Indústria já se preocupa com o pós-Copenhague

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Autor: Sérgio Leo

Grandes empresários, especialmente nos setores de aço e cimento concluíram que a movimentação para a próxima conferência do clima e meio ambiente, em Copenhague, em dezembro, tem grande potencial de interferência em seus negócios futuros. Estão preocupados. Decidiram influir nas posições do governo brasileiro. A Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) deve, em breve, divulgar posição comum à indústria paulista. Cresce, no setor privado, o temor de retaliações a pretexto do combate ao aquecimento global.

O sistema multilateral, que tem na Organização Mundial de Comércio (OMC) um xerife contra o protecionismo, está enfraquecido e sem prestígio com alguns dos maiores atores globais, como os Estados Unidos. O setor privado teme que, nessas condições, sejam facilitados eventuais abusos protecionistas embarcados em legítimas medidas de proteção do meio ambiente.

Esse receio deve se materializar nos documentos que a indústria prepara para influenciar na posição do governo brasileiro para a reunião de Copenhague. A conferência na capital dinamarquesa ambiciona arrancar dos países maiores compromissos com metas para controle de emissões de gases causadores do efeito estufa. Mesmo que fracasse, deve ser seguida de medidas nacionais, na Europa e Estados Unidos, por exemplo. Empresas como as de cimento e de aço teriam dificuldades para adaptar-se sem grande esforço e perda de investimentos recentes, analisam executivos desses setores.

Não há uma posição fechada da indústria. Ainda que seja geral a cobrança por maior agilidade dos órgãos de licenciamento ambiental, há, entre os empresários brasileiros, os que defendem maior compromisso com a redução da emissão de gases-estufa. O Brasil não pode mais alinhar-se automaticamente com países emergentes como Índia e China na defesa de padrões antiquados de eficiência energética e produtiva. A posição defensiva tradicional na discussão sobre meio ambiente não tem mais acolhida nem na Fiesp, o que torna mais interessante acompanhar essa discussão e ver que sugestões resultarão das reuniões entre os empresários.

Os Estados Unidos já criam injustificadas barreiras ao aço brasileiro, para proteger a ineficiente indústria local. Com argumentos ecológicos, poderão levantar mais obstáculos, especialmente num governo do Partido Democrata, tradicionalmente mais sensível às pressões protecionistas. O setor privado já constatou que Copenhague não é um convescote de ONGs ambientalistas, mas um marco a partir do qual novos desafios – e ameaças, segundo alguns – surgirão para as empresas brasileiras que não estiverem preparadas para um mundo menos tolerante com as causas do aquecimento global.

Os ambientalistas e especialistas que se queixavam da timidez do Itamaraty na discussão sobre meio ambiente que se preparem. Por mais progressista que venha a ser a posição dos industriais, deverá haver recomendações para maior cautela no governo, ao assumir compromissos de redução de emissões e ajustamento da matriz produtiva às metas que sairão de Copenhague.

Nacionalismo de ocasião
Depois de firmado o acordo sobre Itaipu com o Brasil, o Paraguai regularizou, discretamente, a situação dos brasilguaios e ainda há críticos da política externa que, sem notar continuaram cobrando ação do governo brasileiro nesse tema. Na Bolívia, o Brasil discute ampliação de vendas e negócios, enquanto a Petrobras lucra com a compra do gás do país andino – até reduziu a demanda.
Esses exemplos mostram que se deve ter cuidado nas análises apressadas – muitas vezes de inspiração eleitoral – sobre a “excessiva generosidade” do governo em relação aos países vizinhos. Novo foco de exploração política será a “invasão” de leite importado do Uruguai. Depois de meses retendo as vendas do vizinho, que representam um quarto das importações de leite no Brasil, Brasília liberou a entrada de leite uruguaio, mas, agora, produtores brasileiros querem barrar o produto, em prejuízo dos consumidores.
Outro foco de equívocos deve ser, em breve, a ação do governo boliviano para remover famílias de brasileiros que atravessaram a fronteira e, ilegalmente, instalaram propriedades na zona fronteiriça. Por questões de segurança nacional, raros países autorizam a posse de terras na fronteira por estrangeiros, especialmente dos países vizinhos.

O governo de Morales, sempre em consultas com o governo brasileiro, ofereceu condições e indenização para que os brasileiros deixem as terras onde estão. Mas, sem querer deixar aos bolivianos sua posses, brasileiros ameaçam resistir com violência. Vão querer transformar seus interesses em causa nacional. Sempre haverá quem queira aproveitar isso politicamente.

Sergio Leo é repórter especial do Jornal Valor Econômico.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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