Mortes, arrependimentos e pandemias

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A pandemia em curso na sociedade internacional está trazendo à tona uma discussão sobre a importância de conversar sobre o tema da morte, as incertezas existentes na vida física e os desafios gerados pelo momento da morte material. Para alguns um momento de descansar, se reencontrarmos com seres mais próximos, rever pessoas amadas e familiares, se encontrar com aqueles que morreram; para outros um momento de incertezas, medos, desesperanças e instabilidades, onde ninguém volta para contar como foi seu falecimento, seu desprendimento físico ou melhor, poucos acreditam dos relatos daqueles que escreveram na morte do desencarne.

A literatura espírita sempre trouxe um grande refrigério para todos os indivíduos que pensam sobre o assunto, pessoas que buscam compreender o momento do desencarne e indaga sobre o acontece depois da vida material. Dentre os livros que destacam esta temática, podemos elencar a coleção André Luiz, a vida no mundo espiritual, sendo que o livro mais conhecido para a sociedade foi Nosso Lar, ditado pelo médico André Luiz e psicografado por Francisco Cândido Xavier, que traz inúmeras reflexões sobre como se dá a vida no mundo espiritual, os dilemas, as dificuldades e os desafios para o espírito.

Um dos livros mais relevantes da doutrina espírita para tentar responder o momento do desencarne é a obra Voltei, obra ditado por Frederico Figner e psicografado também por Francisco Cândido Xavier, nesta obra o autor se utiliza do pseudônimo de irmão Jacob. Neste livro percebemos inúmeras reflexões fundamentais para compreender o momento do desencarne, as dores, os medos, as esperanças e as reflexões mais íntimas e pessoais, uma obra que deveria ser lida e estudada por todas as pessoas, mesmo aqueles que não se professam de espíritas.

O momento da morte Jacob mostra as dificuldades do desprendimento dos laços materiais, um momento que pode ser muito delicado e agressivo, vai dependendo dos merecimentos individuais. Neste momento, aqueles irmãos dotados de grandes merecimentos, acumulados em atividade no bem, centrados em amor e em solidariedade, são acometidos de auxílios dos espíritos mais elevados, transformando este desprendimento em um momento menos doloroso, enquanto aqueles que não acumularam seus merecimentos, no caminhar na vida espiritual, terão maiores dificuldades neste instante de grande apreensão e incertezas.

A morte é um momento único, nenhum desencarne é igual entre os indivíduos, em alguns casos encontramos semelhanças, mas cada pessoa tem seus merecimentos, suas vivências e aprendizados. Neste momento, muitos ressentimentos, mágoas e tristezas vem à tona, levando os encarnados e desencarnados a construírem vínculos perenes, de sentimentos de amor e solidariedade, os vínculos crescem e perduram com o tempo. Quando estes vínculos são negativos, marcados por mágoas e ressentimentos, estes sentimentos criam negatividades e constroem proximidades que podem durar anos, séculos ou milênios.

Outro assunto que o autor destaca de forma intensa no decorrer da obra, é: “Não se acreditem quitados com a Lei, atendendo a pequeninos deveres de solidariedade humana”. Nesta passagem, é importante analisar que as pessoas, muitas vezes, adotam procedimentos de auxílios reduzidos e acreditam que, estas atitudes, os garantem uma consciência maior e pontos positivos no mundo espiritual. Todos estes donativos espirituais e materiais são imprescindíveis no auxílio dos mais necessitados, mas ao mesmo tempo, temos que compreender que a conversão ao bem e a solidariedade humana é o único caminho do crescimento espiritual.

A doutrina espírita nos auxilia na compreensão de valores mais consistentes, mostrando-nos que todos somos espíritos, uns no mundo material e outros no mundo espiritual, mas estão próximos e estamos sempre em busca do crescimento e do desenvolvimento. As afinidades são fundamentais nesta convivência humana, neste momento percebemos como somos seres pequenos e limitados, passamos por grandes desafios, mas ao mesmo tempo, sempre recebemos muitas oportunidades de progresso pelos bons espíritos, para construirmos nossas estratégias de soerguimentos, diante disso, faz-se necessário nos sintonizar com espíritos que nos auxiliam no nosso melhoramento.

Num momento de pandemia, onde milhões de pessoas estão morrendo em decorrência do Covid-19, os indivíduos devem refletir sobre os comportamentos mais íntimos, observar nossos interiores, seus sentimentos e as suas atividades cotidianas, percebendo se estamos contribuindo para o desenvolvimento da sociedade ou se estamos contribuindo apenas para acumular seus ganhos imediatos? Neste desafio gerado pela pandemia, todas as atividades são importantes para auxiliar na reconstrução da sociedade, os interesses imediatos podem nos garantir grandes somas financeiras e monetárias, mas lembremos que, posteriormente, seremos chamados para prestar contas a suas atividades mais íntimas, neste momento não temos como terceirizar nossas responsabilidades e nossa passagem pela vida material.

A pandemia deve ser vista como um momento de desenvolvimento e de ensinamentos, os indivíduos devem deixar de lado a competição degradação e da concorrência crescente e de juntar esforços entre todos os povos e civilizações, unindo conhecimentos científicos, materiais e tecnológicos em prol de todos os seres humanos, inaugurando um novo momento da humanidade, criando uma verdadeira civilização, centrado no amor, no respeito e na solidariedade.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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