Vivemos momentos de grandes rupturas e transformações estruturais na sociedade brasileira, os comportamentos estão em franca modificação, o mundo do trabalho está de cabeça para baixo, os relacionamentos se alteram rapidamente, as hegemonias estão em movimento, os modelos de negócios estão sendo reconfigurados e as incertezas crescem de forma acelerada, gerando preocupações, instabilidades e o incremento de novos medos.
Neste ambiente, percebemos as modificações geopolíticas e geoeconômicas na sociedade internacional, países dominantes vêm perdendo espaço e reduzindo seus poderes e outros contendores ganham espaços, surgindo novos modelos de negócios, novas estruturas culturais, novas lideranças e novos desafios surgem cotidianamente. O século XXI nos mostra a ascensão asiática, principalmente o grande crescimento da economia chinesa, com suas especificidades, novas organizações corporativas e novas formas de estruturação socioeconômica.
Nestas novas reconfigurações econômicas e produtivas, percebemos que a economia chinesa vem se transformando na indústria do mundo, com grande capacidade de produção e faturamento superior a mais de US$ 4 trilhões, despertando ressentimentos, preocupações e o crescimento das políticas protecionistas, tudo isso, vem gerando aumento dos conflitos comerciais e confrontos financeiros, com instabilidades na economia global, gerando preocupações geopolíticas e receios de conflitos militares.
A ascensão chinesa está criando espaços de negociação na economia internacional, novas oportunidades de negócios e abrindo novas oportunidades de investimentos e, infelizmente, podem gerar novas formas de dependência financeira e tecnológica. Diante deste quadro, precisamos compreender as movimentações globais das nações, estudar estas novas configurações e criar instrumentos de atuação para evitar a eterna perpetuação de uma histórica dependência estrangeira, inicialmente europeia, passando pela norte-americana e agora, na contemporaneidade, na dependência chinesa.
Com o crescimento das negociações internacionais, faz-se necessário compreendermos os interesses nacionais, o que queremos nos próximos anos e quais os setores que devemos alavancar na economia brasileira nos próximos anos e, a partir daí, criar instrumentos para extrairmos nas conversações globais novas tecnologias que podem impulsionar o crescimento econômico e produtivo, nestas negociações precisamos exigir a transferência de tecnologia para consolidarmos os setores produtivos.
A transferência de tecnologias pode ser vista como forma de encurtarmos os caminhos do desenvolvimento econômico, mas só será exitosa se conseguirmos melhorar os indicadores educacionais, com sólidos e garantidos investimentos em pesquisa científica, somente assim compreenderemos e dominaremos essas tecnologias que crescem, se espalham e dominam a economia internacional.
A ascensão chinesa deve ser vista como uma oportunidade de crescimento dos investimentos e a geração de empregos, mas precisamos compreender que essa entrada de produtos asiáticos pode gerar graves constrangimentos para a economia nacional e fragilizar setores importantes, desta forma, precisamos utilizar o nosso grande mercado interno para angariar vantagens expressivas, ganhando escalas produtivas e garantindo condições de competir numa economia altamente integrada e interdependente. Vivemos um momento de apreensão, de oportunidades e grandes conflitos pela hegemonia mundial, as escolhas nacionais podem mostrar os caminhos que queremos trilhar no século XXI.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário.