Vivemos momentos de grandes incertezas e instabilidades na economia internacional, os indicadores macroeconômicos brasileiros nos levam a preocupações e medos crescentes, inviabilizando os investimentos produtivos e estimulando os investimentos financeiros e especulativos, angariando novas levas de bilionários em detrimento de uma massa de desempregados, excluídos e desesperançados.
A inflação cresce de forma acelerada em todas as regiões do mundo, motivadas pela desestruturação das cadeias produtivas geradas pela pandemia, pela guerra da Ucrânia que impactou sobre os preços dos alimentos e dos combustíveis, todos estes fenômenos geraram uma tempestade perfeita que culminaram em políticas protecionistas por parte de algumas nações e contribuíram para o incremento das incertezas e para as volatilidades econômicas, reduzindo as rendas dos trabalhadores e degradaram as condições de vida de muitas nações, dentre elas a brasileira que tiveram mais de 19 milhões de pessoas passando fome, uma tragédia humanitária.
A globalização trouxe grandes benefícios para a comunidade global, criando novos desafios e novas oportunidades para empresas, para as nações e para os trabalhadores. Muitas nações embarcaram nos ventos liberalizantes da economia internacional sem pensarmos sobre as consequências no longo prazo, terceirizamos setores produtivos relevantes e nos tornamos dependentes da importação de produtos industrializados fundamentais para nossa sobrevivência.
O resultado direto desta política é que, num momento de crises externas generalizadas, sentimos os efeitos desta dependência, como aconteceu no momento da pandemia e está acontecendo com outros produtos fundamentais para a sociedade brasileira, com isso, estamos assistindo o aumento dos preços em variados produtos e incremento da inflação, que impacta negativamente sobre uma economia que perdeu a capacidade de se reconstruir, gerando crises constantes, desemprego elevado e lucros escorchantes que engordam os ganhos de financistas nacionais e estrangeiros que não tem nenhum compromisso com a sociedade brasileira.
Além da inflação, destacamos o desemprego como um dos mais urgentes desequilíbrios que deve ser combatido pela sociedade brasileira, para combater esta degradante situação macroeconômica, precisamos de aumento nos investimentos produtivos, sem estes não conseguiremos recuperar o dinamismo da estrutura produtiva, reduzir o desemprego que crassa a sociedade brasileira e garantir instrumentos de capacitação dos trabalhadores, aumentando os dispêndios na pesquisa científica, reestruturando o complexo da saúde, recuperando a indústria nacional, modernizando as políticas públicas, estimulando o aumento da produtividade dos setores produtivos, incremento das vendas externas e buscando uma inserção mais autônoma e soberana. Sabemos que estas políticas perpassam variados governos, exigem uma visão mais ampla e de longo prazo e, para isso, precisamos de uma ampla reestruturação política, reconstruindo a solidez da política institucional, enterrando uma visão atrasada da política como apenas um instrumento de poder e de ganhos individuais e de seus grupos políticos que contribuíram negativamente para a situação atual de degradação, dos conchavos, da corrupção e da diminuição de credibilidade da política institucional.
Neste ambiente de desemprego crescente e grandes transformações do mundo do trabalho cabe ao setor público a adoção de políticas efetivas para estimular as estruturas produtivas e priorizar as micro e pequenas empresas, setor responsável por grande parte dos empregos e da sobrevivência da sociedade, uma classe central para todas as nações civilizadas que, infelizmente, no Brasil, não recebem os incentivos fiscais e tributários para o seu desenvolvimento e canaliza, os chamados parcos recursos para os grandes atores econômicos, gerando uma degradação e perpetuando as desigualdades.
Na pós-pandemia precisamos repensar a estrutura produtiva, alavancar a recuperação da economia, melhorando os indicadores macroeconômicos, estimulando a geração de emprego e valorizando a renda, sem isso, continuemos chafurdando no caos.
Ary Ramos da Silva Júnior, bacharel em Ciências Econômicas e Administração, especialista em Economia Criativa, mestre, doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 01/06/2022.