Males da financeirização

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Vivemos numa sociedade marcada pelo crescimento da competição entre os atores econômicos, sociais e políticos, gerando mal-estar ascendente em todos os grupos sociais. A ansiedade acelera, os transtornos emocionais crescem, os estresses aumentam em todos os indivíduos e sociedades, gerando uma busca imediata por sobrevivência, emprego, remuneração e ganhos monetários, como forma de sobreviver numa sociedade que se compraz com o consumo, o imediatismo e o hedonismo.

O mundo contemporâneo se caracteriza pelo crescimento das tecnologias e transformações estruturais em todas as áreas e setores, alterando as condições de vida dos indivíduos, a concorrência cresce de forma acelerada, os trabalhadores precisam se adaptar a estas alterações, buscando se capacitar e se qualificar como forma de se inserirem nos mercados de trabalhos, canalizando seu tempo para a vida profissional, perdendo espaços de sociabilização e sendo vistos como autômatos, transformando a vida em espaços de sobrevivência material, deixando de lado laços sociais e familiares, aumentando as depressões, as ansiedades e a busca do significado da existência do ser humano.

Desde os anos 1980, percebemos o crescimento do modelo econômico global conhecido como financeirização, que passou a dominar todas as estruturas econômicas e produtivas internacionais, dominando a essência da economia e transformando tudo em um processo de intermediação financeira, que se caracteriza pelos altíssimos ganhos imediatos, deixando de lado os processos de planejamento econômico de longo prazo, além de limitar a capacidade de enxergar uma visão sistêmica da sociedade, transformando as relações sociais em espaços de negócios.

Neste cenário, percebemos um incremento da financeirização da sociedade, que exige resultados imediatos para garantir a sanha dos acionistas e investidores, com isso, percebemos que essa visão vem ganhando espaços em todas as relações econômicas e sociais. Nos setores educacionais, percebemos a implantação de modelos de gestão centrados numa visão de sociedade baseado nos retornos imediatos, adotando uma redução dos trabalhadores e sobrecarregando as atividades dos profissionais que sobrevivem, gerando ganhos imediatos e elevação dos rendimentos dos acionistas. Com estes movimentos, percebemos o surgimento de estruturas produtivas enxutas, com poucos trabalhadores e ganhos financeiros adicionais dos acionistas, levando-os a aquisição de empresas concorrentes menores e a consolidação de um modelo de gestão que se mercantiliza na sociedade, contribuindo para o surgimento de um ensino cada vez mais degradante e de qualidade questionável, mas com grandes lucros e a alegria dos acionistas.

Este modelo de gestão baseado na financeirização da economia se espalha para a sociedade global, gerando grandes atores econômicos internacionais que dominam o sistema produtivo internacional, setores que se caracterizam com poucos concorrentes, garantindo retornos elevados, tributação reduzida para estes setores, fragilizando a democracia, garantindo isenções fiscais e tributárias, com isso, não é difícil compreender que as desigualdades crescem em todas as regiões do mundo, criando novos grupos sociais que sobrevivem com migalhas, sem empregos, sem trabalhos e sem dignidades.

Neste ambiente, os projetos nacionais são deixados de lado, pensadores que pensam a sociedade de uma forma global são deixados de lado, cancelados e marginalizados, os espaços são abertos para aqueles grupos que defendem este modelo de financeirização, são grupos sociais que usufruem destes ganhos, interessados em altos retornos financeiros, além de serem vistos como prepostos dos grandes ganhadores da financeirização da economia, que se afastam do investimento produtivo, da geração de emprego e do crescimento do mercado interno, em detrimento dos lucros escorchantes garantidos por juros proibitivos que dominam a sociedade brasileira e contribuem para a situação de penúria que vive parcela significativa da população nacional.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 29/06/2022.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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