caracterizam por serem achacadores dos recursos públicos, garantindo o controle do Estado Nacional e garantindo seus prepostos em cargos mais influentes, impedindo transformações estruturais, garantindo uma estrutura tributária que lhes garantam benefícios crescentes e milenares, deslocando suas sobras monetárias e cultivando suas imagens de beneméritos, de líderes e de empreendedores.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Brasileira, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário de Região, Caderno Economia, 20/07/2022.