Investimentos

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A economia brasileira perdeu o dinamismo desde os anos 1980. Depois de sermos vistos como uma economia marcada por alto crescimento econômico, com transformações estruturais, perdemos o fôlego, amargando uma estagnação econômica, desindustrialização crescente e perdemos a relevância no cenário internacional e passamos a se transformar numa economia agroexportadora centrada em produtos de baixo valor agregado. Dentre os indicadores macroeconômicos mais importantes para o sistema econômico e produtivo de uma sociedade, os investimentos devem ser vistos como o mais relevante para movimentar o ciclo da economia, estimulando a geração de emprego, melhorar o salário, além de aumentar a renda, o consumo e a produção.

Podemos definir investimento como a despesa em bens e serviços que serão utilizados futuramente na produção de outros bens e serviços. Também designado por formação bruta de capital, o investimento faz aumentar os recursos produtivos de uma economia e, portanto, as suas possibilidades de produção. Sem investimentos, os ciclos econômicos não se completam, as estruturas produtivas não geram empregos, aumentando a desocupação da sociedade, reduzindo a renda agregada, diminuindo o consumo, precarizando as condições sociais e exigindo a intervenção dos agentes econômicos para movimentar o ciclo econômico.

Os investimentos produtivos tem uma grande centralidade na estrutura econômica, os agentes produtivos investem quando acreditam que terão retornos interessantes, quando acreditam que as regras serão estáveis e aceitáveis, com isso, são estimulados a tomarem riscos pois acreditam que serão agraciados com lucros e rentabilidades ascendentes. Quando encontramos países ou nações que não conseguem garantir retornos e credibilidade, que possuem instituições instáveis e turbulentas, os investidores tendem a se distanciar, gerando graves constrangimentos econômicos, inviabilizando os investimentos, limitando o “espírito animal” dos empreendedores, restringindo novos negócios e retardando possíveis ciclos econômicos e produtivos.

Numa sociedade internacional centrada por grandes instabilidades e incertezas, percebemos que o Estado vem ganhando relevância nas principais nações, neste cenário, percebemos que o neoliberalismo vem perdendo espaço, motivados por três grandes transformações: a ascensão chinesa centrada no intervencionismo governamental, a crise imobiliária dos Estados Unidos, de 2008, que fragilizou o modelo centrado no predomínio do capital financeiro e, por último, a pandemia que assolou a sociedade internacional, gerando milhões de mortes e dinamizou os investimentos governamentais como forma de reduzir os estragos econômicos e produtivos.

Historicamente, destacamos os investimentos governamentais que foram imprescindíveis para alavancar a estrutura produtiva, vivemos momentos de grandes saltos tecnológicos, cujos recursos dos Estados Nacionais foram fundamentais, como foi descrito pela economista italiana Mariana Mazzucato que se tornou mundialmente conhecida depois de publicar o livro “O Estado Empreendedor”, descrevendo o papel crucial dos investimentos dos governos para estimular novos avanços tecnológicos, sem estes investimentos dificilmente teremos acesso aos novos modelos de negócios que estão sendo construídos, sem internet, sem GPS, dentre outros produtos que fazem parte do cotidiano da comunidade.

Nos últimos anos os investimentos produtivos na economia brasileira estão em níveis baixíssimos, as incertezas institucionais assustam os investimentos, políticas ambientais confusas afastam investimentos, sem educação de qualidade afastam os investimentos, ataques constantes a democracia afastam os investimentos, com salários reduzidos e mercado de consumo comprimido afastam os investimentos, conflitos entre os três poderes afastam investimentos, neste ambiente, como acreditar que estamos caminhando para o tão sonhado desenvolvimento econômico?

Neste ambiente, percebemos apenas o crescimento e o enriquecimento de uma elite rentista, improdutiva e imediatista, sem compromisso com a nação, que acumula fortunas com a ciranda financeira, ganhos com juros elevados e usam seu poder político para perpetuar seu poder que remontam a colonização e o escravismo.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 23/11/2022.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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