Adriana Fernandes, Jornalista em Brasília, onde acompanha os principais acontecimentos econômicos e políticos há mais de 25 anos.
Folha de São Paulo, 04/10/2025
O agro não é pop. É blindado à custa do contribuinte brasileiro. A blindagem só tem aumentado graças à poderosa bancada do agronegócio no Congresso, que se agiganta num círculo vicioso em prejuízo a outros setores da economia. Quanto mais forte fica, mais consegue benesses e menos paga impostos.
O último bote ocorreu na votação na Câmara do projeto que isenta totalmente do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5.000 mensais e cria um imposto mínimo de 10% para as altas rendas.
O texto aprovado garante que os grandes produtores rurais, que hoje já têm a renda isenta do pagamento do IR da pessoa física, também não serão alcançados pelo imposto dos milionários. Uma emenda ao projeto de lei excluiu a parcela isenta relativa à atividade rural do valor que será tributado. O privilégio foi garantido pelo relator do projeto, o alagoano e pecuarista Arthur Lima (PP).
Nunca é demais lembrar que produtores rurais já têm R$ 110 bilhões da renda isenta por ano. Metade desse dinheiro fica nas mãos de produtores que ganham mais de R$ 1 milhão por ano. Ou seja, não é pequeno produtor, pobrezinho, mas gente de alta renda mesmo.
O relator da MP do IOF (1303), o petista Carlos Zarattini (SP), também vai dar uma ajuda extra para manter a isenção do IRPF para as LCAs (Letras do Crédito do Agronegócio), títulos de renda fixa que se transformaram numa farra fiscal com o efeito colateral de distorcer as condições do mercado de outras aplicações.
Com esses novos privilégios, a blindagem está perfeita: juros subsidiados; seguro contra quebra de safra; subsídios tributários gigantescos; isenção do IBS e CBS na reforma tributária; imposto mínimo zero, que é usado para comprar LCA com zero de tributação. Se ainda assim o produtor quebrar, a indústria da recuperação judicial também está aí para ajudar.
Em tempos de Plano Brasil Soberano, temos a blindagem soberana do agro. Quando o Estado desonera um setor, outros acabam pagando mais. O que os demais setores da economia estão esperando para reagir?
É uma farsa o slogan de que o agro é pop.