Para qual escola os estudantes retornarão hoje?, por Alexandre Schneider.

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Milhões de estudantes de ensino básico voltam às aulas hoje no Brasil sob o signo da ansiedade e da esperança de um ano normal pós pandêmico

Alexandre Schneider, Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo

Folha de São Paulo – 30/01/2022

Desde que a pandemia eclodiu, a discussão pública no Brasil e no exterior gira em torno da comparação entre a aprendizagem dos estudantes privados de frequentar a escola em decorrência da pandemia e daqueles que frequentaram a escola em anos anteriores, medida por testes padronizados. Algo que —erroneamente, a meu ver— denominou-se “perda de aprendizagem”, uma vez que ninguém perde o que não “recebeu”.

Como tem sido usual nos últimos anos, além do diagnóstico comum para realidades educacionais distintas, a receita para enfrentar e vencer os desafios tem sido a mesma: a realização periódica de avaliações, a “desidratação” do currículo com a escolha do mínimo a ser ensinado, e a ampliação da carga horária escolar para que os estudantes sejam submetidos a um volume maior de conteúdos em uma espécie de regime intensivo de ensino e aprendizagem.

Estas são medidas alinhadas ao que o foi a escola antes da pandemia, mas talvez não sejam tão próximas do que será a escola pós-covid e certamente estão distantes do que deve ser: uma instituição que invista na formação de indivíduos capazes de guiar sua aprendizagem de forma mais autônoma, engaje os estudantes e garanta o direito de aprender a todos. Sugiro aqui três medidas simples, que podem eventualmente ser adotadas em conjunto com as anteriormente citadas.

Ouvir os estudantes. Cada um de nós viveu a “sua” pandemia. Que tal usar os primeiros dias para discutir com os estudantes como cada um deles viveu esse período tão desafiador? Uma conversa guiada, com perguntas previamente estruturadas em pequenos grupos, sobre a experiência de aprender em casa, qual o impacto da pandemia em suas vidas, que escola gostariam de encontrar neste ano, são algumas das possibilidades.

Talvez os educadores se surpreendam ao ouvir dos estudantes menos queixas em relação à “perda de aprendizagem” do que ao convívio com os colegas, dentro e fora da escola, ou de atividades que exigiam mais interação do que as aulas expositivas. Uma escuta ativa dos estudantes poderá proporcionar pistas relevantes para melhor organizar a escola para a aprendizagem.

Ouvir os educadores. Desde 2020, os educadores lançaram mão de uma série de estratégias que os aproximaram ainda mais da realidade vivida por seus estudantes e suas famílias, bem como de suas necessidades de formação para lidar com a realidade imposta pela pandemia. A escuta ativa dos educadores pode ser muito eficaz para apoiar a estruturação de redes de proteção social necessárias a combater os fatores extraescolares que impactam na aprendizagem, a organização da escola para que possa atender às necessidades de aprendizagem individuais e, sobretudo, desenhar programas alinhados às demandas de formação de professores decorrentes dos novos desafios impostos.

A terceira medida é a de investir intensivamente na formação dos professores para que sejam capazes de integrar os desafios da aprendizagem com os desafios da formação de indivíduos críticos e adaptáveis a um mundo em transformação.

Tornar a escola mais humana, fortalecer os laços entre educadores, estudantes e suas famílias, integrar a escola aos equipamentos públicos e privados no território não são medidas laterais à missão da escola pública, mas fortalecem as comunidades escolares e as preparam para garantir a melhoria contínua da aprendizagem de seus estudantes.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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