Nas últimas décadas a sociedade internacional vem passando por muitas reviravoltas e inúmeras transformações, o surgimento de novos modelos de negócios vem ganhando espaço, uma verdadeira revolução no mundo do trabalho, com novas tecnologias e o incremento da inteligência artificial, além do crescimento vertiginoso da economia chinesa que se transformou na indústria do mundo, responsável por uma grande parte das mercadorias comercializadas no cenário global.
A ascensão chinesa deslocou setores industriais inteiros de seus países de origem para grandes investimentos produtivos nas cidades chinesas, levando regiões atrasadas e dependentes de produtos primários para se transformarem em grandes produtores de produtos industrializados, com fortes investimentos governamentais em capital humano, grandes recursos financeiros canalizados para setores de pesquisa e inovação científica. O resultado desta política foi a construção de grandes metrópoles, como Shenzhen, uma aldeia de camponeses, nos anos 1980 com apenas 120 mil habitantes que, atualmente, se transformou numa metrópole de 17 milhões de pessoas, com um setor produtivo inovador, dinâmico e dotado de grande capacidade empreendedora.
Neste período, a China passou por inúmeras revoluções, marcadas por uma política industrial rigorosa e muito disciplinada, onde os setores estratégicos receberam grandes aportes financeiros, exigindo parcerias com empresas estrangeiras que tinham interesses em produzir no mercado chinês, com câmbio desvalorizado, juros baixos, créditos fartos, mão de obra barata e fortes investimentos em capital humano, além de estímulos crescentes nas áreas de pesquisa científica e cobranças sistemáticas para angariar novos mercados internacionais.
Nos últimos vinte anos, a economia chinesa ganhou musculatura, eficiência e produtividade, levando os países ocidentais a sentirem receio da ascensão chinesa, atualmente o maior competidor dos Estados Unidos. Em 2006, 148 países e territórios tinham mais trocas comerciais com os EUA do que com a China, em 2024 o cenário passou por grandes alterações: 141 nações priorizam os chineses enquanto 82 fazem mais negócios com os americanos.
Nestas duas décadas, os chineses ganharam novos parceiros comerciais, inicialmente começaram na Oceania, depois se aproximaram da África, espalharam seu comércio para as Américas, ganhando relevância na região e se transformaram no maior parceiro comercial da América Latina, desbancando os Estados Unidos. Atualmente, os europeus passaram a se aproximar dos chineses e a Europa ganhou relevância no comércio exterior, muitos países da região estão integrados na iniciativa Um Cinturão, Uma Rota, onde o país asiático vai despejar trilhões de dólares em setores de infraestrutura e de logística em países que são parceiros comerciais, com isso a China se transformou na maior fábrica do mundo, responsável por mais de US$ 4 trilhões em produtos industrializados, transformando a China, para muitos especialistas, no detentor do maior produto interno bruto (PIB) do mundo, superando o estadunidense.
Em equipamentos e maquinaria elétrica, a China detém sozinho 32% do mercado global de exportação. Em computadores pessoais a China foi responsável por 75% do valor e volume das exportações mundiais. Na indústria fotovoltaica o gigante asiático responde por cerca de 80% da produção em toda a cadeia de valor. Neste cenário de instabilidades constantes, o incremento industrial chinês pode ser visto como inspirador da recuperação industrial brasileira, valorizando inovação, garantindo oportunidades e políticas industriais ativas, vislumbrando um país industrializado, aproveitando novas oportunidades, alavancando tecnologias e abandonando os resquícios de exportadores de produtos primários de baixo valor agregado.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário.
