Ao avaliarmos políticas públicas, precisamos pensar no que pode gerar um próspero 2044
Bernardo Guimarães, Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
Folha de São Paulo, 27/12/2023
Morreu na semana passada, aos 99 anos, Robert Solow, um grande macroeconomista e vencedor do Prêmio Nobel. Solow fez sua carreira como professor do MIT e foi um pioneiro na moderna literatura sobre crescimento econômico.
O que gera desenvolvimento econômico? O que fez com que a renda por habitante da China tenha ido do nível da Etiópia em 1980 para maior que a do Brasil 40 anos depois? E como a China era tão pobre há 50 anos? O que fez Botswana ser 8 vezes mais rica que o vizinho Zimbabwe? Como alguns países do leste asiático que eram muito mais pobres que nós em 1950 são hoje tão desenvolvidos quanto países europeus? E por que a maioria dos países não conseguiu esse feito?
Como disse Robert Lucas, outro grande economista que morreu em 2023, quando começamos a nos perguntar sobre isso, é difícil pensar em outra coisa. Especialmente para países pobres e de renda média, um bom crescimento econômico por algumas décadas faria com que muitas pessoas tivessem vidas mais longas, saudáveis, confortáveis e felizes.
Robert Solow abriu caminhos para pesquisa nesse campo. Nos anos 1950 e 1960, ele mostrou, com modelos teóricos e dados, que acumulação de capital por si só não traria crescimento econômico duradouro.
Teoricamente, essa conclusão segue da ideia de que capital tem retornos decrescentes: mantendo tudo o mais constante, quanto mais capital há numa empresa, menos importante é acrescentar mais capital. Se há muito poucos computadores, um a mais torna a empresa bem mais produtiva. Mas se os computadores são bons e abundantes, investir mais nisso não aumenta significativamente a produtividade.
Empiricamente, Solow mostrou, usando 50 anos de dados dos Estados Unidos, que o crescimento econômico tinha menos a ver com acumulação de capital e mais a ver com fatores tecnológicos, educacionais ou culturais.
Esses seus artigos estimularam muito trabalho na área. Como eu não conseguiria fazer um resumo decente neste espaço, fecho com algumas implicações dessa literatura acadêmica para a nossa realidade.
Como gerar condições para crescimento econômico duradouro?
É lugar-comum dizer que precisamos investir mais em educação —ao mesmo tempo em que se desprezam aulas e livros.
Contudo, o Brasil gasta cerca de 5,5% do PIB com educação, percentual similar ao de outros países. Há muita pesquisa, inclusive de economistas, sobre o que podemos fazer para melhorar o retorno desse investimento.
Nós achamos que entendemos a importância de medidas que possam forjar o crescimento econômico por décadas, mas o jogo político foca sempre na evolução do PIB e a inflação atual.
Parece que esquecemos que o PIB do Brasil em 2023 será por volta de R$ 10 trilhões, não R$ 5 trilhões, nem R$ 20 trilhões, não por causa do que o governo Lula fez em 2023 ou o governo Bolsonaro fez em 2022, mas por tudo o que foi feito no passado.
Claro, isso não quer dizer que nosso destino foi escrito há 500 anos. Em 1950, a renda por habitante da Costa Rica era parecida com a da Guatemala. Hoje é quatro vezes maior. Poucas décadas podem fazer uma baita diferença.
A literatura acadêmica moderna enfatiza a importância de instituições que estimulem o investimento, a produção e a alocação eficiente de recursos. Precisamos de mais reformas nessa direção.
Esse é o momento de nos desejarmos um feliz 2024, mas, ao avaliarmos políticas públicas, precisamos pensar no que pode gerar um próspero 2044.