Limitando o crescimento econômico

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Vivemos momentos interessantes, acumulamos desigualdades históricas, nos acostumamos com uma degradação social que qualquer sociedade normal sentiria vergonha e ojeriza, destacamos as variadas riquezas nacionais, exaltamos o homem cordial que nunca existiu na sociedade brasileira, destacamos a fragilização da educação nacional e, ao mesmo tempo, degradamos a figura do professor, piorando as condições de trabalho e arrochando seu salário, reduzindo investimentos em capital humano e continuamos rezando pela cartilha da ortodoxia, ideias rechaçadas pelos seus criadores e, mais uma vez, ainda continua sendo um mantra dos donos do poder nacional.

No começo dos anos 1990, a economia brasileira apresentava uma inflação galopante, seus níveis degradantes levaram o governo a criar um instrumento engenhoso para controlar os preços
relativos e estabilizar a moeda. Nascia o Plano Real, que trouxe benefícios palpáveis para a sociedade brasileira, melhorando a renda agregada, facilitando a chegada de investimentos externos, aumentando a competição e melhorando o ambiente econômico. É importante destacar ainda, que para estabilizar a economia o governo abusou da política cambial, valorizando-a em excesso, aumentando sensivelmente as taxas de juros, aumentando as importações e contribuindo para fragilizar os setores exportadores e criando, infelizmente, uma elite financeira viciada em juros altos.

Com esse choque dos juros elevados, criamos uma nova capacidade de analistas econômicos, os financistas ou rentistas, especialistas nos movimentos das bolsas de valores e que pouco sabem sobre a economia real, se especializando em defender os interesses dos donos do poder econômico, grupos dotados de grande recurso monetário e forte poder político, defensores contumazes desta política de juros estratosféricos que perduram desde então, criando uma sociedade mais desigual e empobrecida, sem perspectivas, sem esperanças e sem dignidade, acreditando que o problema está sempre nos outros, defendendo interesses imediatistas, fortalecendo uma visão de mundo centrada no individualismo e dos ganhos imediatos, estimulando a polarização política, fomentando conflito entre poderes, fortalecendo demandas ultrapassadas e desnecessárias, fugindo sorrateiramente das discussões de fundo que contribuem para sermos uma sociedade mais desigual, mais violenta e marcada pela exclusão social.

A sociedade brasileira se acostumou com taxas de juros elevadas, desta forma, os investimentos foram reduzidos, o desemprego aumentou, o trabalho se precarizou e, ao mesmo tempo, elevou substancialmente a quantidade de milionários e bilionários, como atesta as publicações especializadas, pessoas que pouco produzem e sobrevivem da renda, os chamados rentistas ou financistas, que engordam rapidamente em detrimento da espoliação da sociedade nacional.

Precisamos rever os nossos conceitos enquanto nação, analisarmos nossas trajetórias históricas, repensar nosso futuro, planejar nosso presente, garantindo recursos monetários e financeiros para investimentos produtivos, juros decentes, aumentando a geração de renda agregada, tributando todos os donos do poder econômico, reduzindo subsídios que degradam as contas públicos e pouco trazem para a comunidade, reduzindo os privilégios para todos os grupos público e privado que se escondem numa sociedade em franca degradação social, política e moral para manter seus ganhos imediatos e clamar por uma suposta meritocracia que não existe em uma sociedade tão marcada pela desigualdade e pela exclusão.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Sociologia do Trabalho e Exclusão Social, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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