Os indicadores econômicos brasileiros geram preocupações constantes, muitas instituições financeiras nacionais e internacionais projetam um reduzido crescimento da economia, a recuperação tende a ser demorada, a inflação se mostra resistente, os problemas das cadeias de produção ainda persistem e devem se recuperar apenas no próximo ano, gerando pressões nos preços e podem gerar constrangimentos monetários, elevando as taxas de juros e limitando a recuperação da economia. Diante disso, os desafios econômicos são imensos, a superação deste cenário pode abrir novas oportunidades de recuperação da economia e podem criar sólidos espaços para a construção de um novo modelo de desenvolvimento econômico.
Vivemos um momento de grandes transformações, as incertezas crescem em decorrência dos desequilíbrios gerados pela pandemia. Os impactos das novas tecnologias e da globalização econômica exigem dos agentes econômicos, sociais e políticos a renovação dos consensos anteriores, sob pena de ficarmos para trás neste ambiente altamente competitivo, marcados pelas novas tecnologias e centrados na concorrência entre empresas, trabalhadores e nações.
Neste momento, percebemos que os ventos da Guerra Fria se mostram mais presentes, onde as nações se engalfinham novamente, gerando hostilidades, confrontos econômicos, políticas protecionistas, buscando a hegemonia na estrutura econômica e na política internacional, criando rancores e ressentimentos que podem culminar em conflitos militares, com altos custos materiais, humanitários e financeiros.
Além dos medos gerados pelos possíveis conflitos militares, a economia se recupera de forma desigual, os investimentos produtivos prescindem de confiança, estabilidade política, regras claras e credibilidade. Os riscos inflacionários tendem a elevar as taxas de juros nos Estados Unidos, com impactos sobre a recuperação global e afetando fortemente os países em desenvolvimento, exigindo regras claras e instituições confiáveis e dotadas de credibilidade.
Internamente, o Brasil vive de espasmos de crescimento econômico que aumentam a concentração da renda, degradando as relações de trabalho, incrementando a pobreza e contribuindo para o crescimento da miséria, que se materializa nas condições de vida da comunidade, onde mais de 50% passa por dificuldade de alimentação. Neste momento, faz-se necessário repensar o modelo econômico adotado desde os anos 90, que priorizaram os setores financeiros em detrimento dos investimentos produtivos, gerando uma sociedade mais desigual e uma elite econômica desconectada da realidade da maioria da população.
A pandemia está levando as nações desenvolvidas a repensarem os modelos de desenvolvimento, nada de Estado mínimo que dominou o pensamento econômico até a crise econômica dos Estados Unidos de 2008. Atualmente, ressurge o Estado planejador, estimulando investimentos produtivos e estratégicos, fortalecendo políticas industriais e de inovação, estimulando novas tecnologias e aumentando os investimentos em qualificação do capital humano, se antecipando as exigências das necessidades dos próximos movimentos produtivos.
No caso brasileiro o investimento produtivo é o caminho para a construção de um novo modelo econômico, sem investimentos públicos a recuperação da economia tende a demorar muitos anos, cabe ao Estado monitorar e estimular ativamente a reindustrialização da estrutura produtiva, investindo fortemente em setores de infraestrutura, atraindo com regras claras os investimentos privados, estimulando os setores socialmente responsáveis, incorporando novos modelos sustentáveis, fortalecendo energia limpa e menos poluentes e contribuindo para preservação do meio ambiente.
Como foi dito pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso, o desenvolvimento é o mais político dos temas econômicos, exigindo um amplo consenso entre todos os setores da sociedade, evitando confrontos desnecessários e picuinhas institucionais, fortalecendo as reflexões constantes sobre os desafios da sociedade e fomentando discussões democráticas e desvencilhando pensamentos golpistas e inconsequentes. Os desafios brasileiros são enormes, canalizemos nossas energias para discussões serenas e construtivas.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 02/02/2022.