Vivemos numa sociedade centrada em grandes instabilidades e incertezas crescentes, que geram medos, preocupações e sensações ambíguas. De um lado, percebemos o incremento das tecnologias, transformando os seres humanos, gerando novas oportunidades, novos desafios, novas inovações e novos modelos de negócios que revolucionam a humanidade e, de outro lado, percebemos o aumento da volatilidade desta sociedade que crescem no nosso entorno, gerando receios sobre nossas atividades profissionais, a chamada descartabilidade, alterando fortemente os relacionamentos humanos do cotidiano e medos crescentes do incremento tecnológico, gerando contradições que habitam os seres humanos na contemporaneidade.
A sociedade contemporânea está centrada nos interesses materiais e financeiros, somos todos cobrados cotidianamente, somos vistos apenas como um número, buscando bater as metas dos setores produtivos, viabilizando seus bônus monetários e angariando ganhos imediatos, deixando valores filosóficos mais consistentes e nos entregando nesta sociedade de consumo, que nos levam a prazeres materiais e, ao mesmo tempo, gerando repulsas, receios e preocupações crescentes.
A sociedade está estimulando valores centrados no individualismo, no imediatismo e na busca crescente nos ganhos rápidos e imediatos, estimulando as aplicações financeiras, as fraudes contábeis estão crescendo, levando a destruição de empregos, a constante impunidade, a desesperança reina em quase todos os grupos sociais, gerando uma verdadeira guerra de todos contra todos, destruindo os valores da solidariedade e do respeito aos seres humanos.
Anteriormente os discursos estavam centrados no esforço individual, no estímulo do estudo contínua e na capacitação crescente, levando os seres humanos a um verdadeiro sucesso social, com emprego decente, salários dignos e perspectivas de melhorias social e econômica. Na contemporaneidade, esse discurso perdeu a centralidade, muitos embarcaram neste discurso de capacitação crescente, fizeram cursos de qualificação, investiram suas economias em cursos de mestrado e partiram para o doutorado e, se transformaram em profissionais altamente qualificado, sonhando com salários decentes e melhores condições de trabalho e, caíram na real, vivemos num mercado degradado e com pagamentos irrisórios, exploração crescente, cargas de trabalho elevadas e aposentaria indigna. Com isso, percebemos que caminhamos fortemente para uma degradação crescente, onde a educação é colocada em último nas prioridades nacionais.
Os medos contemporâneos estão estimulando comportamentos agressivos e violentos, levando os indivíduos a buscarem uma defesa antecipada, como se as pessoas estivessem se antecipando a possíveis movimentos posteriores. Dessa situação de confrontos constantes, as pessoas não dialogam mais, as famílias se afastam cotidianamente, não conversam sobre as dificuldades e os medos, terceirizam a educação de seus filhos e buscam as responsabilidades nos outros, em terceiros, se isentando de suas responsabilidades. O resultado desta equação é o mundo que vivemos na contemporaneidade, com medos, rancores e ressentimentos crescentes, eivados de grandes desastres materiais e imateriais.
No mundo do trabalho, percebemos o medo da descartabilidade cotidiana, os indivíduos perceberam a velocidade das transformações geradas pela tecnologia, novas máquinas e equipamentos estão levando as pessoas a perderem os empregos e, perdendo a esperança de dias melhores, levando ao culto dos conflitos e das agressões constantes. Neste movimento, a classe média percebe que sua posição na sociedade está sendo alterada e ameaçada, levando-a a perder espaço no mercado de consumo, sua renda está em queda constante, seus salários e seus benefícios estão se escasseando, as perspectivas futuras para seus filhos são assustadoras, levando-os a abraçar as soluções mirabolantes, mágicas e inconsistentes e se assustando com a violência dos medos contemporâneos.
Os medos da contemporaneidade crescem cotidianamente, precisamos rever comportamentos, repensar os valores que cultivamos, reconstruir modelos econômicos e entender que caminhamos rapidamente para uma degradação constante e duradoura.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas, Especialista em Economia Circular, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 01/03/2023.