Vivemos momentos de grandes inquietações econômicas e sociais, com impactos generalizados sobre todos os indivíduos, em todas as regiões do mundo, gerando ansiedades e expectativas de melhorias sociais, com grandes transformações no mundo do trabalho, com o surgimento de novas tecnologias que estão moldando os indivíduos, modificando comportamentos humanos e impactando sobre as famílias, os indivíduos e os relacionamentos, criando incertezas, instabilidades crescentes e medos cotidianos.
Nesta sociedade, o mundo contemporâneo estimula um ambiente constante de competição e performance constantes, a concorrência cresce de forma acelerada, o individualismo cresce na comunidade e estamos sempre valorizando os ganhos materiais e os lucros estratosféricos como forma de definirmos o sucesso e a posição social, depois nos assustamos ao percebermos que vivemos numa sociedade apodrecida e fortemente degradada, onde a solidariedade e os valores humanos e civilizacionais estão sendo deixados de lado. Estimulamos uma guerra cotidiana de todos contra todos, vivemos nos matando cotidianamente e acreditando que estamos sobrevivendo num mundo marcado pelo caos e pela ignorância, ledo engano, estamos desaparecendo todos os dias e todos os momentos, perdendo o poder de imaginar, de sonhar e de construir uma sociedade mais igualitária.
Vivemos numa sociedade em que os valores foram alterados rapidamente, os relacionamentos humanos foram transformados, a escolha da profissão nos traz grandes possibilidades, as escolas e as universidades perderam o monopólio do conhecimento, os professores perderam a centralidade, as formas de riqueza foram modificadas e o conceito de uma vida bem sucedida passou por mudanças estruturais. A classe média, sempre vista como um grupo social dotado de conhecimento, de uma civilidade e de cultura geral passou por mudanças perigosas e começou a flertar com um mundo paralelo, rechaçando a ciência e acreditando na meritocracia e se esquecendo da justiça social como cimento de organização social e de bem-estar dos indivíduos. Na sociedade contemporânea, os novos valores cultivados pela comunidade estão centrados no poder do capital, do dinheiro, da acumulação, do imediatismo e do individualismo, estamos valorizando informações desnecessárias e sem consistência, além de estarmos esperando um salvador da pátria, um mártir iluminado para nos retirar de um local que historicamente que nós nos colocamos pelas escolhas equivocadas, esdrúxulas e imediatistas.
Nesta sociedade, percebemos que a ciência está sendo deixada de lado quando as verdades constrangem os donos do poder, neste cenário, as alterações climáticas estão sendo colocadas em xeque por interesses mesquinhos e fundamentalistas daqueles que ganham com esta estrutura econômica e financeira, que patrocinam pesquisas enviesadas para comprovar questões relacionadas ao aquecimento global e as alterações climáticas, mesmo sabendo que, todos os dias, a natureza está mostrando que este modelo econômico e produtivo vai levar o planeta a uma destruição sem precedente.
O poder do imediatismo em detrimento do planejamento de longo prazo está levando os gestores, os agentes políticos e privados, os financistas e os empresários a apoiarem medidas de austeridade, acreditando que estas trarão o ambiente propício para os investimentos produtivos, se esquecendo de que as nações mais desenvolvidas estão mudando suas agendas econômicas e percebendo que esse modelo produtivo é insustentável, gerando degradação do meio ambiente, mais desigualdade social, concentração de renda, polarização política e conflitos sociais, internos e externos, além de guerras fratricidas, conflitos militares e embates comerciais degradantes.
A mercantilização do mundo está gerando conflitos constantes, deixando de lado a construção de uma sociedade mais igualitária, os embates crescem, os preconceitos se escancaram, as violências aumentam, os medos se incrementam e os rancores crescem. Estamos precisando refazer escolhas para aprendermos a convivência saudável .
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário.