As transformações recentes na sociedade internacional estão exigindo o retorno do planejamento e a reconstrução de um novo projeto nacional. Esses desafios estão envoltos em todas as nações, motivados pela pandemia que assolou a sociedade internacional matando mais de seis milhões de pessoas, pela guerra em curso entre Rússia e Ucrânia, impactando sobre as estruturas produtivas globais, pelos grandes desafios gerados pelo incremento tecnológico, onde a inteligência artificial está contribuindo para o aumento das preocupações e das ansiedades dos indivíduos, além das questões referentes ao meio ambiente, natureza e da sustentabilidade, onde muitos desafios prescindem de um grande esforço e participação da comunidade internacional.
Neste momento, nações como o Brasil estão costurando e estruturando um conjunto de políticas para reconstrução industrial, motivando os setores econômicos e produtivos para um desafio de grande relevância, ainda mais, numa sociedade marcada por forte desindustrialização, onde os setores industriais perderam relevância na economia nacional, com repercussões negativas para a estrutura produtiva, redução de empregos industriais e uma forte degradação da renda dos trabalhadores, que culminaram sobre uma fragilização do mercado interno, perda de dinamismo econômico e desagregação dos termos de troca no comércio internacional.
Recentemente, as nações desenvolvidas estão retomando seus projetos de reindustrialização, canalizando recursos para a pesquisa e para a inovação, aumentando a busca por maior autonomia econômica, evitando os efeitos geradas pela pandemia, que demonstraram claramente que muitas economias desenvolvidas perderam espaço na estrutura econômica industrial, se transformando em nações dependentes de outras regiões, neste percurso, os grandes ganhadores foram as economias asiáticas, notadamente a China, Coréia do Sul, Taiwan, dentre outras.
Internamente, os desafios são sempre muito custosos, os recursos dispendidos nesta estratégia devem ser investidos pelo governo nacional, visando uma reconstrução industrial no longo prazo, com recursos subsidiados e taxas de juros condizentes, evitando projetos megalomaníacos e buscando vantagens comparativas que nos dão condições de competir num cenário altamente concorrencial e marcado por grandes conglomerados produtivos, dotados de grandes somas de recursos materiais e forte acesso aos mercados de capital global, cujos custos monetários são reduzidos e seus investidores vislumbram o longo prazo.
Outro grande desafio para a nova industrialização brasileira está na mentalidade de muitos agentes econômicos e produtivos, setores que, muitas vezes, se acostumaram com seus lucros elevados, gerados nos mercados financeiros, remunerados por taxas de juros escorchantes e proibitivas, que contribuíram para pavimentar o crescimento da desigualdade da renda e das oportunidades, que caracterizam a sociedade brasileira e contribuíram para perpetuar as exclusões sociais e as violências generalizadas, características visíveis da sociedade brasileiras.
Neste desafio de reindustrialização da economia brasileira, faz-se necessário elencar setores estratégicos, onde destacamos o complexo econômico da saúde, cujo potencial de crescimento é gigantesco, ladeando outros setores produtivos que poderiam reduzir as importações da área da saúde, complementando as compras governamentais, impulsionado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cujo potencial de emprego, de renda e de salário são elevados, gerando fortes impactos na economia nacional. Destacamos ainda, nos esforços da nova industrialização, setores como a indústria da Defesa, além dos setores de máquinas e equipamentos, que possuem, historicamente, capacidade interna instalada, dessa forma, possuem mais capacidade de absorver e internalizar tecnologias.
Vivemos num momento de grandes transformações digitais e de transição energética, todos os esforços da nova industrialização prescindem de estratégias de inclusão social, fortes investimentos em ciência e tecnologia, fomento da pesquisa científica e estímulos crescentes de concorrência internacional. O momento é de decisões estratégicas, combatendo visões entreguistas e subservientes que contribuem para perpetuar nosso atraso civilizacional.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Circular, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 06/06/2023.