A economia brasileira apresenta grandes dificuldades de engatar um ciclo de crescimento econômico sustentável com geração de emprego, investimentos produtivos, incremento da renda e fortalecimento do mercado interno, com isso, percebemos que vivemos em ciclos curtos de melhoras imaginárias, com inúmeras promessas e frustrações constantes, além de desesperança, insatisfação e instabilidades.
Para que a sociedade brasileira consiga alcançar o tão almejado desenvolvimento econômico é fundamental a construção de um mercado interno pujante, com estruturas produtivas consolidadas e fortes investimentos produtivos, crescimento do emprego, melhora na renda agregada, estabilidade política, instituições sólidas, tudo isso, contribuem para o fomento da estrutura produtiva.
O desenvolvimento econômico é um processo constante que demanda tempo, planejamento e a construção de pactos sociais e políticos, exigindo empenho e dedicação de todos os atores institucionais, criando novos consensos para a reconstrução industrial, com investimentos em capital humano com melhoras consideráveis na educação, na pesquisa e no desenvolvimento científico e tecnológico.
Para a construção de um mercado interno pujante e dinâmico é fundamental a adoção de um novo modelo econômico, priorizando os investimentos produtivos em detrimento dos investimentos especulativos. O desenvolvimento do mercado interno como motor do crescimento econômico exige uma alteração radical da estrutura tributária nacional, acabando com as isenções fiscais e tributárias indiscriminadas, sem critérios claros e geradores de privilégios de poucos grupos econômicos, adotando uma tributação progressiva, tributando lucros e dividendos e canalizando estes recursos para um novo modelo de construção coletiva, priorizando o combate das desigualdades que perpassam a sociedade brasileira e contribuem para perpetuar os péssimos indicadores socioeconômicos.
Poucas nações do mundo possuem mercados internos pujantes e capacidades de alavancar os investimentos produtivos, criando espaços de crescimento impulsionados por demandas internas. O Brasil possui mais de 200 milhões de pessoas sedentos de consumo e de dignidade, precisamos construir um projeto de nação que inclua a totalidade da população, garantindo educação de qualidade para os cidadãos, serviços públicos decentes e novas perspectivas para o futuro, melhorando o ambiente institucional, respeitando os direitos humanos e valorizando o meio ambiente.
Ao analisarmos a situação brasileira, percebemos que o mercado nacional carece de dinamismo, o alto desemprego e a elevada informalidade limita o crescimento do mercado interno e criam travas evidentes de recuperação mais efetiva da economia.
Neste ambiente, percebemos o paradoxo crescente da economia nacional, de um lado, poucos grupos econômicos ganham elevadas quantias monetárias, acumulando ganhos substanciais, como demostrado recentemente pelos elevados lucros auferidos pelos bancos nacionais e, de outro lado, o crescimento visível do empobrecimento da população, com incremento de indivíduos vivendo na rua, o crescimento de pessoas sobrevivendo através dos auxílios governamentais, a degradação da renda em decorrência de uma inflação acelerada e da desesperança que fragiliza a sociedade, gerando incertezas e medos constantes.
O mercado interno pode ser um grande motor do crescimento econômico, para isso, faz-se necessário a reconstrução das estruturas sociais e políticas, reduzindo os ganhos elevados de grupos que se apoderaram dos setores governamentais e se comprazem com a perpetuação das desigualdades, auferindo grandes lucros especulativos e poucos retornos concretos para a sociedade, concentrando a renda e centralizando os poderes econômicos e políticos, evitando alterações estruturais, impedindo a adoção de um sistema tributário progressivo e garantindo seus vultosos ganhos centrado no rentismo e no imediatismo.
O crescimento e a consolidação do mercado interno podem garantir novos espaços de desenvolvimento socioeconômico, sem este ativo fundamental, o sonho do desenvolvimento se fará cada vez mais distante e nos afastará do verdadeiro conceito de civilização.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 17/08/2022.