É fundamental que jovens tenham acesso a informações confiáveis e orientação adequada sobre o mercado
Deborah Bizarria, Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres
Folha de São Paulo, 06/11/2023
Para adolescentes no fim da vida escolar, novembro costuma ser um mês tenso, afinal, é quando ocorre o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Se, em um contexto de crescimento econômico, a decisão sobre o que fazer após a escola é difícil, no contexto atual o desafio é ainda maior.
Em gerações anteriores, havia o entendimento tácito que entrar no ensino superior era garantia de salários mais altos e relativa estabilidade. Essa percepção já não existe mais.
O contexto não ajuda. Apesar de o desemprego ter caído para 7,7%, a taxa de participação na força de trabalho ainda está abaixo do nível pré-pandemia.
Se todos os trabalhadores de antes da pandemia voltassem a procurar emprego, a taxa de desemprego seria de cerca de 10%, segundo Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Estatística da Fundação Getulio Vargas).
Essa situação pode gerar desperdício de capacidade de crescimento econômico e dificuldades na reintegração dos trabalhadores afastados.
Além disso, a maior parte dos empregos gerados após a crise de 2016 foi na informalidade, que atinge trabalhadores com baixa qualificação e baixo acesso a tecnologias, de acordo levantamento do Ibre/FGV.
Esses trabalhadores acabam produzindo menos que os formais e contribuem para a queda da produtividade média da economia. Estima-se que mais da metade da redução da produtividade desde 2014 se deve ao aumento da informalidade, principalmente em setores como construção e transportes.
Diante disso, é fundamental que os jovens tenham acesso a informações confiáveis e orientação adequada sobre as possibilidades e as exigências do mercado de trabalho, bem como sobre as características dos cursos superiores e profissionalizantes.
Nesse sentido, a educação brasileira para além de ensinar conteúdo para provas, deveria ser capaz de fornecer habilidades úteis para um mercado de trabalho em constante mudança.
Não parece que estamos indo nessa direção. Apesar de boas ideias estarem sendo discutidas no Ministério da Educação, como um programa que oferta bolsas e a criação de uma poupança educação, há mudanças pouco positivas em vista.
A proposta de retomar o modelo de uma educação conteudista, repleta de disciplinas obrigatórias para atender demandas corporativas, ignora a necessidade de reformas significativas.
O cenário atual da educação brasileira já demonstra resultados insatisfatórios, apesar dos vultosos investimentos na ordem de R$ 2,2 bilhões por dia útil. Ao analisar os gastos em contraste com desempenho, o Brasil se destaca como o país com o sistema educacional mais ineficiente do mundo.
Não há duvidas que mudanças precisam ser feitas. A mentalidade do bacharelismo, defendendo o excesso de matérias obrigatórias e diplomas vazios permeia as decisões educacionais, tanto nos governos quanto em muitas famílias.
Por exemplo, ofertar cursos em locais onde não há mercado de trabalho consolidado na região pode levar o recém-formado a migrar de região ou a buscar um emprego que não utilize nada de sua formação.
Ou ainda, encher a grade curricular de matérias obrigatórias, ao mesmo tempo que não se garante o aprendizado sólido em linguagem e matemática.
Similarmente, pressionar um adolescente a escolher uma “carreira tradicional”, sem qualquer conexão com suas aptidões ou com a realidade do mercado de trabalho, gera adultos frustrados e improdutivos para o país.
Em contraste, uma educação que leve em consideração as habilidades e preferências dos alunos é transformadora.
Os desafios são significativos, mas não podemos subestimar a capacidade da juventude em se adaptar e inovar. No entanto, é essencial fornecer-lhes as ferramentas e o apoio necessários para que possam trilhar caminhos profissionais que estejam alinhados com seus talentos