Melhora econômica?

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O Brasil foi uma das economias que mais cresceram no século XX, crescimento este que alavancou a estrutura produtiva, incrementou a urbanização, fortaleceu as bases dos setores industriais, dinamizando os setores comerciais, impulsionando os setores agroexportadores, transformando as estruturas econômicas e aumentaram os estoques de riqueza na sociedade mas, infelizmente, contribuíram para aumentar a concentração da renda e aumentou a exclusão social, incrementando desequilíbrios que, mesmo no século XXI, ainda expõem feridas que limitam a democracia e aumentam os conflitos sociais, econômicos e políticos.

Em pleno século XXI convivemos com graves desequilíbrios sociais, desemprego elevado, subempregado em ascensão, degradação do trabalho, desesperança na sociedade, inflação elevada, aumento dos preços dos alimentos, redução dos investimentos produtivos, diminuição dos recursos em ciência e tecnologia, cortes sistemáticos nas universidades públicas, institutos federais e diminuição dos repasses na saúde pública… neste cenário preocupante, percebemos a ausência de grandes discussões nacionais, não estamos refletindo sobre o futuro da nação, não estamos refletindo sobre os grandes desafios e oportunidades da sociedade do conhecimento.

Alguns analistas acreditam que estamos vivendo um momento de recuperação econômica, enfatizam os sinais de movimentação econômica, buscam argumentos para justificar os suspiros econômicos e atuam como torcedores e esquecem-se de analisar as estruturas, os investimentos produtivos, a formação bruta de capital fixo, os repasses das políticas públicas, as taxas de câmbio, os recursos canalizados para ciência e tecnologia, as taxas estrondosas de juros que beneficiam a poucos em detrimento da grande maioria e, para piorar, esquecem-se que vivemos numa nação marcada por milhões de endividados, dados recentes divulgados pelo CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), 78% das famílias brasileiras estão endividadas. Neste cenário assustador, como falar em recuperação econômica?

As expectativas do crescimento econômico brasileiro em 2022 ultrapassaram 2,7% ao ano, embora acreditemos que um país como o nosso, que precisa urgentemente acelerar o seu crescimento econômico, para reduzir os passivos sociais e os desequilíbrios econômicos, os dados de crescimento são positivos e devem ser comemorados, mas precisamos nos preocupar com a sustentação deste crescimento, será que esta recuperação econômica deve continuar no ano de 2023? Ou nosso crescimento econômico é mais um dos inúmeros voos de galinha que acompanha a economia nacional, sem estruturas, sem investimentos, sem planejamentos e sem projeto nacional?

O crescimento econômico é sempre imprescindível para qualquer sociedade, traz aumento das riquezas materiais, novas perspectivas de emprego, possiblidades de melhora da renda e dos salários, investimentos produtivos e novos modelos de negócios que impulsionam novos empreendimentos, gerando melhoras consideráveis para a população.
Neste momento, me preocupa os instrumentos utilizados para estimular o crescimento imediato, aumento dos recursos públicos com pouca transparência, consignados para grupos sociais mais vulneráveis com taxas de juros extorsivas que tendem a criar endividamentos no curto prazo, desequilíbrios fiscais contratados para o próximo ano, especialistas em orçamento público calculam mais de 100 bilhões de reais injetados na economia, criando uma verdadeira bomba fiscal para o próximo ano, que deve levar o governo aumentar as taxas de juros e ajustes fiscais rigorosos, reduzindo repasses públicos e aprofundando um ambiente de baixo crescimento econômico e a piora das condições sociais.

Depois de alguns meses de melhora econômica, o Banco Central nos trouxe indicadores preocupantes, o IBC-Br registrou queda de 1,13% em agosto, além do aumento dos preços dos combustíveis e resistência de queda dos preços dos alimentos. Neste momento, devemos nos perguntar: neste cenário estamos crescendo ou estamos nos aproximando de um outro voo de galinha?

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Brasileira Contemporânea, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 26/10/2022.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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