Metamorfoses no mundo do trabalho

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Discute-se na sociedade contemporânea como se deve formar o trabalhador do século XXI, são muitos os desafios para este profissional, afinal uma sociedade em transformação requer um novo modelo de trabalhador, novas habilidades devem ser estimuladas para que a produtividade cresça de forma acelerada e os desperdícios sejam cada vez menores, isto sem mencionar os problemas gerados no meio ambiente que devem ser evitados sob pena de causar prejuízos generalizados em toda a sociedade mundial, comprometendo a vida e as margens de manobra da próxima geração, que receberia como herança uma sociedade com graves desajustes ambientais e problemas de sustentabilidade.

O modelo fordista de produção demandava trabalhadores para as fábricas e reduziam-nos a meros produtores de bens e mercadorias, os empresários deixavam claro que a única coisa que queriam de seus funcionários era sua força física, o cérebro era um instrumento que deveria ser deixados de lado, pensar, refletir e contestar eram habilidades que não deveriam acompanhar o trabalhador do paradigma fordista de produção, estas habilidades eram inatas apenas para a classe empresarial, ao trabalhador apenas caberia obedecer e cumprir as ordens que lhes eram dadas pelos seus superiores, produzir cada vez mais e aceitar as ordens sem contestações, mantendo e estimulando a disciplina no local de trabalho.

Este modelo de organização do trabalho ultrapassava os muros das fábricas e dos setores produtivos, as escolas se comportavam como agentes estimuladores de um modelo de educação que criava apenas um indivíduo automatizado, que se destacava como um reprodutor de ordens e tarefas, incapaz de refletir sobre as atividades mais amplas, servindo apenas como um agente robotizado, este modelo de educação pouco mudou, mesmo sabendo que a sociedade internacional se transformou imensamente, a educação continua marcada pelo conservadorismo e pela burocracia, ainda carecendo de transformações na mesma intensidade que outros setores.

O capitalismo industrial do século XVIII trouxe grandes novidades para os trabalhadores, a sua retirada do campo e acolhida na cidade representou para este indivíduo uma mudança estrutural, obrigando-o a se adaptar a uma forma de vida diferente, hábitos anteriores tiverem que ser deixados de lado sob pena de não encontrar ocupação remunerada, alguns mais conservadores e inflexíveis foram condenados a marginalidade ou a exclusão social, sendo obrigados a viverem em condições fétidas e degradantes, se abrigando em arrabaldes e periferias das cidades e inaugurando as favelas e os grandes bolsões de miséria que caracterizam as cidades contemporâneas.

A sobrevivência exigia dos trabalhadores uma busca constante para se adaptar ao modelo dominante, vender sua força de trabalho e, com isso, garantir um salário para a sua manutenção e de seus familiares era o grande desafio dos trabalhadores, a concorrência era algo novo, a competição com seus semelhantes transformava os sentimentos morais dos indivíduos, a solidariedade e a harmonia no ambiente de trabalho eram substituídas pela concorrência por espaço e por emprego, a nova lei era a da selva, onde os mais fortes sobreviveriam e os mais fracos seriam relegados ao esquecimento e deixados de lado, era uma versão moderna da lei do mais forte, um mundo onde os mais frágeis não tem vez, onde os indivíduos mais sensíveis eram destruídos e a força física era ressaltada como instrumento de sobrevivência e superioridade, este mundo não mais existe, ou melhor, este mundo esta sendo substituído por uma nova forma de organização que geram medos e preocupações, onde os fortes não mais dão as cartas e as músicas se voltam mais nitidamente para os sensíveis e flexíveis, neste mundo os fortes não tem vez, e agora?

O mundo atual exige habilidades novas e desconhecidas dos trabalhadores, sensibilidade, reflexão, agilidade e flexibilidade são algumas das novas exigências do mercado de trabalho, num mundo marcado por mudanças constantes, onde a velocidade da tecnologia molda nossas vidas e nossos comportamentos, o trabalhador moderno precisa se adaptar a rapidez do mundo contemporâneo, captar informações e decodificá-las é uma das exigências do mundo do trabalho, reciclagem não é mais uma palavra ligada apenas às questões ambientais, está intimamente ligada aos novos comportamentos dos trabalhadores e consumidores cujas escolhas são cada vez mais importantes para os rumos do sistema produtivo, estudar e se capacitar sempre são exigências que levam os trabalhadores a mergulharem no trabalho e, na maioria das vezes, deixando tudo o mais de lado.

Quando destacamos a sensibilidade não poderíamos deixar de lado a entrada triunfal das mulheres no mercado de trabalho, atualmente encontramos corporações, países e instituições diferenciadas sendo conduzidas por mulheres altamente competentes, se no início do século XX alguém dissesse que no apagar das luzes deste século as mulheres estariam em cargos de diretorias e de liderança seria ridicularizado como utópicos e desinformados, mas o mundo atual apresenta tons mais claros de rosa, recheados de mais sensibilidade e emoção, sentimentos que, muitas vezes, estão distantes dos corações masculinos e se estiverem muito próximos serão acusados de homossexualismo e, com isso, vítimas de preconceito e marginalismo, obrigando o indivíduo a rever seus conceitos e levando os homens a assumirem que sensibilidade não necessariamente significa homossexualidade, mas faz-se necessário num mundo que exige cada vez mais emoção e flexibilidade dos trabalhadores.

A educação do mundo contemporâneo deve se transformar com mais rapidez, as novas tecnologias devem ser estimuladas e implementadas, agora, não podemos deixar de lado alguns instrumentos que fazem a diferença, os pais devem se engajar num projeto de educação transformadora que dêem aos seus filhos não apenas chances de concorrer no mercado de trabalho, mas novas oportunidades de crescimento pessoal, novas formas de enxergar e entender o mundo como forma de afastar a ignorância que está presente em todos os indivíduos, uma educação que nos despisse da escuridão que trazemos no interior da alma e que nos acompanha em todos os momentos da nossa existência, não apenas na vida atual, mas em todas as nossas vivências no mundo material e que, infelizmente, não conseguimos superar por medo de enxergar as transformações em curso, refletir e mudar nossos pensamentos e sentimentos mais íntimos.

A tecnologia nos parece a grande panacéia do processo educacional, as promessas de facilidades crescentes advindas das revoluções científicas nos auxiliam a compreender a sociedade e as necessidades do mundo do trabalho, tablets, notebooks, smartphones, ultrabooks, etc… se transformaram em ferramentas interessantes e imprescindíveis para a compreensão da sociedade contemporânea, ter acesso a estas tecnologias são fundamentais para o mundo do trabalho, o mundo exige cada vez mais habilidades intangíveis, a época dos tangíveis ficou para trás, o momento atual é de fascínio e encantamento pelo processo tecnológico, mas temos que ter em mente que de que nada serve toda esta tecnologia se a atual sociedade deixa de lado valores fundamentais, se desrespeita sentimentos e religiões, criando indivíduos cada vez mais inseguros e imaturos e deixando de lado a esperança e as perspectivas de progresso e de crescimento social em prol de uma obsessão por uma mercadoria ou produto inovador que, para seus propagandistas, servem para facilitar a vida da população, mas que, na verdade, se restringe a um pequeno grupo de privilegiados desta tecnologia, privilegiados em parte, isto porque este mundo da tecnologia faz o indivíduo mergulhar no trabalho e nas atividades cotidianas relacionadas ao universo profissional e acaba deixando de lado sentimentos mais nobres e afetos mais verdadeiros, transformando sua profissão em uma religião onde seu deus passa a ser o dinheiro e a felicidade comprada e adquirida num mercada hipócrita e baseado em interesses mesquinhos.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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