Otimismo econômico e incertezas políticas: uma análise do primeiro mês de governo

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Depois de uma eleição conturbada, marcada por facadas, acusações, discussões e confrontos generalizados, o governo Jair Messias Bolsonaro inicia seu mandato e, com ele, muitas esperanças, expectativas positivas, além de preocupações, medos e incertezas, começamos uma nova era para o Brasil ou vamos mergulhar no conhecido e rejeitado mais do mesmo?

Estamos começando o segundo mês do novo governo, sabemos que ainda é muito cedo para investigações mais aprofundadas e questionamentos mais elaborados, nesta data o novo Congresso Nacional está tomando posse e, com ele, aumentam as expectativas de toda a sociedade para que as reformas essenciais e urgentes que o país precisa, sejam iniciadas e encaminhadas, dentre elas destacamos a Reforma da Previdência, a Reforma Tributária e a Reforma do Estado, dentre outras importantes alterações que são fundamentais para que possamos viabilizar o Brasil, construir uma nação verdadeira, não apenas para os próximos quatro anos, mas para uma nova geração de brasileiros que quando nascem perderam a esperança de ascensão social e melhoria de vida, muitos migrando para outros países e para outras regiões do mundo, além de vermos tantos outros cidadãos se entregando para a bandidagem e para a desesperança, o desafio é enorme e o governo não pode abrir mão desta oportunidade histórica.

De um lado encontramos nomes de peso que foram escolhidos para a composição do novo ministério, como o ex-juiz Sérgio Moro, designado para o Ministério da Justiça e da Segurança Pública e o economista Paulo Guedes, que comanda o Ministério da Economia, nomes de grande expressão profissional em escalas nacional e internacional, que deram ao governo Bolsonaro a envergadura que este precisava, ainda mais com tantas reformas e reestruturações que demandam o país para se reconstruir e se preparar para os novos ventos da sociedade internacional.

Ambos os nomes são cruciais para o sucesso do novo governo, do lado da justiça a agenda dominante gira em torno do combate a corrupção e da impunidade, demandas fortes da sociedade e que receberam grande atenção da população nesta última eleição, a incógnita e o desafio é saber como construir os consensos políticos para o combate a corrupção mesmo sabendo que para isto, faz-se necessário a aprovação de inúmeras propostas de alteração constitucional.

No campo econômico, percebemos grande euforia na Bolsa de Valores, cuja valorização bateu todos os recordes neste primeiro mês, os investidores estão adorando as propostas do economista Paulo Guedes que, dentre outras coisas, está propondo um amplo processo de desestatização, abertura econômica e desburocratização, estas medidas agradam ao grande capital nacional e internacional, o grande desafio está na questão fiscal, se o governo conseguir aprovar uma reforma ampla da previdência, que inclua todos os grupos e reduza os privilégios, os ganhos políticos devem impulsionar a economia para períodos de forte crescimento econômico, não teríamos receio de apostar em um crescimento rápido de uns 3% ao ano na próxima década, com ganhos de emprego, renda e melhorias sociais representativas.

Se estas medidas forem aprovadas pelo Congresso Nacional, os ganhos serão substanciais para toda a sociedade, mas não podemos deixar de refletir sobre as dificuldades e das possibilidades destas medidas não serem aprovadas, neste caso se abre uma grande incógnita para o governo federal e as perspectivas econômicas, principalmente no campo fiscal, serão bastante negativas, levando a economia a uma recessão e grande instabilidade, com incremento no desemprego e piora na renda agregada, além de um aumento no risco país e uma fuga de dólares, com desvalorização cambial, estouro da dívida empresarial e do déficit público.

Alguns analistas destacam o potencial econômico do país, os investidores internacionais veem o país como um grande investimento, se o governo conseguir aprovar as medidas liberalizantes o Brasil deve atrair um soma de mais de 100 bilhões de dólares, recursos estes para as mais variadas áreas e setores econômicos, com impactos bastante positivos para a economia do país, fazendo da próxima década um momento de forte crescimento econômico e ganhos de produtividade.

O sucesso do governo Bolsonaro passa pelo sucesso inicial destas duas grandes áreas e ministérios, Justiça e Economia, ambas necessitam de forte apoio parlamentar do Congresso Nacional para a aprovação de leis e alterações jurídicas e institucionais, se o governo conseguir esta costura os ganhos serão de todos, agora se o apoio político não se concretizar os riscos de fracasso são grandes.

De outro lado, encontramos um grande número de ministros sem expressão, tecnicamente medíocres e com pouco conhecimento da burocracia do Estado, como nas Relações Exteriores, na Educação, no Meio Ambiente e nos Direitos Humanos, com isso, percebemos fortes críticas das comunidades nacional e internacional com relação a estas escolhas que, muitas vezes são feitas para agradar interesses religiosos e corporativos em detrimento de profissionais capacitados, competentes e reconhecidos, tudo isso pode gerar retrocesso em programas exitosos e necessários e atrasos institucionais, com custos econômicos e financeiros elevados.

A composição do governo está dividida em dois grandes eixos, de um lado encontramos um grupo liberal, internacionalista e adepto da modernização do Estado e, de outro, um grupo mais conservador, evangélico, estatista e crítico do globalismo, a mediação deste conflito será fundamental para o sucesso deste novo governo, o papel exercido pelo presidente dará o rumo correto deste novo modelo que está se implantando na sociedade brasileira, se o primeiro tiver êxito os ganhos podem ser interessantes, agora, se o segundo for o vencedor estamos em um impasse e numa incerteza crescentes.

Algumas medidas tomadas pelo governo nestes trinta dias foram para agradar seu público cativo, onde destacamos as relacionadas a posse de armas, a publicação dos maiores empréstimos e devedores do BNDES e o apoio aos governo de Israel e dos Estados Unidos, buscando um alinhamento direto que pode nos gerar graves problemas nas negociações de comércio internacional com países árabes e com a China, atualmente o maior parceiro comercial do Brasil.

Alguns analistas políticos e intelectuais debatem se a democracia está em risco no Brasil na atualidade, argumentos temos para defender ou para rechaçar esta ideia, acredito que não temos elementos claros ainda para acreditar que caminhamos para um governo mais autoritário, vejo este momento com grande apreensão, a ascensão de um governo fortemente comprometido com as teses de direita no campo da economia é algo novo e desconhecido no país, mas devemos destacar, que este governo foi eleito democraticamente e chancelado por mais de 57 milhões de votos, o que dá ao presidente eleito uma grande legitimidade para governar e defender suas ideias, cabendo aos grupos que perderam o pleito, se organizarem como oposição propositiva, mas que pensem no país e não em seus interesses eleitorais, como vimos muitas vezes em momentos nada distantes.

Nestes trinta dias de governo pouco vimos de avanço em medidas econômicas, as propostas de desestatização são interessantes mas ainda precisam ser detalhadas, a abertura econômica deve ser feita com cautela numa economia internacional altamente competitiva, os acordos comerciais e de integração econômica devem ser revistos e, muitos deles, aprofundados e consolidados para estimular a inserção do Brasil na economia global, mas é importante destacar que os custos iniciais destas políticas liberalizantes podem não ser tão auspiciosos como muitos estão imaginando, para evitar constrangimentos maiores, é fundamental que o Estado esteja em condições de dar o apoio institucional para os grupos mais afetados, sob pena de uma piora nos indicadores macroeconômicos e uma maior degradação social.

Como as propostas econômicas estão sendo costuradas nos gabinetes dos ministérios e das secretarias especializadas, o que vimos neste período foi uma avalanche de denúncias contra o filho do presidente, estas denúncias devem ser investigadas e os responsáveis devem ser punidos se necessário, dentre elas uma das denúncias mais graves estão vinculando a família aos milicianos do Estado do Rio de Janeiro, esta denúncia é grave e deve ser investigada pelos órgãos competentes, afinal, ninguém esta acima da lei, todos somos cidadãos e devemos respeitar as diretrizes da Constituição Federal.

Um novo governo gera sempre novas expectativas na sociedade, depois de um período de forte desaceleração econômica, com o produto interno bruto caindo mais de 9%, todos almejamos um crescimento econômico mais sólido e uma melhora nas questões sociais, neste período de crise vimos o país mergulhar em grande desilusão e desesperança, o desemprego atingiu mais de 12 milhões de pessoas, a violência cresceu de forma acelerada, apenas em 2017 foram assassinados mais de 63 mil pessoas, todo este ambiente de caos e desesperança prescindem de uma agenda sólida de combate aos desperdícios econômicos e financeiros, mesmo neste ambiente de crise e instabilidade, o setor bancário apresentou ganhos crescentes, um sistema bancário sólido é fundamental para a economia de um país, mas esta solidez não pode se dar em detrimento dos desequilíbrios da população mais pobre e degradada, se estamos em uma situação negativa, todos os grupos devem dar seu quinhão de sacrifício para que o sociedade melhore para todos, o Estado precisa diminuir seus tentáculos, ganhar eficiência e aumentar a sua produtividade, visando uma sociedade onde os serviços públicos se tornem um motivo de orgulho e admiração, sabemos que isto não se constrói de um dia para o outro e nem mesmo de um governo para outro, mas devemos ambicionar esta melhora e trabalhar para sua efetivação afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca.